quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Ensaios Sobre o Arrebatador Amor De Uma Só Transa (parte1)

Houvera sido um dia esquisito, uma sexta feira que começara sem muitas boas novas e que terminara com uma sensação de "borboletas" no estômago, como ela dizia. Era a predição de que algo excitante estava por ocorrer, algo que poderia mudar a vida daquele homem amargo e desiludido. Um sorriso radiante tomou conta de seus lábios enquanto a labuta do dia era encerrada, suas mãos suavam em plena ansiedade e seus pulmões desejavam respirar ofegante novamente, como ainda não houvera respirado ou como já não respirara há anos.

Aquela fresca tarde de maio já reservava flores antecipadas de primavera e o ar estava esfuziante. As pessoas estavam mais belas, as buzinas dos carros naquele rush maldito ecoavam como sinfonias de Bach, que anunciavam uma nova era na vida daquele amargor de pessoa. Em seu carro as notas de uma velha canção de Jazz no rádio eram o incentivo para que pudesse seguir adiante na infinita estrada que o separava do gozo universal. Era já de noite e Paul Lettere chega a sua casa para enfim banhar-se e preparar-se para encontrar sua divindade. Ele não sabia até aquele momento que ela representaria para ele toda uma nova era em sua vida, que ela romperia de vez com o enfastiado personagem que assumira seu ser, e que ela daria a ele a pura e simples razão para não usar aquela pistola em direção a seu próprio crânio. Ela era uma lufada de ar fresco num clima árido e seco. Ela é Anna Schneider.

Paul era um Stock Broker bem sucedido, casado, pai e um grande colecionador de velhos LP´s de Jazz. Entre um Coltrane e Parker, ele despejava toda a sua amargura numas notas loucas de Ella Fitzgerald, estalando estupidamente seus dedos a cada nota cantada por aquela negra fabulosa. Depois de anos casado resolve se tornar boêmio, e explora profundamente a nightlife de sua Chicago de 1948, chafurdando cada clube de Jazz a procura daquele Bebop mágico que lhe faça suar e ranger os dentes a cada agudo do Saxofone. Entre doses homéricas de whisky e drinks pagos a estranhas ele olha para o outro lado do balcão daquele sujo clube de Jazz, e pela névoa exalada pelos cigarros e charutos acesos percebe um perfil angelical, com suas mãos apoiando seu delicado queixo, e seus cotovelos tocando tediosamente aquele balcão repleto de sujeira e suor de pessoas podres que lá estavam. Era uma mulher de traços finos, corpo magro e longilíneo, mas com curvas no lugar certo, com um vestido vermelho colado ao corpo com uma flor falsa na alça esquerda, de mesma cor. Paul desce os olhos e percorre suas coxas até chegar a seus delicados pés, vestidos com uma bela sandália de salto preta. - Deve ser uma dançarina Flamenca, pensou ele.

Não dava para ver muito naquela meia luz de bar, e com toda aquela fumaça. Paul já estava alto dos whiskies, mas seu instinto masculino é fatal e ele se dirige até ela. Sua roupa está um tanto quanto amassada, sua gravata afrouxada ao máximo, sua dignidade se esvai a cada passo. Seu cheiro não é dos melhores, e a camisa de seda branca já começa a sair da calça que reside na altura do umbigo. Não importava, Paul foi até ela e começou a descobrir ainda mais com seus olhos a beleza daquela mulher. Seu cabelo estava solto, era castanho escuro e liso. Ela tomava algo claro, transparente, talvez algum drink à base de gim e ou vodka, pouco importava. Sua posição se manteve inalterada e seus olhos não paravam de olhar pra frente. Paul fez alguns barulhos para chamar a atenção, aquela caminhada até ela estava durando décadas, mas ele estava chegando. Ao chegar mais perto, percebe a forte maquiagem em seu rosto, com seus lábios finos e delicados com um batom avermelhado e brilhante. Ela ainda está com uma mão no queixo e outra no drink quando Paul chega e diz: - Gosta de Jazz, garota? Não era uma boa forma de começar uma conversa, afinal por que ela estaria lá se não gostasse de Jazz? Ela o olhou, e ele pode perceber seus profundos e belos olhos castanhos escuro, que perfaziam uma tonalidade de contraste maravilhosa com sua pele branca, mas não tão branca. Ao perceber que ela somente o fitou e nada respondeu, Paul pergunta novamente: Qual é a sua idade, menina? - ele a podia chamar de menina, ela não tinha mais que 20 anos. Ele estava nos 30 e poucos - por fim, ela não responde. Intrigado, Paul volta ao seu lado do balcão, dizendo que se ela quisesse conversar lá ele estaria. Ela não foi e Paul virou sua última dose, largando alguns dólares sobre o balcão.

Ao chegar novamente mais perto ele percebe aquele perfil maravilhoso que tinha visto há minutos atrás. Aquele nariz fino e delicado, o queixinho pouco proeminente e uma testa austera formavam um rosto arrebatador. O pescoço era longo assim como seu corpo, os seios eram médios e firmes, assim como seu colo. O Jazz comia solto e alguns casais já dançavam fervorosamente, quando Paul levante de novo e desta vez sem rodeios pergunta: - Você é uma dançarina aqui do local? Ela sorriu ironicamente, como a debochar daquele bêbado deselegante e diz: - Não sou. Pareço uma, por acaso? Paul sentiu que não estava sendo respeitado e lançou secamente: - Sim, está vestida como uma dançarina Flamenca. O sorriso em sua cara se esvaiu, e uma seriedade templária assumiu sua angelical figura: - Olha aqui amigo, não sou dançarina, não sou amante do Jazz e não estou aqui para conversar com ninguém. Por favor, me deixe em paz! Paul não sabia por que ainda insistia naquilo, pois, na Elm Street, depois das 23hs, havia muitas prostitutas com faces "angelicais" nas quais ele pudesse descontar sua amargura. Ainda assim, lançou uma última frase: - Olha aqui boneca, a guerra acabou, entende? Nós sobrevivemos à era nuclear. Não podemos sair por aí dando coices uns nos outros. Vamos começar de novo, meu chamo Paul Lettere. E você? Ela ficou pensativa, mas estendeu a mão a ele, até mesmo por pena, e disse: - Sou Anna Schneider.

Ao ter falado sobre a guerra, Anna pensou estar falando com um ex combatente, o que a deixou mais complacente ao seu estado ébrio e a fez tratá-lo com mais paciência. Paul divagou o quanto pode sobre Jazz, músicos e divas. Estava arrebatado por aquela beleza jovial, mas que parecia maltratada, deprimida. Aquela roupa chique para o local não explicava muitas coisas, ela se portava como antes, estava calada, contemplativa e ainda tomava aquele único drink. Após ouvir palavra após palavra, quieta, Anna resolve perguntar se Paul havia lutado na II Guerra, visto que a havia citado a ela. Paul riu descontroladamente, aquilo ia contra tudo aquilo que acreditava, era um homem bem sucedido, pouco havia lhe importado a guerra. Foi enfático em dizer que não. Trabalho com mercado financeiro, disse ele. - Minha luta é o lucro, minhas armas são as ações e meu front de guerra é a bolsa de valores de Chicago. Mas apoiei nossas tropas do outro lado do Atlântico, disto você pode ter certeza! Paul já tinha entendido porque aquela doçura houvera lhe dado uma chance e tentou ser simpático à causa da guerra, pensando que a moça poderia ter perdido parentes no conflito e por isso ela poderia estar tão triste naquele bar imundo.

Não era comum naquele tempo ver mulheres sozinhas em clubes de Jazz, ainda mais tão jovens e belas, que não fosse prostitutas. Paul queria levá-la dali, para a casa de seus pais, pois ali não era lugar para uma moça como ela. Anna já tinha pago sua conta, e foi se preparando para ir embora, com certo marejamento em seus olhos. Espantado, Paul a pediu que esperasse, pensou ter dito algo errado, ela simplesmente se foi, sem que ele pudesse conte-la. Ele foi para casa, sua esposa o esperava com o jantar frio, mas ele foi para sua cama diretamente. Paul pensava em muitas coisas, houvera casado muito jovem, quisera fugir, divorciar-se, conhecer o mundo. O fim da guerra houvera trazido prosperidade e o mundo estava ali, pronto para ser descoberto. Eram muitos os desejos, mas sua amargura advinha especialmente da falta de perspectivas, de aventuras, novidades etc. Ele era uma alma excitada, uma alma que desejava viver intensamente, mas que poderia interromper a vida pela simples razão de ela existir, tão somente. Era um problema existencial e ninguém poderia resolvê-lo.

Os dias se passaram e Paul não mais variava suas idas a clubes aleatórios de Jazz, passou somente a ir ao mesmo em que conheceu aquela moça. Era recorrente aquela lembrança, algo indelével. Ela era cada gole num whisky barato, ela era a fumaça tragada de um cigarro achado no chão do bar, ela era o couro barato e roto dos bancos daquele clube, ela era o tilintar de copos nas mãos de garçonetes ávidas por níquel de gorjeta. Ela estava em tudo naquele lugar. A esperança era que ela abrisse a porta daquela espelunca, num ato impensado, e encontrasse Paul ali, desfalecido pelo álcool barato, entorpecido pelos vapores tabagistas e lhe desse no mínimo um pequeno gesto de atenção que fosse desde um toque por entre os dedos até um beijo que fervesse a alma. A idéia estava se tornando fixa e Paul resolvera sair dali por um tempo, dedicar-se mais a família.

Seu trabalho já houvera dado lucros, sua situação financeira era bastante estável, apesar da pouca idade. Paul tinha decidido ser um homem mais familiar daquele momento em diante, e esquecer de vez aquela névoa vermelha em forma de anjo que estocava sua memória como a querer enlouquecê-lo. Já houvera se passado seis meses ou mais que aquela curta e frívola conversa de bar ocorrera e, desde então, ele não vira mais aquela mulher em nenhum lugar da fria Chicago. O inverno havia chegado, e a brisa cortante daquela fria cidade prenunciava as festividades de fim de ano. Paul se tornara mais alegre, vira nos olhos dos filhos uma razão para continuar, um regozijo que somente um pai pode ter. Num certo dia, ele resolvera caminhar na neve, se cobrir daquele gélido cristal em suas costas, senti-la espalhar-se pelo seu rosto, como a querer adormecê-lo numa posição de sorriso perene. Ao parar numa banca de jornal para comprar seu jornal matinal se depara com um cheiro esfuziante, familiar, que atiça destreza masculina que procura o olhar a cada traço interessante de feminilidade por perto. É ela, está do lado dele, folhando algumas revistas, é ela! Paul gela repentinamente e, naquele momento, ele era mais frio que a Chicago no inverno de 1948/49. Não havia como esquecer aquele par de pernas de fora, mesmo que protegidos por uma grossa meia calça de lã continuavam divinos. Paul subira um pouco mais os olhos e fitara seu rosto e sua pele de cor quase cinzenta, denotando que houvera caído da cama naquela manhã, sem nem mesmo preocupar-se em maquiar-se como estivera naquela noite naquele clube de Jazz. Ela não notara Paul nem um pouco, mas ele aos poucos foi se soltando e fez menção de iniciar um diálogo:

-Olá, a Senhora não vai se lembrar de mim, mas, por uma vez somente a Senhora me marcou intensamente.

-Não entendo, quem ou que é o Sr?

-Pouco importa, a Senhora não lembrará. Mas da Senhora me lembrei por meses a fio.

-Risos. Se não me lembrarei do Senhor, será porque não valeu ser lembrado mesmo. De onde nos conhecemos?

-Seis meses atrás te abordei num clube de Jazz, trôpego, bêbado, mas sóbrio o suficiente pra te reconhecer como uma visão angelical no meio da bruma daquele local. Reconheci-te, sim, como uma das criaturas mais lindas que já houvera visto. Tentei em vão conversar com a Senhora, queria levá-la daquele antro, mas...

-Fui embora, não?

-Sim, foi.

Um silêncio estarrecedor acomete o diálogo, e o olhar desconfiado do dono da banca incomodara Paul. Nos olhos de Anna, um brilho incomum estivera se instalado, um brilho raro de ver nos olhos de uma mulher, ainda mais numa jovem mulher, um tanto insossa ainda quanto ao sexo oposto. Era a primeira vez que Paul a percebia sem os efeitos do álcool, sem aquela meia luz de bar, e sem a tristeza que estivera em seus olhos na época. Era fato, ela parecia mais feliz, renovada:

-Está muito frio aqui, Anna. Podemos entrar em algum lugar e tomarmos algo quente?

-O Senhor lembrou-se do meu nome? Devo ter sido inesquecível mesmo...

-Por favor, não me chame mais de Senhor, sou Paul.

-Claro Paul, está muito frio mesmo, eu aceito.


Conversaram por horas a fio sem qualquer preocupação com o mundo externo. Ali, naquele bistrô isolado no centro da cidade, eles dividiram experiências, foram sinceros, expuseram suas fraquezas. Paul descobrira que Anna estava devastada naquele dia por ter sido deixada esperando num restaurante da cidade, por horas. Ela era noiva de um rapaz na Faculdade. Cursavam letras e literatura inglesa, e o rapaz era um moço filho de um industrial do meio oeste americano. Era riquíssimo, e dela somente queria o sexo. Apesar do noivado, ele não a levava a sério. Anna, por sua vez, trabalhava num restaurante durante o dia, para custear seus estudos. Seus pais eram do sul, e as gorjetas que recebia gastava em enxovais para seu futuro casamento. Viu que aquilo não passava de falsas esperanças, seu noivo saia descaradamente com todas as mulheres do campus. Paul sentiu um desespero na alma daquela mulher, muito parecido com dele, o que o fez criar uma conexão massiva com ela. Paul contou sobre sua infância boa, seus pais eram médicos, mas ele tinha asco da profissão de salvar vidas. Queria mais que isso e cursou Economia e Finanças, conseguindo depois de formado um emprego na área de ações e investimentos. Conheceu sua esposa muito cedo, e teve logo seu primeiro filho. Sua esposa era secretária num escritório de advocacia e tinha surtos psicóticos vez por outra, fruto de uma infância perturbadora numa fazenda no interior de Illinois. Houvera sido estuprada por dois tios, empregados da fazenda e jamais conseguira superar este trauma. Após o nascimento de seu segundo filho, Paul fez votos de ficar com sua esposa fosse qual fosse os acontecimentos em sua vida. Era demais para ele, Paul queria viver, queria arrancar de si as amarras de uma vida sólida, mas entediante. Não havia como aquela mulher psicótica e de coração vil fazer dele um homem realizado. Estava acima das possibilidades dela realizá-lo e acima das dele compreendê-la.

Eram problemas pessoais comuns, mas que aproximaram os dois naquelas duas ou 3 horas de conversa. Mais uma vez um silêncio atordoante acometera o ambiente, parece que o ar havia ficado pesado. Por alguma razão, naquele momento, o silêncio dizia tudo, e Paul alcança a mão de Anna, apertando-a com a leve força que se usa para ser erguer um bebe do berço. Anna sorrira, e ruborizara, mas aceitara o carinho. Não teve como ser diferente, em poucos minutos estavam num beijo longamente louco. Era a realização de Paul, o sonho estava realizado, ou não, o que pensar? E sua esposa e a família, e nova fase de sua vida? Era aquilo mesmo, uma imensa descarga de energia constante, fruto de meses de frustração contínua, que fora despejada nos lábios daquela mulher. Era final, era um momento ímpar, o coração de Paul explodiria.

Fizeram amor loucamente naquela tarde fria, na republica onde morava Anna. Fizeram promessas um para o outro, se entregaram, mas não poderia deixar de pensar que talvez Paul estivesse super dimensionando aquele momento. Quem sabe aquela moça não estivesse somente se vingando do noivo, pelas suas traições constantes? Mulheres são vingativas. Será que ela fez amor comigo porque sentiu algo diferente por mim? Pensou Paul. Era um momento de reflexão pós coito, mas que seria revelador para ele em breve. Ela também poderia ter suas reservas, talvez ele fosse um homem daqueles casados e sem vergonhas, que traem suas esposas e tem boa conversa. Talvez ambos tivessem se arrependido. Despediram-se calorosamente e Paul queria voltar logo, planejava em sua cabeça dar um fim em seu casamento e dar a Anna todo o amor que esteve escondido em si por tanto tempo.

Continua...

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A Horda De Zumbis Sociais

...Ou aleijados sociais, como queiram. Minha adolescência se passou num período pré internet. Ao menos meu ápice se deu neste período. Das coisas que mais me lembro, das mais especiais, posso considerar que a convivência diária com meus amigos era algo gostoso. Chegávamos da aula e íamos diretamente à praia, jogar futebol, falar de mulheres, observar as transeuntes e seus biquinis deliciosos. Nossa vida era aquilo tudo, de segunda a sábado. Nas sextas e sábados à noite nos reuníamos em um local extinto, mas agradável, onde podíamos fazer aquilo que mais gostávamos de novo, que era falar de futebol e mulheres. De vez em quando surgia a oportunidade de ir ao que chamam hoje de Balada, num também extinto estabelecimento, onde dançávamos ao som do que tocava na época. Entrávamos com identificações falsas, as fazíamos em qualquer lojinha que continha uma maquina de Xerox, e lá adulterávamos inocentemente nossas idades para dezoito anos. Nem um ano acima e nem um ano abaixo, sempre dezoito. A técnica não convem explicar aqui, mesmo porque se tem uma coisa que não quero ser é mau exemplo, mas posso dizer que funcionava. Apesar de terem se passado quinze anos, muita coisa mudou. Eram mais rígidas as regras para adolescentes entrarem nas boates (aí um termo mais nosso, da época) sendo menores de idade. Todo mundo pedia nosso RG, não era fácil. O domingo era dia das famílias, e na segunda chegávamos na escola contando, aumentando as peripécias do fim de semana, para culminar com mais um joguinho de futebol na praia, pela semana à fio. Tomávamos agua do chuveiro quando tinhamos sede, brigavamos constantemente no jogo e depois estavamos juntos novamente. As meninas não gostavam muito da gente, pelo menos do nosso grupo, mas adorávamos observá-las. Toda esta introdução serve para ilustrar exatamente o ponto principal do texto, que tenta mostrar o quanto a internet tem degenerado as relações sociais do presente, especialmente a dos adolescentes, que precisam muito da socialização neste periodo dificil, algo que ajuda e muito no desenvolvimento das suas personalidades e criam vinculos sociais eternos para eles.

É um pouco complicado entender o mundo atual. O que era branco e preto está se tornando pink com lilás laranja e amarelo, ou seja, não temos certeza de muita coisa hoje em dia, senão da famigerada morte no fim de tudo, e olhe lá. Muita coisa que era segregada, hoje se fundiu, como a cultura, música, arte etc. É um resultado óbvio do encurtamento das relações que a internet trouxe. Ponto positivo pra ela neste quesito. Nem sempre o resultado é bom, como na musica, por exemplo. Entretanto, na maioria das vezes o que ocorre é a queda de barreiras sociais, e uma melhor aceitação do que é diferente. Enfim, esbanja tolerância num mundo cada vez mais intolerante. Nos anos sessenta, setenta e oitenta (um pouco nos noventa) era fácil saber quem era quem, ou seja, se fulano era gay, chique, roqueiro, hip hop, punk, aventureiro, cafona, careta etc. Hoje está tudo meio que fundido (eu disse fundido!). É positivíssima a consequência desta saladinha cultural pois nos leva ao fim paulatino dos preconceitos de outrora, que tanto atrapalhavam as relações sociais entre pessoas de origens e países distintos. Hoje dança-se forró no Sul e música eletrônica no Norte, por exemplo.

O que não esperávamos é que a internet fosse ter seu lado perverso, ou melhor, esperávamos sim, só que o ignoramos dadas as facilidades que a mesma trouxe em nossas vidas. Quem hoje aqui estaria disposto a abrir mão de seus e-mails (antes cartas e cartas), MSN e afins, notícias just in time, informações infinitas etc.? Eu também não. Pressinto, entretanto, que deva haver um limite para o grau de atuação da internet, especialmente nas mentes mais jovens. Redes sociais são uma praga, devo admitir. Percebo muitos jovens criando um microcosmos em suas redes sociais, fingindo comportamentos e maneiras de ser, flertando com o fake, criando uma persona que quase sempre não condiz com a realidade da sua personalidade. O que é pior, preferindo quase sempre o frio contato via internet ao encontro físico com seus "amigos" de rede social. Digo "amigos" pois muitos que estão ali eles jamais encontrarão ou se socializarão. Trocarão somente experiências ridículas, em frases cada vez mais sucintas, sem conteúdo. Alguns têm mil e tantos "amigos", mas são tão solitários quanto um homem de meia idade, divorciado e acima do peso. Aliás, quantos adolescentes acima do peso, não? Óbvio que se não se fazem exercícios e ficam tanto tempo sentados, 'online', não serão nenhum exemplo de vigor atlético.

O resultado disso tudo são jovens obesos, sem auto estima, sem assunto, fechados, reclusos como ratos em subterrâneos durante o dia. Sim, até mesmo os ratos do subterrâneo saem à noite, não? A depressão, que é tão latente na adolescência, se intensifica num ambiente desses, e pode levar a coisas piores. A consequência mais futura deverá ser mesmo o aleijo social, a prostração das relações. Estes adultos do futuro terão problemas em criar conexões sociais REAIS, que dificultarão e muito suas vidas como um todo. Profissionais que não se socializam ficam pra trás. Pessoas sem amigos reais (não só amigos de balada ou de redes sociais) são mais propensas a problemas psicologicos como depressão e pânico. A família será sempre um refúgio, não é? Pois até mesmo a familia sofre com um recluso social destes e acabam por isolá-lo naturalmente.

A criação de personagens na internet como um todo, daquele cara legalzão, bonitão, que tira fotos do torax para as moças, ornado com seus piercings e tatoos é pura exposição falsa. Ele é um produto de uma salada cultural sem identificação com nada, mas seu intuito é somente mostrar, expor algo que quase nunca condiz com sua realidade. Deve ser duro pra este jovem olhar para si e perceber que nunca exerceu a realidade, ou seja, se perdeu na virtualidade e nas mentiras que inventava a si próprio. Ele tem a necessidade de mostrar cada passo que dá em seu microcosmos virtual, e quase sempre com uma dose de enfeite tremenda. Ele é fashionista, é escravo de uma moda e suas regras, é fanático por artistas comerciais, que também nada têm a contribuir senão com o caos intelectocultural. Ele é capaz de estar numa mesa com amigos e pegar seu smartphone e conectar-se a um serviço de mensagens rápidas num clique, somente porque não consegue ficar sem. Ao não socializar-se, ele não evolui, não dialoga, não desenvolve a fala e seu discurso, atrasando ainda mais seu desenvolvimento. O pior de tudo: não lê! Se não lê, jamais vai escrever bem, e se escreve internetês fatalmente vai acabar usando isso na vida real e vai sendo assim julgado. Seu futuro é ser um zumbi social, um alheio, um mero profundo conhecedor de emoticons ou retwiador de sandices, e nada mais.

Eu ainda encontro meus amigos da escola porém não mais jogamos bola com tanta assiduidade. Fazemos programas mais adultos. Alguns estão distantes, outros estão perto, mas altamente ocupados. No entanto, ao menos duas vezes no mês, nos vemos e sabe do que mais? É como estar na escola de novo. Usamos a internet para nos comunicar com aqueles que não possam estar por aqui, este sim, um uso correto da ferramenta. No fim, é só o que levamos para o resto de nossas vidas: as amizades reais, os amores eternos e nossas conexões sociais como um todo. Não faço questão de levar meu micro comigo para o além mundo, quero ir para o céu. Porém acredito que o inferno é uma grande Lan House, sem ar condicionado, com um monte de alienados, babando, olhando para telas, atrofiados, jogando Counter sei lá quê, enternamente, como zumbis.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O que o eleitor do Tiririca não sabe...



É a primeira vez que posto um vídeo por aqui, mas este jornalista, Daniel Fraga, conseguiu diluir em poucas palavras algumas idéias que tenho sobre o público eleitor deste país. O vídeo é curtinho, mas revelador àqueles que não estão familiarizados com o sistema democrático e às armadilhas que o mesmo propõe. Como estamos numa nação de ignorantes e alienados, leiam, e engrossem um pouco mais a camada pensante deste país, que precisa crescer urgentemente não só nos números, mas nos indíces de educação como um todo.

PS: Adorei a citação do rodeio, Daniel Fraga está de parabéns!