quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O Carnaval, O Solitário e O Maluco

Ontem, como sempre fiz, ao acabarem os noticiários noturnos, desliguei a televisão e abri um livro qualquer de minha escolha para me fazer companhia pelo resto da noite. Era "O Viajante Solitário" por Jack Kerouac. Uma obra prima descrita por um homem que prezou sua liberdade até os últimos minutos de sua vida. Um vagabundo iluminado, como se autoproclamava, ele percorreu as mais insólitas viagens pelo mundo em busca de autoconhecimento e compreensão da realidade em que vivia. Isso foi nas décadas de 1940 e 1950. O mundo era diferente, as coisas eram diferentes. Descobertas assim são mais difíceis hoje porque nos preocupamos demais em nos socializarmos a qualquer custo, e esquecemos a grande virtude do estar só, do silêncio absoluto, do contato com seu Deus, seja qual for, e sua resposta mais divina: O mesmo e famigerado silêncio. Eu tenho pena dos homens de hoje, eu não os odeio, e não os amo. Apenas tenho pena. São incapazes de por a cabeça sob a relva e observar o céu, de ouvir uma queda d´agua, de observar, tão somente, sem se entediar e ligar a porra de um celular. É uma maldita alma plugada em algum instrumento de vício.

Não se pode só falar sobre isso. Às 23 horas, terminei meu livro e me aprontei para a cama. Procurei um velho DVD para assistir (eu também sou escravo dessas coisas), optei por dar uma chance ao "congelado" televisor, ou LCD, ou seja lá como queiram chamar-Carnaval- Chegamos ao Carnaval. Havia me esquecido disso, talvez por não acompanhar com tanta assiduidade os meios de comunicação, por não ter visto a Mulata "Globeleza" requebrar-se como uma cobra eletrocutada como em outras oportunidades, ou por não ouvir alguns cretinos dizerem que irão para Salvador, sem razão alguma, para ser um "folião", ou um beijador no meio de outros cretinos, mijões, beberrões e farristas. No noticiário, claro, vemos que está chegando. Sempre há uma reportagem sobre as ruas de Olinda, os Trios Elétricos de Salvador, os blocos no Rio, Minas, São Paulo etc...Que falha tremenda a minha, não perceber a aproximação da festa mais sensual do ano. Lembrando-me daquelas vezes em sentava junto a meu pai para assisitir aquele festival de genitálias e seios expostos. Era muito bom. Pouco sabia sobre a evolução da bateria, sobre o enredo, ou se havia muitas plumas e paetês nos carros alegóricos. Eu me hipnotizava com aquelas Deusas de ébano das favelas locais, ou pseudoatrizes de merda da televisão requebrando seus maravilhosos corpos naquela tela de vinte polegadas da minha velha TV. Que ótimo, existe algo que me marcou nestes últimos quase trinta anos de carnaval: A beleza das passistas. Me faz até esquecer da grande babaquice e oportunidade de autopromoção que o carnaval se tornou nos últimos anos. Tem gente dando tudo que pode ao cirurgião plástico pra não fazer feio nas passarelas pelo Brasil. Tem que se respeitar muito essa gente. Para elas o Carnaval virou puro business, que exige investimento em troca de ensaios em revistas, entrevistas, papéis em folhetins de merda na televisão. É, pensei demais. Fui dormir.

Todavia, nem tudo é crítica. Temos um período para descansar, e se você for esperto o suficiente pode se afastar desta "Sodoma e Gomorra" moderna e estender seus pensamentos, colocando-os em dia. Afinal de contas, é um feriado, não? Ser solitário tem suas vantagens. Permitam-se o silêncio, dêem-se tempo para pensar, entenderem seu semelhante e seus defeitos, entender seus próprios defeitos. Só o silêncio dá esta oportunidade. Hoje em dia o silêncio é escasso, e toda a oportunidade de tê-lo é uma dádiva, e quem o busca não deve ser conotado de modo algum. Certa vez me disseram que levo jeito pra maluco. Não me senti ofendido, pois o maluco referido nada mais seria do que um introspectivo Ser, uma pessoa que não socializa mais por socializar. Alguém que busca refúgio em sua própria mente não pode ser um pária. Tenho amigos, tenho pessoas que de mim têm de tudo que possa dar. Afeto é a minha maior benesse a todos. A minha introspecção e paixão pelas minhas próprias idéias, préconcebidas ou não sobre o mundo, não são, em hipótese alguma, uma promessa de loucura futura, e sim de maior autoconhecimento que não será afetado pelos excessos do mundo e das pessoas de hoje.

O dia chegará em que todos nós teremos essa necessidade. Contudo, o mais cedo que isto ocorrer, melhor. Criaturas superficiais abundam na terra, e não é um Carnaval bem "pulado" que irá fazer seu resto de ano mais feliz. Na verdade ocorre o oposto, ao não se perguntar o por quê das coisas, pode-se facilmente cair na falácia da felicidade falsa, aquela que só ocorre após o homérico porre, após o sexo sem sentido, após a música alta e disforme em seus ouvidos. Ocorre o engano da mente, a supressão do Eu e a ascensão do Nós, o fim da personalidade própria e o início do ser carismático, já tratado em outro texto por aqui. É só uma escolha, nada mais. O pré-Maluco tinha de escrever isso. Bom Carnaval a todos!

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