sexta-feira, 26 de março de 2010

Versos da Inquietude

Está de "saco cheio"?
Expressão surrada esta,
Intressante a incapacidade e teimosia,
Arrogância e covardia.

Tentar e não conseguir,
Alguém te foge, te evita,
A noção da realidade levita,
Sonho difícil, aterre-se, resigne-se.

Mas a insistência é nobreza,
Agora não se pode parar,
Cade o freio?
Bem, só a estupidez tem certeza.

Teve alguma vez dúvida?
Sim. Estou certo somente,
Da morte latente, inexorável,
O resto é questionável.

Não parar, não retornar,
Logo agora?
Para medíocre se tornar?
A vida é longa, se demora!

Ontem não conquistou,
Hoje mais se afastou,
Amanhã decerto se humilhou,
O sentimento, este nunca se apagou.

Abram-se as possibilidades,
Fim do tédio, das absolutas verdades,
Invista-se no incerto,
De boas aventuras estará repleto.

A vida cobra seu preço,
A morte paga com desprezo.
Desprezo por sua vítima que não viveu,
No ostracismo e flagelado, enfim, morreu.

Abra um vinho,
Um Porto, Cabernet, Merlot,
Aprecie! Seja qual for,
O prazer está a caminho.

Grite em silêncio,
Silencie o grito,
Extravase um tabú,
Expanda limites.

Leia um livro,
Exponha um medo,
Expresse o amor,
Feche a janela, está frio.

Quem sabe um dia consegue?
Ser valorizado, querido,
Pelo que tanto persegue?
Que seja breve, corrido.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Mais Um Dia Brasileiro.

Sempre falei da psiquê do brasileiro por aqui, das idiotices e contrasensos inerentes ao mesmo no seu comportamento perante a sociedade. São coisas de um povo que ainda está em evolução, muito jovem ainda para aceitar os termos de uma civilização moderna como educação, cordialidade, honestidade e senso de comunidade. Ainda chegamos lá.

Por exemplo, ao retirar meu carro de uma vaga de estacionamento por aí, me deparei com uma situação corriqueira, mas que demonstra essa qualidade de cidadão. Olhei para a parte frontal do meu veículo, mais precisamente o parachoques, e vi um afundamento. Naturalmente olhei para o veículo da frente, e percebi que o mesmo carregava um apêndice em sua traseira, mais conhecido como "engate". Aquela bola de aço, envolvida por uma proteção de mesmo material foi a causadora daquele estrago no meu veículo. Dadas as coincidências de altura e o encaixe perfeito da mesma no meu estrago, conclui que aquele veículo havia feito uma manobra de estacionamento que me causara aquilo. Puro descaso. Analisando a fundo, comecei a pensar que aquele motorista poderia ter que puxar alguma coisa, como um barco ou um carrinho de pastel, por isso necessitava daquele item em seu veículo. Depois ponderei de outra forma, quero dizer, existem milhares de veículos por aí usando este acessório, né? Seriam os brasileiros então devotos da arte de rebocar coisas com seus carros? Não, sempre que os vejo por aí dirigindo, só vejo o engate puxando nada mais do que ar. Concluo que seja pura e simplesmente uma questão de egoísmo intrinsicamente nacional. Na verdade, o brasileirinho quer manobrar seu carro, sem se preocupar com quem está atrás, e não danificar seu próprio parachoques traseiro. Ou seja, a famosa frase da lei Gersoniana: Levarei vantagem em tudo! Ou melhor, vou ver o meu lado. Você que se dane, eu vou dar marcha à ré!

Definitivamente, este país não é para otários que nem eu. Depois disso, acho que não resta mais nada em se tratando de carros. Podemos fazer como no filme "Mad Max", lembram? Colocar aqueles espinhos, correntes, metralhadoras etc. nos carros e sair por aí preparados para danificar o bem dos outros, mantendo os nossos intactos. Mas não termina por aí. Um cara de engate estava na minha frente num engarrafamento daqueles bons em SP capital. Ao que pude perceber, o mesmo tomava um líquido refrescante naquele dia calorento. Terminou de tomar, e não se fez de rogado: jogou a garrafa do tipo PET pela janela, aterrissando a mesma no canteiro central, a uns dois metros de um bueiro. Meu sorriso irônico não foi maior do que a vontade de ver aquele ser, à minha frente, entrar em autocombustão e queimar até a morte. Pensei comigo: Este é o mesmo canalha que, quando cai um temporal em SP, enfrenta uma enchente de matar até rato afogado, e sai reclamando do poder público, dizendo ser vítima do descaso governamental com a população. É - pensei - ele tem um engate, pode muito bem decorar a cidade com garrafas PET pelas ruas. Provavelmente, depois de ter tomado todo aquele líquido, deve ter sentido vontade de urinar. Ora, para que segurar? Mija na rua mesmo. Urinar na rua ainda é um esporte dos mais praticados pelos brasileiros, seja em época de festas, ou no dia a dia mesmo, quando têm vontade.

De longe vejo um motoqueiro pelo meu retrovisor. Ouço o barulho da buzina, agudo e estridente já por um tempo. Ele passa do meu lado e, com um chute certeiro, me destrói o retrovisor direito do veículo. Atrás, vem uma outra leva de motoqueiros e, buzinando, passam por cima do meu já esfolado retrovisor, num certo tom de vitória, ou até escarnio. Pensei, o que teria eu feito, aqui parado no tráfego, para merecer uma ato de violência tão extremo assim? Ah, sim. Meu carro estava um pouco a direita, com as rodas quase que por cima da faixa onde os mesmos trafegam, ilegalmente. Não poderia tirar satisfações, a moto já havia sumido há muito. Não poderia consertar aquilo na hora, a peça estava condenada. O que fazer? Nada. Sentar e esperar o tráfego andar. Claro, não esquecendo de analisar aquele rapaz, e sua fúria sobre duas rodas. Seria tão necessária assim a atitude impensada de danificar o bem alheio? Que tipo de lição ele queria me ensinar? Teria ele tido satisfação ao fazer isso? Não era para tanto, ele era só mais um brasileiro. O atentado contra o meu retrovisor talvez representasse toda a tristeza que um homem pode carregar em sua vida, ao trafegar num meio de transporte tão inseguro quanto uma moto. Ou na verdade foi só um meio de expressão de um aspirante a marginal. Seja qual fosse, a atitude foi bem peculiar, e ilustrativa do comportamento do nosso cidadão.

No fim daquele dia, olho para o lado, num semáforo. Um homem me pede esmola, com tremores pelo corpo, denotando um peculiar comportamento de quem está há muito tempo sem o objeto de seu vício. Ele está com uma criança, com não mais que 1 mês no colo. Me vejo numa situação complicada, se não dou o dinheiro, me condeno por estar negando algo benéfico para aquela famigerada criatura pequena. Se dou o dinheiro, igualmente me condeno por sustentar o vício de um homem que precisa de ajuda, e que não vai obtê-la se tiver dinheiro fácil nas mãos. O dilema me durou pouco, dei o dinheiro. Achei que estava me redimindo de meu próprio julgamento ao pedir a ele que fosse comprar roupas para a criança, e para que a tirasse daquele sol de fim de tarde. Doce ilusão a minha. Ele foi se drogar, e aquele bebê vai ficar, mais uma noite, ao relento. Não posso me queixar. Era só mais um brasileiro, e um pequeno brasileirinho, lutando para sobreviver num país onde a sociedade os ignora. Sim, nove em cada dez veículos daquela leva de semáforo não deram nada àquele individuo. Como brasileiro e crítico, acho que para nós, é mais fácil ignorar o problema do que tentar solucioná-lo, acusando o poder público por isso. Chegamos ao ponto de ficarmos tão cínicos, que na esquina seguinte já esquecemos do que vimos. Talvez chegamos em nossas casas, e até dormimos muito bem, com nossos filhos saudáveis e alegres.

Uma sucessão de infortúnios podem muito bem refletir o quanto este país precisa evoluir. Nossa histórica estupidez perante as mais sensíveis questões da nação é uma característica que segue latente, mas dá sinais que está melhorando. Não me vejo usufruindo do grau de evolução alcançado pelas nações européias ou asiáticas aqui no Brasil. É algo que demanda tempo, dedicação e comprometimento do próprio cidadão para com seus iguais. Aquela velha temática do levar vantagem em tudo tem que desaparecer da nossa personalidade. O vantajoso para todos é mais importante e deve prevalecer. É assim que se constrói uma nação. Temos que melhorar!

segunda-feira, 8 de março de 2010

As Minhas Mulheres. Nossas Mulheres. Parabéns.

Quando somos meninos nossa mãe é tudo. Pelo menos a minha foi pontual na minha infância. Me acalentava, me dava a segurança necessária para crescer. Era carinhosa, mas rígida. Sua mão pesada por vezes me açoitava, mas sempre com o viés de direcionar, e não agredir. Mas não é da relação mãe e filho que quero discorrer. Inicio desta forma pois é a primeira e eterna mulher que todo o homem terá em sua vida: sua mãe. Desta mulher parte todos os conceitos que formaremos sobre as outras mulheres, e delas para o mundo. É um mundo feminino, sem sombra de dúvida. Longe daquela babaquice pós-machista que apregoa contrasensos que elas dominam tudo no sentido de querer nos destruir. Não, elas são o nosso sustentáculo. Assim como as mulheres dos guerreiros curavam suas feridas de batalha, elas hoje nos provem o alívio de deixar o mundo mais belo, mais afável, e menos competitivo e duro.

Voltando à infância, me recordo dos primeiros exemplos de mulheres que me deixaram admirado. Além das coleguinhas das quais roubava pequenos beijos e saía correndo, rindo, tinha uma professora de História. Era linda, inteligente e me tratava com muito carinho. Acho que posso dizer que, na minha mente pueril, aquilo poderia ser um tipo de amor assexuado, admiração de soslaio, onde o que me fazia o dia era uma simples passada de mão em minha cabeça, que me desarrumasse os cabelos. Suspirava de alegria. Era uma mulher muito cheirosa, seu aroma impregnava a sala de aula com jasmim maduro, e sempre estava bem arrumada, à sua maneira, claro. Não esqueçamos que eram os meados da década de 1980, e a boa moda não era a tônica desta época.

Na adolescência as mulheres me eram vistas com menos apreço e mais avidez. Queria possuir todas. Eram os hormônios em ebulição. Apesar de não saber o que fazer com elas, de alguma forma, queria muito estar em conjunção carnal com alguma. Nem admirava beleza, nem trejeitos, aromas, inteligência, cordialidade, nada. Era pura vontade de acoitar um fêmea. Folheava revistas e mais revistas eróticas em busca do orgão perfeito, da bunda mais redonda, dos seios mais fartos e firmes. Não era nada como a geração Internet de hoje, certamente havia pouco a se mostrar e mais a se imaginar. É comum não se aproveitar muito a adolescência, perder-se nas necessidades imediatas e jamais usá-la como ponte para uma vida adulta saudável. Contudo, não fui o único, nem serei o último a objetificar mulheres durante esse tão confuso período. Nem me arrependo disso. Foi uma época estranha, ótimo que passou.

Passou e foi tarde. Na primeira metade da vida, como já escrevi por aqui, as mulheres ganham nova importância. Aprendê-las torna-se um desafio gostoso, desvendá-las é um prazeiroso quebra-cabeças de aventuras e desventuras. Amá-las é uma montanha-russa de sentimentos confusos, idas e vindas do céu ao inferno. As instabilidades femininas vão se tornando o maior atrativo delas, e os bons momentos quase sempre compensam as dificuldades de se compreender o universo feminino. De repente, aquela professora do passado volta. Admiro novamente aquelas qualidades que compõem o sexo oposto, os aromas, os leves trejeitos, o sorriso...me sinto novamente menino, ávido e curioso por um toque, sexual ou não. Permito-me admirar, antes de desejar, a delicadeza da aura feminina. Permito-me, também, querê-las em um segundo momento, nuas e vulneráveis, com curvas sólidas e sinuosas, onde minha mão percorra a pele aveludada como pêssego, que por dentro, esconde uma criatura capaz de sustentar o mundo com um sorriso, um choro, um gesto. Estamos aqui para protegê-las, para que elas nos salvem de nosso próprio senso de predação.

Neste 8 de março, saibamos louvá-las como criaturas sagradas que são. Mulher, a minha ou não, obrigado em nome dos homens em busca de salvação.