quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O Voto Ignorante

  Da incompetência latino americana para entender suas mais reais necessidades, eu já sabia. Ela, de tão contumaz, já vitimiza este povo sofrido por décadas, desde as mais variadas independências, heróicas até por demais do crível, passando pelo ditatorialismo caudilhista do século XX, até os dias de hoje. O que mudou? Houve evolução? Às vésperas de mais um processo eleitoral, a maior democracia da América do Sul, o Brasil, sofre com uma crise ideológica jamais vista antes, muito embora seu povo permaneça afundado numa impertinente ignorância, contraditoriamente.

  O voto direto como meio de escolha de um governante ou representante é indiscutivelmente a forma mais correta e justa de um povo eleger seus dirigentes, e neste ponto o Brasil, desde 1988, ano de sua ultima assembleia constituinte, é tácito em impor a democracia como sua forma e estilo de governança estatal. Uma miríade de políticos controlam esta dança caótica sob a qual nossa democracia se sustenta, e muitos deles se perduram há décadas, numa frenética mudança de cargos eletivos, onde as necessidades da nação são postas em segundo plano, em detrimento de interesses escusos, obscuros, diria até. De fato, a democracia foi porta para muitas liberdades individuais e igualdades de direitos. No entanto, esta porta, de tão escancarada, foi explicitamente usada como meio de meros interesseiros, mercadores do poder, entrarem na dinâmica do Estado com um discurso pretensamente liberal mas, na verdade, focado única e exclusivamente na perpetuação de partidos e grupos no poder perenemente.

  Ora, a democracia é, como dito acima, a forma mais justa e direta de se governar um país. No entanto, creio que a América Latina não estava pronta para esta governança "do povo". É importante frisar que para que um sistema democrático evolua dentro de uma nação o sistema de votos deve ser puramente voltado para a licitude, e cabe ao votante fiscalizar seus eleitos de forma ostensiva, acompanhando seus projetos, no caso do legislativo, e promessas, no caso do executivo. Na política, nem tudo que é prometido é viável. Como, numa nação de centenas de milhares de indivíduos abaixo da linha desejável de educação, podemos esperar um acompanhamento correto das ações políticas tomadas neste país pelos governantes eleitos? Parece-me pouco provável exigir do povo brasileiro, e latino americano, quaisquer iniciativas para se desenvolver um processo democrático pleno, dadas as condições culturais que nos encontramos.

  Num país como o Brasil, o legislativo existe na esfera Federal, estadual e municipal como meio de não só criar leis, mas como meio de fiscalizar as ações do poder executivo. Câmaras de vereadores, deputados, federais ou estaduais e senado federal atuam, primordialmente, como elementos regulatórios que representam diretamente seus eleitores contra os mandos e desmandos da administração pública que, por sua vez, faz o que pode, dentro de um orçamento, para implementar melhorias à vida da população em geral. Na prática, resumidamente, deveria funcionar assim. Mas, de fato, não funciona.

  Quando elegemos vereadores, deputados e senadores, quase sempre, elegemos por um partido, por uma ideologia, por um punhado de promessas. Está errado! Devemos eleger nossos representantes no legislativo pela quantidade de projetos e a viabilidade dos mesmos, caso sejam eleitos. Projetos de leis podem e devem ser plataformas de candidatura dos postulantes às câmaras, e infelizmente poucos destes apresentam projetos reais de lei que possam melhorar a vida como um todo da população. Em pleno século XXI, votar por ideologia, seja qual for, de esquerda, de direita ou de centro, me parece ser de um atraso atroz. A ideologia não move o caráter de um político. Há canalhas em todas as vertentes da ideologia humana, e não é um nacionalista contumaz, ou um liberal de cartilha que farão as coisas mudarem. Na verdade, quem se prende demais a ideologias na esfera política e em geral deve ser visto com muito cuidado. 

  Voltando à América Latina, quantos destes ideológicos caudilhos não se perpetuaram no poder, até por meios sanguinários, por tantos anos? Muitos deles estiveram no poder até pouco tempo, sendo freados pela morte ou pela própria incapacidade de gerenciar uma nação, natural de um ditador. Portanto, deve se partir da premissa que os partidos políticos, como um todo, são meros veículos de escolha de um candidato. O que importa mesmo é saber da lisura do postulante e dos seus projetos. O que vemos é que continuamos errando na escolha dos candidatos. Sarneys, Malufs, Tiriricas, Suplicys, Serras e até mesmo nosso ex-presidente Lula são figuras carimbadas na política, de forma exaustiva, os mesmos não desaparecem, não dão espaço para novas idéias e novos políticos. A falta de renovação na politica brasileira deveria ser assunto mister entre as pessoas com o mínimo de cultura. Homens velhos com idéias velhas já não podem mais figurar no cenário político nacional. Coloquei o Tiririca no bolo pois ele é um oportunista, um elemento simbolo da imbecilidade brasileira ao votar em seus representantes. Como ele, há vários nestas eleições pretendendo uma boquinha do já suado dinheiro do contribuinte brasileiro, elegendo-se para cargos de imensa responsabilidade sem terem a minima preparação para tal.

  O que leva o brasileiro a votar tão mal? Seria a ignorância nua e crua? Seria um protesto estúpido (onde já se viu protestar jogando o voto fora?)? Seria um desejo inconsciente de destruir o país? Enfim, é possível ter certeza que muitos dos votos advindos de regiões mais carentes do país são obtidos por meios nada ortodoxos e por mais que o TSE tente coibir a compra de votos, o suborno de autoridades e as fraudes eleitorais, é muito difícil numa nação continente fiscalizar cada pequena eleição de cada pequeno município e estado da federação. Ou seja, políticos espertos se candidatam por estados mais pobres, como forma de conseguir o máximo de votos de gente com menos educação possível. Muitas vezes, os políticos que lá se elegem mal têm residencia nestes locais, o que torna a fraude ainda mais evidente. 

  Muitos eleitores não sabem, mas os legislativos do país são as moradas dos maiores casos de corrupção vistos diariamente em escândalos, atrás de escândalos noticiados em vários veículos da mídia. Ainda assim, como que um Maluf ainda aparece em rede nacional pedindo votos? E como ele os consegue? O povo do estado de São Paulo, supostamente o que tem os melhores índices econômicos e educacionais da nação, ainda vota num homem com mais escândalos políticos nas costas do que dentes na boca. O que dizer então de Anthony Garotinho no Rio de Janeiro? E pasmem!!! José Roberto Arruda, no Distrito Federal, terra de gente bem colocada e educada nos mais altos cargos públicos, com renda per capita altíssima. Como isto ainda ocorre, em pleno século XXI, pretensamente a era da informação? Pois todos agem como desinformados.

  Enfim, ainda recrimino aqueles que na forma de protesto, dizem anular seu voto ou votar em branco. Ora, tantos lutaram há tantos anos para que este momento enfim chegasse para que seu voto fosse desperdiçado? Ou melhor, utilizado por coeficientes eleitorais para elegerem-se mais canalhas de terno e gravata? É melhor justificar e não comparecer às urnas. São atitudes como esta que demonstram o quanto a América Latina estava despreparada para a democracia. Nosso sistema politico corrompido, nossas economias devastadas, nossos índices sociais vergonhosos...tudo isso tem uma raiz e ela compreende toda a nossa falha como um povo nas decisões que mais importam para nosso bem estar. O Brasil precisa muito mudar. O continente também, mas o Brasil ainda mais. O partido vigente no governo federal não fez um mau trabalho no computo geral, mas falha miseravelmente em não querer sair do poder. A renovação é necessária para que as mudanças sejam implementadas, e politicamente o Partido dos Trabalhadores já está com sua imagem desgastada. Está na hora de se reciclar, assim como tudo na vida, e mudar os conceitos do partido. Os mercados, que são tão importantes para as economias das nações de hoje, clamam por mudanças no Brasil. Estas mudanças passam por reformas de ordem politica, com redução dos partidos nanicos, tão conhecidos pelas suas contribuições aos índices de corrupção. Reformas de ordem tributária são misteres para o desengripamento das engrenagens na atividade econômica brasileira. O país está estagnado porque está afundado em burocracias e alta carga tributária. 

  Se faz necessário, também, o investimento maciço em educação. O Brasil é um país em que o povo carece de cultura, de modos e de tempo investido em capacitação profissional. Sem isto, o desemprego será muito alto no futuro, até pela falta de mão de obra qualificada. Assim, voltamos ao cerne da questão, e concluímos que um povo que vota mal é porque é mal educado, aculturado, descomprometido e sem perspectivas de melhora. No entanto, se faz necessário um esforço nacional, sob forma de protestos, por entidades de classe, centrais de trabalhadores e fiscalização do público em geral para o trabalho dos políticos como um todo. Desta forma, aqueles que não rendem serão expurgados da política, abrindo espaço para novas mentes e novos horizontes nestes país e continente tão jovens. Precisamos mudar, de fato. mas começamos a mudar da urna em diante. 




quarta-feira, 21 de maio de 2014

Associe-se à Sociedade!

Da sociedade atual só acumulo desencanto. O que esperávamos que nos tornássemos após uma década inteira de excessos e de informação vasta? Ver que a ciência da escassez não mais lida com ela, e despeja seus dogmas no excessivo poder de compra da população, nos faz crer em prosperidade, mas também em derrocada de principios pelo simples desejo de ter, e não de ser.

Ver a escassez é como uma reeducação do que é mais inerente à humanidade atual, e perceber que o restante de uma população grande neste mundo sofre com ela. A falta do superfluo atiça o sentimento de igualdade, que por sua vez regula a sociedade num parâmetro de comportamento servil, de fato, mas condizente com o sentido de comunidade. Acredito que o excesso tem nos liderado para o egoísmo desenfreado, além de nos tornar egolatras compulsivos, buscando recompensas a cada ato raro de altruísmo displicente . Até mesmo a humana arte de conceber, reproduzir, está ameaçada por esta crescente cultura do "Eu" moderna.

A ideia de que as pessoas possam deixar de pensar no próximo parece absurda, mas está pautada num estilo de vida centralizador, que mata as emoções humanas em detrimento de um comportamento superficial perante as urgências da maioria. Existe a morte do sentimento de humildade, da parte de um todo que destrói o conceito universal de que somos nada mais ou menos que pó num universo vasto e disperso em coisas jamais alcançáveis pelo homem comum. Estas noções tem começado cada vez mais cedo nas cabeças mais jovens com a vã cultura da pequena celebridade que atinge a atenção da maioria. Sim, estou falando de redes sociais.

Ver os jovens trabalhando suas imagens, tais quais as celebridades o fazem, criando pequenas ilhas de isolamento é passível de fobias mesmo. A maior das maldades com um jovem é priva-lo do contato social e dos xistes juvenis que ajudam as mentes mais jovens a evoluirem. A urgencia da postagem tira qualquer ambição de se ter coisas particulares, até mesmo problemas pessoais, já que todos sabem dos males de todos. A intenção de ruminar suas questões em familia, ou só, é fator importante para as resoluções das mesmas, e o simples fato de um particular expor seus anseios a um coletivo faz daquele problema alvo de deboche alheio. É como um isolamento em publico, como estar cercado de pessoas e ao mesmo tempo solitário.

A imagem que um passa se torna menos importante que seus credos e intenções, num mundo tão hostil. Na verdade, esta hostilidade em nível mundial encontra base no egoísmo das pessoas, e seus anseios cada dia mais inatingíveis. A vida em sociedade está morrendo, à medida que nos encontramos cada dia mais escravos de nossos desejos e da atenção de todos a nossos passos mais ordinários. Será, prevejo, uma era prolífica para os psicologos e profissionais da mente humana. Perceberemos, em breve, que tudo aquilo que projetamos ser não passa de um truque de nossas mentes escravas do ego e a partir daí entraremos numa espiral de destruição de nossa autoconfiança, tornando-a inábil para as coisas mais simples da vida, tal como ter uma vida social, ter um filho, uma família...

A destruição da capacidade de assumir compromissos vem de uma insegurança mordaz, calcada na falta de preocupação com o próximo. Esta noção de que o mundo é uma grande prostituta e nós os clientes é fator preponderante para a derrocada da sociedade atual. Perdemos a mão com a internet, com os calabouços do consumo irresponsável, do crédito infinito e da nossa necessidade de estarmos sempre no centro das atenções. Ter visto a escassez, e como ela afeta a vida em sociedade me fez refletir. Ver que a busca incessante por uma "vida boa" passa por querer, antes de tudo, o bem do próximo. A felicidade, na atual sociedade ocidental-cristã, passa muito pelo desejo de acumular capital, de estar acima dos outros, de ser um sucesso profissional, ter dentes brancos, sorriso boçal e interminável, patrocinado por observar seu ganho, por meios éticos ou não. Neste ponto vemos até um adendo na corrupção humana. Sim, o excesso corrompe!

Seria necessário que a humanidade voltasse a sentir falta daquilo que hoje é abundante para que nós entendêssemos a lama na qual estamos nos afundando. Contudo, é fato que de toda esta imersão no culto ao ter gerará algum tipo de reflexão futura, espero assim, já que a humanidade percebe que os preceitos de caridade, amor ao próximo, amor incondicional e altruísmo deram lugar a um sentimento nojento de auto promoção, auto amor exagerado, auto confiança excessiva e falsa, ambição desenfreada e falta de companheirismo. Tudo isso perdemos com esta cultura nefasta da utilização de ferramentas que em tese estão disponiveis para nossa evolução, muito embora as utilizemos para disfarçarmos nossa infelicidade latente.






quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Um Dia Quente, Um Homem Tosco.

Do escaldante sol do meio-dia procurava abrigo dentre as árvores obscuras de uma cidade bucólica. Sentia o ardor do raio mais escaldante, sentindo bolhas rançosas de suor escorrendo pela minha testa, rosto e pescoço. A respiração agonizante dos pulmões inalando o mais pútrido ar advindo das massas de ar quente dos trópicos, engrossando o sangue e a agonizar o mais atentos dos seres, com devaneios confusos sobre um maldito dia de verão.

As migalhas pedidas por uma pobre vitima de insolação, em forma de brisas esparsas eram a tonica daquele fastidioso dia, como a mendigar um frescor vindo das montanhas, que não estavam lá. Com passos erráticos, eu me dirigia a algum lugar que não sabia. Esta é a melhor forma de se chegar onde nunca estive, mas havia alguns obstáculos. Ao longe, vejo uma mãe a ninar sua cria, já enfastiada pela onda calorifica a lhes castigar o couro. Aquela criatura pequena não chora, ela guincha, como a pedir um quinhão de frescura e sua mãe se desdobra em atos inconscientes de proteção vã. É como ver uma leoa abrigando seus pequenos leõezinhos na savana sem fim, como a querer disfarçar o território hostil sob o qual vivem.

A distância cada vez maior daquele desespero infantil me alivia, e ao sol peço trégua. Admiro e odeio sua importância mordaz à raça humana, e às civilizações que tanto o exaltava como divindade. Ele nos alimenta, nos aquece, nos protege...mas nunca desejei tanto sua morte, Deus sol. As árvores, de repente, começam a pitorescamente dançar a um rastro de vento vindo do oceano. Seria um preludio de uma tempestade? A idéia de sorver líquidos pluviais me seria um alento para uma agonia gritante. A chuva torrencial num dia tórrido...que maravilhoso jogo de palavras não? Sim, como diria Travis Bickle, um dia virá uma chuva tão forte que lavará estas ruas fétidas, repletas de traficantes, cafetões, prostitutas e ladrões. Um dia...

Mas não era a tempestade que se anunciava. Era só mais uma lufada de ar quente a me esturricar e empoeirar a pele. Lembrei-me da Legião Francesa, em suas incursões pela África Setentrional, desbravando o Saara, expandido o poder franco colonialista. Seria somente a diarréia, ou a tifo? Ou foram eles não só açoitados pelo tuaregues, mas também pelo calor e sua lenta consumação do corpo humano? Lembrei-me também de Rommel, e suas leais tropas na mesma região, durante a segunda grande guerra. Que destino, o destes homens. Mas eu não atravessava um deserto. Tampouco estava sedento, nem numa batalha. O que me açoitava eram os pensamentos, os fantasma de outros dias. Dias estes mais frios, mais quentes...pouco importava. Eram dias piores, eram dias melhores.

A guerra, em si, era pessoal, contra meu pútrido sangue a perder a batalha contra o sol, contra meus mais promíscuos pensamentos e contra meu passado latente. Eu só culpava o sol, assim como culpo a tudo e a todos, pela injustiça do mundo, pelas mazelas da sociedade, pela violência descabida, pela falta de amor, companheirismo e honestidade que nos assola. A guerra é contra uma sociedade que não nos quer vivos, não nos respeita e não vigora. Quem culpará o sol, o calor ou a chuva. A culpa é nossa! Nós e nossos pequenos problemas, que relativizamos e achamos muito importantes, como se significássemos algo para este imenso universo. Ledo engano. O sol tem mais importância que toda a pequena e reclamona forma de vida deste planeta. Ah, mas que calor desgraçado! Sigo adiante, reclamando...

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Quais Meios Te Levam a Deus?

    Certa vez me disseram para procurar Deus, que eu estava adoentado da alma. Pensei profundamente sobre este pedido, refletindo minuciosamente as consequências de uma comunhão tardia com o que há de mais puro no sentimento humano sobre as questões do universo, da vida e da morte: a religião.

    Não tenho vocação para ser um homem comprometido com a fé cega e desesperadora. Por outro lado, também não me perco na incredulidade ignorante, que cega os homens e os fazem crer somente no terreno, no material e na superficialidade vista pelos seus olhos humanos e limitados.  Prefiro me encaixar no meio, crendo na imensidão e, ao mesmo tempo, na pequenez humana como a prova vigente da existência de uma força maior que rege este infinito universo, cercado de mistérios e coincidências acachapantes, que nossos cérebros não conseguem e jamais conseguirão compreender, de fato.

   A limitação humana é tal, que precisamos criar barreiras, fronteiras, até mesmo para que possamos exercer a fé numa força superior, como citada acima. Estes obstáculos criam uma zona de segurança, uma maneira fácil de coordenar nossas questões mais sem resposta, tais como para quê fomos colocados nesta terra, para onde vamos após sairmos dela e quais são nossos objetivos, uma vez vivos.

   Falando como um ocidental, nascido e criado dentro da filosofia cristã, nós seguimos um padrão de fé bastante lógico. Cremos numa força chamada 'Deus', que rege este universo, mais particularmente, este planeta, e que colocou seu filho aqui para ser morto pelo império dominante à época. Ou seja, Deus, de uma forma nada humana, põe um fruto seu num mundo que não o quis, algo impensável para nós,.humanos egoístas, que somente queremos que nossas crias sucedam num mundo que também lhes é irascível.  Dizem os cristãos que somos à forma e semelhança Dele, e como tal, devemos segui-lo e ama-lo, mesmo sem vê-lo, ou de muitas formas, senti-lo presencialmente. É uma dicotomia, de fato, mas que põe à prova tudo aquilo que a humanidade sempre pregou como mister em sua existência: a fé. Assim como esperar as chuvas para colheitas mais fartas rezava-se para o "deus chuva", o seres humanos atuais rezam para seu Deus para que consigam a casa própria, ou então para que a internet não caia. Vejam, Deus não mudou. Os problemas humanos mundanos, sim.

   Voltando ao cristianismo, o mesmo é um poço de incoerências, mas entende-se muito disso pela história. O que é que mais mexe com a psiquê humana? O que nos move como organismos vivos? O poder, é claro! O poder está para o ser humano assim como dejetos estão para moscas. Ele os atrai, os corrompe e os trai, por vezes. No fim, o cristianismo começou com uma forma de mostrar ao mundo que um homem de carne e osso, como qualquer outro, morreu pelos nossos pecados, sendo enxovalhado deste mundo por um bando de estúpidos politeístas, que estavam afundados e decadentes pelo próprio poder (vêem a correlação?) e cobiça. Ora, Jesus Cristo era um homem intangível, um homem com fé inimaginável. Um homem que foi tentado, usurpado, traído e ousou fazer o bem quando o mal regia. É um estória maravilhosa, esta, e nos faz pensar o quanto a humanidade é promiscua e sabedora dos pecados que comete, e ainda assim persistem neles.

   Não me interesso pelas parábolas bíblicas, nem pelas suas estórias de dificil assimilação e nem por seus eufemismos moralistas. Me interesso, sim, pela trajetória de Jesus. Ainda que não o considere reencarnado, entendo que sua imagem, palavras e atos devem ter feito grande diferença num período obscuro da nossa história, que levou seu legado às fronteiras mais distantes, numa época onde a comunicação e as noticias eram dadas por cronistas que aumentavam tudo que ouviam. Creio que, numa região onde o judaísmo era a religião vigente e o império romano julgava seu povo, deveria haver uma opressão tremenda sobre as pessoas, além da fome e pragas, que um ser humano como Jesus Cristo poderia muito bem ser um especial no meio de tantos. Ele pregou coisas que jamais houveram sido ouvidas, ele praticou a caridade, a justiça, o não julgamento e o perdão. Há coisas mais ausentes na humanidade que estas qualidades citadas? Pois bem, ele o fazia.

   Após sua morte, algo comum naquele período, numa crucificação desumana, assassina e terrível, acredito que toda a região tenha entendido a barbárie por trás daquilo, inclusive os romanos. A transição da Roma politeísta herege para a Roma cristã deve ter sido bem automática, visto que após a morte de Jesus há relatos de "conversão" instantânea, já que muitos acreditaram na ressurreição do mesmo, e levaram pra casa suas estórias, aumentadas e, por vezes, contadas com muitos excessos. Como disse, não contesto Jesus, e sim os cronistas da época. Após este período, foi fundado o cristianismo como conhecido atualmente, na figura da Igreja Católica, e a posteriori, muitas das suas dissidências.

   O catolicismo foi fundado na oportunidade de direcionar uma sociedade em decadência, num período que compreende o ano de 300 a 350, e os ensinamentos da Bíblia Sagrada, escrita pelos apóstolos (seguidores) de Jesus, fora sua base para a criação de uma religião sólida, com os preceitos do perdão, justiça, amor ao próximo, humildade, decência, compreensão, caridade e castidade. Eram conceitos perfeitos para um império que estava morrendo pela cobiça, ambição, promiscuidade, corrupção, ambiguidade sexual e violência desenfreada. Neste ínterim, os ensinamentos da Igreja foram elementos mister para a formação de uma nova sociedade européia, que deu origem à sociedade cristã atual, e que foi a viga mestra para todo um comportamento humano durante a idade média. Também conhecida como era das trevas...

   O problema do catolicismo é que ele foi regido por homens. Ora, regido por homens e devastado pelos defeitos do homem, como um todo. Como dito acima, o poder é a grande cobiça humana e por meio dele ocorre a putrefação da alma, a corrupção do bem e a cobiça pelo o que é do outro. Durante a idade média, o catolicismo muda de figura, ignora quaisquer preceitos cristãos, e oprime a sociedade mediana, com o apoio de Reis e Imperadores, sedentos de poder, que usavam a fé humana como meio de se manterem por mais tempo poderosos. A relação entre a Igreja e os Reinos e Impérios ficavam cada vez mais promíscuas, tornando o catolicismo, além de uma religião, uma emanação política, que se juntava aos fortes com o mero motivo da troca de interesses e dominação de outros Reinos e Impérios. Perdeu-se, portanto, toda a função de uma religião.

   Não era absurdo vermos Cardeais, Bispos e Párocos em relações promíscuas com membros de cortes européias, inclusive com a sangria de tributos pagos indevidamente às coroas, criando templos inimagináveis à época, como forma de demonstrar o poder de Deus e da fé. Templos não demonstram nada, mas para uma população com nível de analfabetização acima dos 90%, na época, algo tão grandioso devia causar calafrios e demonstrações irrestritas de fé que fariam da Igreja a instituição mais poderosa do mundo até o século XXI. A ignorância vigente e a propagação de pragas e pestes pela simples questão da falta higiene, era de forma oportunista utilizada pela igreja para amedrontar seus devotos, dado que a ciência era algo que somente egrégios tinham acesso, e era extremamente de rara aplicação. Neste período, a castidade era algo muito valorizada, e esta busca incessante pelo controle comportamental da sexualidade humana gerou uma série de poderes que a igreja colocou em prática, numa busca ensandecida por falhas nas pessoas, para que elas fossem queimadas, torturadas e mortas. Era o período da Inquisição Espanhola. Ora, não nos parece um tanto ironico e contraditório que uma religião busque matar seu rebanho "desgarrado" de uma forma tão cruel, tal como seu maior profeta morreu? Será que Jesus, na sua bondade infinita, gostaria que um de seus semelhantes fosse torturado, queimado e morto por somente questionar o mundo? Por ter idéias destoantes? Ou por ser feliz com sua sexualidade? Me parece uma dicotomia perversa.

   Dando um salto na história, a promiscuidade do catolicismo com o poder político chega ao extremo durante o período nazi-fascista na Itália e Alemanha do início do século XX. Vale lembrar que ambas as visões (tortas) políticas pregavam antissemitismo (Jesus era Judeu) e purificação racial a qualquer custo. Ou seja, quantas mortes ainda teremos em nome de Deus na boca de uma meia dúzia de déspotas com apoio de lideres religiosos? Pois nesta época ocorreram milhões delas. Recentemente, a Igreja Católica pediu desculpas ao mundo por ter apoiado estes regimes assassinos por tanto tempo. Entende-se que o catolicismo buscou de fato uma soberania quase que territorial no mundo ocidental, oprimindo por muito tempo seus fiéis, perdendo alguns, mas mantendo uma superioridade por dizer ser a religião que expressa melhor o cristianismo em toda a sua essência. Infelizmente, por anos, o declínio da fé humana por causa da ciência, que desvendou tantos mistérios, fez com que a Igreja fosse forçada a se reformar, levando a Santa Sé a rever sua forma de encarar sua expansão.

   A catequese deixou de ser forçada, pois era algo que trazia mais e mais o ser humano pro lado pecaminoso. A fé passou a ser opcional, o que dá ao ser humano aquilo que foi mais ensinado na base do cristianismo: o livre arbítrio. A partir do século XVIII, a igreja passou a entender a ciência como uma aliada na busca pelo conhecimento humano, o que nos trouxe grandes avanços em termos tecnológicos, fundando a sociedade cristã moderna, baseada no capitalismo e na livre iniciativa, que pode ser injusta mas é mais justa que outras formas de vida em sociedade. Adquirir conhecimento não mais se tornou uma heresia e sim uma necessidade para o fim da ignorância que tanto ancorava o crescimento da humanidade. Nada, porém, irá apagar o declínio do cristianismo no mundo, com seus métodos antiquados de ensinamentos, e suas crueldades passadas, desde a idade média, pisando nos preceitos cristãos na obtenção de riquezas, poder e território, patrocinando guerras e conflitos.

   Durante o século XVI, a teologia começou a pensar numa dissidência do catolicismo vigente, e alguns novos pensadores cristãos brotaram na Europa deste período. O reformista João Calvino foi o grande expoente desta ordem de pensamento distinto que, principalmente em nações maiores da continente, teve seus ecos mais ouvidos. Resumindo, o pensamento calvinista deu origem às igrejas evangélicas e batistas de hoje, que pensam o cristianismo como forma clara de crescimento espiritual, mas não abandonando alguns preceitos terrenos. O protestantismo ganhou força nesta Europa assolada pela Inquisição, por levar a cabo alguns preceitos retrogrados, tais como a manutenção da ignorância popular como meio de perpetuar poderes e a obtenção de riquezas pelo povo como meio justo de viver em harmonia em sociedade. Ou seja, cada individuo poderia ter suas particularidades seguradas pela sua habilidade em adquirir conhecimento e coloca-las em prática para obter seu sustento, podendo viver livremente, praticando seu amor a Deus e seu semelhante, sem ter vergonha de suas intimidades e de adquirir coisas para si. Ou seja, ser rico não era pecado. Trabalhar, adquirir, obter e crescer economicamente não era pecado. Planejar sua família com sua companheira não era pecado. Querer obter conhecimento também não era pecado.

   Ou seja, era como uma evolução do catolicismo opressor. De fato, realmente o era, no entanto, com o tempo, o casamento entre o protestantismo e a Coroa Inglesa gerou a perseguição de católicos na grã-bretanha do século XVII até os dias de hoje. Infelizmente, a corrente de pensamento distinto foi fato geradora de guerras e conflitos em nome de "Deus". O pior que pode acontecer a uma religião ou crença é ela se tornar elemento de manipulação política como meio de obter apoio das massas. E a Coroa Britânica soube utilizar-se da corrente contrária da fé para combater seus inimigos, seja por interesse econômico, comercial ou de dominação, seja qual fosse. A partir daí, a disseminação dos protestantes entre os anglo-saxões polarizou a forma de adorar a Deus no mundo ocidental, criando dissidências cada vez mais profundas no cristianismo. Agora, cada homem de fé poderia ser ministro de sua igreja, atraindo fiéis das mais distintas fés para seu rebanho.

   O protestantismo se perdeu a partir do momento onde a acumulação de capital tornou-se seu preceito mais forte, impondo aos seus fiéis um recato moral físico, mas um desejo quase que promiscuo em obter recursos para si, como se o monetário fosse algo importante na crença universal em Deus. De fato, não deveria ser. O materialismo imposto pelos protestantes ecoa até hoje nas mais diversas formas da religião em muitas partes do mundo. Oportunistas travestidos de ministros da fé obrigam seus crentes a doarem somas cada vez maiores de dinheiro para a causa religiosa. Vivemos num período onde a fé é comercial, e pode ser vendida em lotes de graças obtidas. A igreja evangélica virou uma empresa bem sucedida, e os Estados supostamente laicos que as abrigam são coniventes com certas praticas desrespeitosas ao ser humano de boa fé que só procura um caminho espiritual e a elucidação das mais urgentes questões humanas.

   De fato, preciso procurar Deus. Mas a pergunta persiste, por quais meios? Preciso de um sacerdote? Preciso de um ministro protestante? Um pai de santo? Um teólogo? Não sei. Deus, na minha mente limitada e limítrofe não é um ser, não é um homem. É uma força inexplicável que está onipresente em todo o ato humano, seja de bem ou não. Esta força produz nosso alimento físico e espiritual, ela rege as coisas mais necessárias neste planeta e universo. Esta força é imensurável, e a raça humana talvez seja a única a ter consciência do seu poder e ira. Somos seres capazes de mudarmos nosso ambiente, e tudo isso passa pelo poder de Deus, que faz a humanidade mover suas engrenagens a caminho de um futuro para sua espécie. Tudo que sei é que vivemos, morremos e a morte não encerra tudo. É motocontínua a noção de que somos recicláveis e tomamos da terra o alimento e devolvemos o mesmo a ela, sendo instrumento, assim como outras forma de vida menos inteligentes, de propagação da vida no planeta.

   Jesus Cristo, ao menos para os ocidentais, foi nosso homem mais especial. Não é a toa que suas palavras ecoam, mesmo que de forma torta, em alguns casos, por 2000 anos. E nos fazem crer que a humanidade pode sempre melhorar, prosperar e, por um momento, lembrar que seu semelhante deve ser amado e cuidado. Que devemos perdoar o próximo na mesma intensidade com a qual ele nos prejudicou. Que temos que ser humildes e entendermos nossas limitações como seres humanos, ao não nos acharmos tão especiais assim. Que não devemos oprimir nosso semelhante baseado em nada, e que nosso poder é somente dado pelos preceitos terrenos. Ao morrermos, seremos todos parte desta terra, e nossos títulos, moeda, metais...serão todos perdidos e tomados pela simples noção de que você vai embora, mas o mundo continua, apesar de tudo. Isso é crer em uma força superior. É crer que nada e ninguém é tão especial quanto esta força que nos criou e nos permite viver nossos pequenos prazeres terrenos por mais um dia.

   Não preciso procurar Deus, não. Eu, você e todos nós sabemos que ele está aqui. Basta que aceitemos a presença Dele. Não precisamos ouvir os homens e suas crenças tortas. Ouçamos a nós mesmos, e se estamos preparados para esquecermos nossas superficiliadades terrenas e aceitarmos que somos tudo e nada neste mundo.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

An American Prayer (Morrison, Jim)



Do you know the warm progress
under the stars?

Do you know we exist?

Have you forgotten the keys
to the kingdom

Have you been borne yet
& are you alive?

Let's reinvent the gods, all the myths
of the ages

Celebrate symbols from deep elder forests
[Have you forgotten the lessons
of the ancient war]

We need great golden copulations

The fathers are crackling in trees
of the forest

Our mother is dead in the sea

Do you know we are being led to
slaughters by placid admirals

& that fat slow generals are getting
obscene on young blood

Do you know we are ruled by T.V.

The moon is dry blood beast

Guerrilla bands are rolling numbers
in the next block of green vine

amassing for warfare on innocent
herdsman who are just dying

O great creator of being

grant us one more hour to
perform our art
& perfect our lives

The moths & atheists are doubly divine
& dying

We live, we die
& death not ends it

Journey we more into the
Nightmare
Cling to life
Our passion'd flower

Cling to Cunts & cocks
of despair

We got our final vision
by clap

Columbus groin got
filled with green death

(I touched her thigh
& death smiled)

We have assembled inside this ancient
& insane theatre

To propagate our lust for life
& flee the swarming wisdom
of the streets

The barns are stormed

The windows kept

& only one of all the rest

To dance & save us

W/the divine mockery
of words

Music inflames temperament

(When the true King's murderers
are allowed to roam free
a 1000 Magicians arise in the land)

Where are the feasts
we are promised

Where is the wine
The New Wine
(dying on the vine)
resident mockery
give us an hour for magic
We of the purple glove
We of the starling flight
& velvet hour
We of arabic pleasures's breed
We of sundome & the night

Give us a creed

To believe

A nightr of lust
Give us trust in
The Night
Give of color
hundred hues
a rich mandala
for me & for you
& for your silky
pillowed house
a head, wisdom
& a bed
Troubled decree
Resident mockery
has claimed thee
We used to believe
in the good old days
We still receive
In little ways
The things of Kindness
& unsporting brow
Forget & allow

Did you know freedom exists
in school books

Did you know madmen are
running our prisons

w/in a jail, w/in a gaol
w/in a white free protestant
maelstrom

We're perched headlong
on the edge of boredom

We're reaching for death
on the end of a candle

We're trying for something
that's already found us

Wow, I'm sick of doubt
Live in the light of certain
south

Cruel bindings

The sevants have the power

dog-men & their mean women
pulling poor blankets over
our sailors

I'm sick of dour faces
Starong at me from the T.V.

Tower, I want roses in
my garden bower; dig?

Royal babies, rubies
must now replace aborted

Strangers in the mud

These mutants, blood-meal
for the plant that's plowed
they are waiting to take us into
the severed garden

Do you know how pale and wanton thrillful
comes death on a stranger hour
unannounced, unplanned for

like a scaring over-friendly guest you've
brought to bed


Death makes angels of us all
and gives us wings
where we had shoulders
smooth as raven's
claws


No more money, no more fancy dress
This other kingdom seems by far the best
until its other jaw reveals incest
& loose obedience to a vegetable law

I will not go
Prefer a feast of friends
To the Giant family.