quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A Cilada da Balada

Há tempos não postava por simplesmente não querer postar. Definitivamente não tenho tido nada muito importante a dizer, mesmo porque a vida tem se tornado algo demasiado estatico e estagnado. Coisas da idade, que vem chegando juntamente com uma certa tiriça, um desapego a certos eventos e encontros. Os excessos são trocados por coisas mais equilibradas, atividades mais serenas, que ajudam a relaxar, ao invés de nos tornar mais estressados, sem percebermos.

Mas não é sobre a idade que quero discorrer. Isso já fiz demais. Quero filosofar sobre as formas de diversão, do termo em latim divertere, que significa distrair, abstrair-se da realidade por um dado momento. Eu entendo que todos tenham a sua propria formula de distração divertida, por assim dizer. Contudo, há uma que me chama muito a atenção, pois junta duas coisas interessantes: a diversão e a paquera. Está no instinto humano o flerte. É normal buscarmos o parceiro em situações de prazer, como em sair para dançar.

A dança é uma forma de se expressar sensualmente. De alguma forma, a pessoa que está dançando quer passar um viés de sensualidade, seja para seu parceiro, ou para alguém que estiver ao redor, ou assistindo. Sempre saí com amigos, namorada etc... para danceterias, e é um tipo de diversão que me agrada. No entanto, cabem algumas conclusões sobre este tipo de distração, bem peculiar nos dias de hoje. Afinal de contas, as casas noturnas deste tipo se proliferam, e ganharam status de "club", ou "joint", ou qualquer outro nome destes que beiram o absurdo do anglicismo.

Pra começar, quando se escolhe um estabelecimento de ponta - ninguém quer ir num local onde ninguém vá - você se depara com uma fila que não anda. É impressionante, mas a imagem que a casa noturna passa é que eles não te querem lá, a não ser que voce seja uma mulher solteira e bonita, o que te faz muito desejável aos olhos dos administradores do local. Não se esqueçam que, estabelecimentos como este, vivem de imagem. Passando pela fila, depois de uma hora ou mais, temos que aguentar a cara feia dos "leões de chácara" que promovem a segurança destes antros. Todos eles engravatados em seus ternos a la Men in Black, com um ponto eletronico nos ouvidos, eles te olham sempre como se voce fosse um potencial risco para a casa. Voce pode estar vestido com a melhor roupa do mundo, chegar de carro importado, mas se voce é homem, solteiro e feio, se prepare para levar olhares nervosos de seguranças loucos pra te por numa gravata, e te botar na rua.

Mas tudo bem, pra não dizer que não falei das flores, tudo tem seu lado positivo. Ao andentrar finalmente o recinto, a visão é estarrecedora. Mulheres muito bem maquiadas, com seus vestidinhos curtos e sapatos altos. Tudo combinando, até mesmo os cabelos alisados, com luzes. Os perfumes são variados, mas inebriantes, tanto quanto as variadas bebidas alcolicas que elas carregam em suas mãos delicadas. Por vezes penso se alguém estaria disposto a encarar uma diversão destas sem se intoxicar de alguma forma. É só um pensamento... .

Olhar estes exemplares de jovialidade, todas descoladas, com personalidades marcantes, dado o bom nivel socioeconomico atual e a liberação feminina latente do século XXI, é um deleite para os olhos. Entretanto, de flores eu já falei, devo prosseguir com a marcha funebre em forma de diversão. Lembram-se quando disse que, por vezes, os donos do estabelecimento parecem não te querer por lá? Pois bem, é possivel ter mais uma prova disso quando precisamos beber alguma coisa. Voce pede sua bebida, e o barman te ignora. Você estica sua comanda, pede a bebida de novo o cara te ignora. Quando finalmente, ele te vê, aparece uma moça estonteante, e ele, com esperanças de algo com ela, a serve primeiro. Dá vontade de se rebelar, mas não se esqueça: seguranças.

Voce espera o cara ter a boa vontade de te servir, quando de repente, encosta no balcão um "brother" do barman. Aí a coisa vira experiencia surreal. Eles papeiam, o amigo veste uma camiseta polo agarradinha, tipo mauriçola de academia, aquele que quer mostrar que anda de carro importado, mas não deixa o verdadeiro carro com nenhum vallet, nem em frente a balada, se é que voces me entendem. Neste meio tempo, o barman já serviu toda a sua horda de mulheres gostosas e brothers, e só sobrou você. Quando você decide o que quer beber, ele diz não ter. Que seja uma cerveja, então. A mais cretina das bebidas, à mais cretina das diversões.

Encerrado o episodio da bebida, ou melhor, ele se repetirá por toda a noite, vamos dançar um pouco. Me lembro que, quando era adolescente, a fumaça nestes ambientes era sufocante. Naquele tempo, o cigarro era livre em locais fechados. Quem não fumava, era visto como bobo. Imaginem o nivel de desconforto. Enfim, todo o ambiente destes locais é feito para disfarçar a realidade de você. Quanto mais eles te privarem dos seus sentidos, mais eles te venderão bebidas e mais voce pensará estar se divertindo. As luzes estroboscopicas, a musica repetitiva industrial...até mesmo a temperatura - beirando o Saara - são feitos pra que voce consuma mais. Repetindo, se estivesse sobrio, provavelmente não duraria naquele local por nem uma hora.

A privação de sentidos dura até o momento onde um homem decide que é hora de flertar. Engraçado, mas ir a um evento destes, do tipo dançante, é complicado para os homens. É muita testosterona no ar, com as beldades, já citadas acima, balançando seus corpos, ajudadas pelo efeito de pouca luz, que esconde muitas imperfeições. Não há como não ver homens pendurados aos ouvidos da moças - a musica é muito alta, não é local pra conversas - cuspindo, falando alto, pelo efeito da bebida, tentando dizer algo que possa despertar o interesse da moça - que não seja a sua aparencia - em menos de um minuto. É como uma prova dos 100 m rasos da conquista. Quem falar menos merda em menor tempo consegue, ao menos, um beijo de premio.

A aparencia é algo a se filosofar. Claramente, a paquera, nestes locais, é toda baseada no conceito de aparencia. Fica dificil ser atraente ao parceiro de outra forma. Se voce vai chegar gaguejando, bebado, suado e com a roupinha errada - tem que ser uma polo agarradinha, numerada e com brasão - vai fatalmente entrar na fila do não. Aliás, o "não" é a palavra mais dita no local. Tem que ser muito perseverante pra se dar bem por ali. As mulheres ainda podem se maquiar, usar cintas, saltos altos, vestidos curtos...os homens, no entanto, não contam com nada disso. Se for feio, tá na "roça", vulgarmente falando. O jeito é malhar e fechar a boca.

Depois deste programão, lá pelos confins da madrugada, voce olha ao redor, naquele fim de festa, e dá aquela desolação. Não só pelo valor da comanda, que poderia te comprar muito mais que uma dança, umas cervejas e alguns nãos (pra manjar esta tem que ter a mente poluida), mas também pela visão horrenda de gente embriagada, meninas gritando, e rapazes se estranhando a cada esbarrão. Quando tem um quiprocó, o segurança, projetinho de animal de UFC ou MMA, usa de toda a sua delicadeza para praticamente matar os autores da confusão, antes de expulsa-los pra se matarem na rua. A imprensa não cansa de noticiar fatos destes.

Por fim, voce resolve encerrar a noite, paga sua comanda inchada, sai de lá surdo, tonto, sem voz e com a sensação que pagou pra ser maltratado. É algo meio masoquista, numa geração de sadicos. Faz a gente pensar... Enfim, fazemos a equação da empreitada, e chego a triste conclusão que não me diverti. Os conceitos de diversão, distração, seja lá como chame, são muito diferentes, de pessoa pra pessoa. A vida, no entanto, nos ensina que isto tudo cansa, e não diverte, por isso citei a idade. Ela nos mostra que a diversão passa muito pela qualidade das coisas, das companhias. Dançar é ótimo, faz bem ao corpo e ao espirito, mas é uma questão de ambiente. Num local fétido, escuro, com musica alta, excesso de gente, calor escaldante, banheiro lotado e com atendimento de quinta, a dança certamente não é prazeirosa. Beira o ridiculo. Realmente, tenho estado estagnado, mas a minha mente não para. É possivel flertar em outros lugares, com muito mais atrativos que não seja a flagrante beleza, superficial e pouco util nas relações humanas. Se fosse indicar alguma coisa pra te divertir, fuja de casas noturnas do tipo citado no texto. Vá fazer uma massagem, sei lá. É divertido ser esfregado, beslicado e apertado com oleos e essencias. Vão por mim, é bem divertido!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A "Imunização" Racional

Pafraseando Tim Maia no titulo, parte de uma das suas musicas inspiradoras, eu pergunto: Onde esteve a razão, quando mais precisei dela? Não sei. Por trás do meu subconsciente, havia um lado racional louco para tomar meu ser como num estado de sitio. Estava anestesiado, amortecido, sei lá, não sentia mais o sangue pulsando nas veias, aquela sensação de poder tomar o mundo para mim, e dele fazer o que quiser. Estar racional é estar ciente dos seus poderes e fracassos, analisando-os antes que os mesmos fujam do controle. Ser racional é ser, acima de tudo, uma fera domada, como um leão enjaulado, mas conhecedor da sua fácil situação de entreter em troca de alimento.

Eu estive irracional por muito tempo. Me perdia em devaneios sem a maior preocupação coma solidez das minha idéias, sem compromissos com o aterramento dos sonhos, cada vez mais incriveis, menos focados no conceito mais basico de realidade. Foi um duro golpe sentir a racionalidade chegando, ao me arrepender de ter sonhado tanto e agido tão pouco. A falha do homem moderno é não agir na hora certa, e retomar as rédeas de sua vida. É aí que as falhas começam a ocorrer, como uma avalanche de estupidez, a correr morro abaixo, na sua firmeza emocional.

Contudo, sonhar faz parte. Quem não sonha, não flerta com a realidade, mas também não consegue solidificar objetivos. Muitos deles se realizam se você mentaliza os mesmos num cenario real, mas o problema é se perder nestes devaneios. Deixar-se levar por coisas intangiveis, ou então muito pouco embasadas na realidade. Aí nos perdemos de vez, e passamos somente a viver fantasiosamente, e nada mais. Não cheguei a me perder, mas perdi muito tempo tentando materializar o impossivel.

Daqui pra frente, só pensarei naquilo que é palpavel, que condiga com minhas capacidades. O racional impera nos homens de boa indole, que perfazem o caminho certo nas suas atitudes. O racional não chora por não ter conseguido, e sim por não ter tentado. Se faz clara a noção que viver as expectativas mais terrenas gera menos sofrimento e nos impõe mais alegrias duradouras, que por consequencia, nos livram de problemas. Estar racional é ser livre, por que não? Triste é o homem que fica preso, encarcerado, em seus sonhos mais profundos e impossiveis de serem realizados. É, sim, uma prisão desumana, esta, de sonhar alto demais, sem expectativas de realização.

Liberdade racional é estar consciente que viver mais um dia é tão ou mais interessante que ficar esperando algo por meses a fio, sem que nada mude. O sujeito da mudança na vida de alguém é o proprio dono da mesma, ou seja, ninguém muda a vida de ninguém senão ele próprio. É fato que a racionalidade faz que esperemos menos das outras pessoas, e exijamos mais de nós mesmos. Pessoas sonhadoras demais esperam que a felicidade (termo que odeio, mas que existe, sem duvidas) venha atrás de si, e não procuram alcança-la, gerando frustração nas suas almas. O racional persegue sua felicidade com objetividade, sem se desviar dela ou se frustrar pela mesma estar distante.

Eu já não espero nada dos outros. Se quero algo, vou atrás. Garantir seus desejos é reconfortante, e a expectativa de fracasso é atenuada pela sensação que se o mesmo vier, só virá para você, e ninguém mais. O fracasso é uma opção, sempre. E dele tiro lições eternas para não fracassar de novo. Se fosse sonhador, estaria me açoitando pelo fato de ter fracassado, e ficaria pensando como seria se, pelo contrário, tivesse sucedido, perdendo preciosos momentos para tentar de novo. Refletir não é ruim, mas ficar preso a uma convicção sem base, é uma idiotice, e fere o principio da racionalidade humana.

Por fim, ser racional não é ser ruim. É saber enfrentar as adversidades sem perder o controle emocional, pura e simplesmente. Assim me tornei, assim desejo estar daqui em diante. Planejar o dia de amanhã é bom, mas sem se enganar, sem ficar se preocupando como será ou como seria, simplesmente planejar. O resultado somente depende se você estava certo, ou não. Dentre as duas opções, a unica certeza é de que a racionalidade vai trazer frutos, e nenhum deles será gerado pela falta de convicção.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Mulheres, Insatisfeitas Mulheres.

Certa vez, conversando informalmente com homens mais velhos que eu, já na casa dos 60 anos, falávamos sobre o papel do homem na sociedade e como isto vem mudando com o passar das gerações. - Mas e a mulher? perguntei. É fato que muitas coisas mudaram, outras nem tanto, mas o papel da mulher na sociedade mudou radicalmente, num 180° quase que completo de 100 anos pra cá.

Havia um tempo, onde o sonho de uma mulher era casar-se, simplesmente. Especialmente no periodo Vitoriano, do início do século XX, a mulher tinha um papel minimo na sociedade, se limitando aos seus afazeres domésticos e suas funções mais básicas. Já a partir da década de 1920, o cinema proporcionou uma evolução tremenda no papel da mulher, transformando-a não só num ser com direitos, mas numa entidade provida de poderes, não só de sedução, mas de opinar, dar diretrizes e ser protagonista numa modernidade emergente desta primeira parte do século XX. Neste periodo a expressão artistica feminina, tanto nas artes plásticas, como nas visuais e líricas foram de extrema importância.

Dando um baita salto na história, chegamos ao movimento feminista das décadas de 1960 e 1970, que trouxeram de vez a mulher para a igualdade tão sonhada de direitos, que a inseriria num pacote de atividades e funções antes nunca desempenhadas na história da humanidade. De repente, bombavam mulheres profissionais, que se desdobravam em busca de seu sucesso em suas áreas de atuação, e contraditoriamente, mantendo aquela coisa ludica do sonho do casamento, dos filhos, da familia etc...Sexualmente, com o advento da pilula, a liberdade sexual (entenda-se sexo sem compromisso) passou a ser mais viável para as mulheres que antes viam as suas possibilidades reduzidas, sob o risco de ser mãe solteira. A partir daí, na minha visão, o papel do homem começou a ser afetado.

De provedor a mero acessório - dos muitos carregados pelas mulheres - o homem vem perdendo sua importância para a vida delas, muitas vezes tendo que mudar para não se tornar um parea. No dias de hoje, o poder feminino é flagrante. Não só na presidencia da nação, mas em todos os setores, vemos mulheres presentes trabalhando e competindo neste mundo cruel com homens desejosos de uma oportunidade de crescer na vida. As faculdades estão abarrotadas delas, que no passado, faziam cursos como psicologia, medicina e letras. Hoje fazem de tudo, até mesmo engenharia, uma área predominantemente masculina.

O lado lúdico ainda persiste, e as mulheres ainda sonham com o tão badalado enlace, mas de uma forma diferente. O tipico homem desejado por elas mudou, e os machões de outrora não têm vez. Por terem conquistado tudo, hoje estão mais seletivas. Não desejam simplesmente só que um homem seja provedor, másculo, inteligente ou que tenha poder. O que elas querem é um homem que seja um pouco como elas, mais feminino, que entenda suas decepções com as pressões dobradas que têm hoje, com trabalho, filhos, casa etc. Querem homens que se cuidem, não se larguem, que frequentem academia, que sejam vaidosos, sarados, inteligentes, bem apessoados, ricos, notórios, com emprego estável, com bom humor, sem pelos corporais, sem mau cheiro, com cabelo vasto, talentoso, criativo...enfim, um super homem, que permeia suas atitudes não só pelo seu lado masculino, ou feminino, e sim num limbo que cria uma nova espécie de homem, moldado pelas femeas de hoje, mais descoladas e sabedoras do seu poder na sociedade.

Restam aos homens compreederem que suas atitudes não mais agradam a esta mulher cheia de vontades. Ou se adaptam, ou se perdem na solidão. A mulher lida melhor com isso, sabe ser sozinha sem ser infeliz. Para o homem, que sempre se acostumou a ter companheiras no passado, a solidão é um cancer que mata cedo. É mister para o novo homem ser mais feminino. Ou seja, ir às compras com ela, ir ao salão com ela, chorar quando ela chora, engravidar (nem que seja pra carregar um saco de arroz de 5kg na barriga durante a gravidez dela), curtir as TPM´s cada vez piores - pois elas estão sob um estresse muito maior - e não reclamar quando elas não quiserem sexo por muito tempo, alegando problemas que nunca passariam pela cabeça de nenhum homem de verdade.

Claro que o parágrafo acima está cheio de ironias, mas que querem exemplificar uma realidade que está presente. Naquela conversa, informal, com os homens de mais de 60, os mesmos concluiram da seguinte forma, ao se direcionarem a mim, após deliberarem sobre o assunto: - Rapaz, ainda bem que não tenho a sua idade, a mulherada de hoje não dá pra aguentar. Eu, cheio de mim, já com meu burro na sombra, virei para meu filho mais velho, que ainda não sabe o que é uma mulher, e disse: - Filho, boa sorte com as mulheres , você vai precisar.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Sangue, Alcool, Lutas e Despudores

Na presente situação em que estou, sempre que posso e desejo sair, frequento bares. A noite é um reduto para mim e um átrio de observação das mais estranhas criaturas que a habitam. Fico feliz em sair com amigos de longa data, me inebriar um pouco, dividir experiências, conversar sobre tudo, enfim, socializar-me. Numa destas noites, a qual eu estava particularmente amargo, resolvi encontrar meus distintos para jogar conversa fora, e num bar destes escolhidos ao acaso, ficamos bebericando e contando nossas amenidades.

A sensação de estar em um lugar, com pessoas queridas, não pode ser melhor, mas eu clamo por observar as pessoas ao meu redor. Algumas imagens, de cara, já me bombardeiam as pupilas e se dispõem a serem comentadas com o máximo de cuidado. Ao chegar ao local, me deparo com uma mesa imensa e repleta de adolescentes, entre 15 e 19 anos, aproximadamente. Até aí, tudo bem, eu sempre acho legal estar perto de gente jovem. O frescor das idéias, a beleza das moças, ainda na mais tenra idade, o furor dos rapazes ao quererem pra si toda a atenção, quase que num surto de infantilidade sadia, bradando e agindo como os tais. Eu me divirto com eles, e gosto de tê-los por perto. Mas algo me incomodava. A juventude é o laboratório da nossa personalidade, e ali estavam os pequenos camundongos desta grande experiência que é a vida. Seus copos enchiam mais que seus espiritos inflavam. Estranhamente, algumas moças estavam bebendo como se nada mais fosse importante naquela reunião gaudia. Bebiam, sem controle, deseperadamente, como se fosse o último drinque de suas vidas.

Fato é que, o estabelecimento, já estava incorrendo no maior dos erros, ao vender bebida pra tanta gente menor de idade naquela mesa. Apesar das curvas das moças, não preciso ver os documentos delas para adivinhar que as mesmas ainda não romperam os dezoito anos. Eu nunca fui santo, e sei que exagerei na minha adolescencia. Mas também sei que os estabelecimentos sempre negaram veementemente me vender bebida na minha época. Era frustrante, mas me livrou de muitas babaquices. Hoje, no entanto, percebo que os bares já nem tentam proibir. Liberam mesmo sem pedir identificação. Uma pena.

Uma moça em particular bebeu muito além da conta. Ela era um pouco obesa, mas bonita, jovem, e acompanhada de uma rapaz mais velho. Ela entornava caipirinhas em seu sistema digestivo como se aquelas fossem sua água num deserto. Não demorou muito, e ela perdeu o controle de suas ações, derrubando copos, cadeiras e empurrando pessoas, dado o seu tamanho. O salto imenso que a mesma vestia, também não ajudava. Por fim, após alguns minutos, o vomito foi inevitável, e uma noite que tinha tudo pra ser ótima se transformará num pesadelo, ao passo que seu acompanhante, num elan de odio e compaixão, a retira com tudo do recinto e a leva não sei pra onde. Como pai, aquilo me atingiu.

A noite estava indo bem, nós conversávamos bastante, as palavras fluiam e nossa cervejinha molhava nossos paladares, já responsáveis pelos anos de aprendizado com os maleficios da bebida, especialmente fora de casa. O grupo na mesa ao lado ainda persistia, apesar do alto teor alcolico de todos e do barulho, que aumentava a medida que eles iam tomando mais alcool. Chegaram doses de tequila, cervejas, energéticos, vodkas etc...Era um coquetel de deixar até o mais profissional bebado dos bebados com vergonha. Chega um bolo fumegante, vejo que é aniversário de alguém na mesa. A aniversariante é uma moça, bem mignon, loira, com não mais que 16 anos. Ela têm tatuagens nas pernas, o vestido é bem pequeno, tem piercing no nariz. Deveras, um fruto de um casal de pais bem liberal, ou não. Eles dão os parabéns a ela, entoam a famosa música e distribuem o bolo. A moça, já tropega, começa a distribuir beijinhos entre os convidados daquela mesa. Ela chega na parte de suas amigas e começa a beija-las na boca, e os rapazes fotografam com seus celulares brilhantes. A coisa começa a ficar mais estranha ainda, e ela parece ter curtido a brincadeira, pedindo fotos a cada beijo que dava em suas amigas, também embriagadas. O recato, naquele momento, que toda a moça deveria ter, já havia sumido.

Nós, que estavamos na mesa ao lado, interrompemos nosso papo com aquela visão, afinal de contas, somos homens. Naquele momento, eles se sentiram poderosos, e acharam ótimo nos ter calado com tal show gratuito. Havia um misto de reprovação e curiosidade nos nossos olhares, ja empertigados pelos recentes trinta anos de vida. Aquilo virou assunto em nossa pequena mesa, e nos questionávamos a motivação da moça para proporcionar tal atitude de exibicionismo assim, sem sentido. Aquele projeto de Paris Hilton, lascivamente agindo como uma socialite bebada, nos prendeu a atenção e nos travou o assunto.

De repente, todos começaram a gritar, como num estádio de futebol. O bar inteiro olhava para o televisor. Eu, que estava de costas, de inicio, não dei muita atenção. Ainda tentava digerir aquelas coisas que houvera visto, mas fui logo alertado pelos amigos. É o UFC! Sim, UFC, agora no Brasil! Não vou bancar o idiota e dizer que não sei do que estas letras se tratam, e o que elas representam numa nação como a nossa. Um homem espancando outro até que um dos dois caia inconsciente, num ringue em forma de octógono, com grades, um juíz (pasmem, para quê?), e um publico sendento por sangue. Comecei a pensar que, na Roma Antiga, o negócio das lutas que iam até a morte era lucrativo. Envolvia escravos, homens páreas, e girava um mercado de riquezas inimagináveis para todos os envolvidos. Os politicos usavam estas lutas para entreter um publico enfastiado, louco por violencia insana que fizesse sua adrenalina fluir. Azar dos lutadores, que se não lutassem, morriam da mesma forma. Isto foi a mais de 2000 anos atrás. Olhei o UFC na televisão, o sangue no chão do octógono, o público gritando enfurecido clamando pela destruição do adversário, olhei os patrocinadores do evento, os tais lutadores. Achei aquilo bem a cara do brasileiro, que convive tanto com a violencia no dia a dia. Ali ele extravasa o desejo de ver alguém ser espancado. Não é tão diferente das noites e noites deste país, onde jovens saem para se divertir e acabam espancados, estuprados ou mortos. Há claramente uma identificação master deles com a luta sem ética, a luta ensanguentada, a beberreira desregrada, o homossexualismo exibicionista e o desejo de chocar. É um retrato claro de uma juventude criada sem limites: Uma luta sem limites, uma farra sem limites, uma morte sem limites. Assim Roma ruiu. Assim, nos caminhamos para a ruína.


segunda-feira, 18 de julho de 2011

As 24 Horas Ácidas e Reais.

Sábado, 00:00hs, aproximadamente. A mente acelerava com pensamentos furtivos sobre o que fazer num momento destes, onde nada faz sentido e tudo abruptamente aparece como opção ao tédio. Uma visão estonteante atinge os olhos, ocasionando um brilho flamejante aos mesmos: uma garrafa do mais puro e etilico Bourbon já fabricado. Ali, jogado num canto, como a atrair a mais atroz alma imbuída do espirito de autodestruição, que somente os mais loucos entendem. Sorvido o liquido, a noite estava por iniciar.

Sábado, 02:00hs. O nivel de embriaguez ficava severo. O alcool é perverso, eleva seu escravo a um patamar de idiotices serenas, onde tudo fica estupidamente claro demais para ser verdade. Nada parece ser um impedimento, pensa-se claramente e fala-se atabalhoadamente. Depois de um certo momento, algumas funções motoras são perdidas, pode-se, inclusive, perder-se as contenções das necessidades fisiologicas. E tudo isso pode parecer no minimo prazeiroso no momento. Num raro e momentaneo lapso de racionalidade mira-se ao espelho e se percebe tropego, disfuncional. Não era pra tanto, a medida do prazer e do sofrimento reside exatamente na dose do entorpecente, seja ele qual for. Onde estaria o prazer daquele momento? Certamente a medida já houvera ultrapassado o tolerável. Onanisticamente falando, restaura-se forçosamente o prazer na Era digital, abusando do manual. Mais claro que isso, impossível. É como uma autopunição mascarada de prazer.

Sábado, 05:00 hs e minutos incontáveis. Onde estará a realidade? Que jogo depravado se está jogando por aqui? Seria aquele pão com manteiga envelhecido por mais de 24hs um retrato fidedigno de uma realidade palpavel? Ninguém é mais real, são todos hologramas. Todos agora são projeções do que querem ser. Aqui dentro só há uma realidade, e não é tangível. É uma realidade morta, é perigosa, sem padrões definidos. Só pode ser loucura. Que aspectos perversos da solidão ainda haverão de açoitar a alma? E este barulho desgraçado de motos e caminhões? É tempo de relaxar. Onde estarão os sedativos? Surtado ou não, ser paranóico não ajuda nesta Trip infernal, estando preso num mesmo substrato. Querem realidade? A realidade está nos beijos negados, nas chances tolhidas, nos desejos abafados, nas decisões indefiniveis, na falta do básico, no encardido da roupa, no fundo da porra do copo, ainda melado pelo mais fino Bourbon. Realidade é saber que nada é definitivo e que a morte é uma saída.

Sábado, 09:00hs. Que maldição, as portas rangem sem uma força maior que as mova. Neste momento a realidade já foi para as picas, o efeito alcolico sumiu e o ranger das portas nada mais é que o vento uivante de uma manhã fétida e insossa, cuja alvorada passou batida. A mente volta ao seu estado mais irreal possivel, o surrealismo das formas que dizemos ser reais tomam seu lugar naturalmente neste mundo em que nada mais faz sentido. A solidão é uma opção importante para, ao menos, flertar com a realidade. Farsa é viver junto com alguém que te vende sonhos, mas não te possibilita reconhecer-se, deveras, como realmente é. O isolado se reconhece pois nada lhe é mascarado. A ele só lhe resta sorver dos néctares mais amargos como o mais puro fel. Quiçá a solidão seja um instrumento de definição de importancia da existencia de alguém para o mundo, e da necessidade da sua perduração num quadro social. É um instrumento, sim, da verdade mais importante: a verdade para si.

Sábado, meio dia. Seria necessária uma total higiene mental para que as sequelas de um descompromisso com o que é racional desaparecessem, e que pudesse voltar a ser um agente da realidade para os irreais. Nesta hora algumas necessidades do corpo afloram, e a vontade é de suprimi-las o quanto for possivel. Todos os porcos que vivem neste mundo saem de seus chiqueiros eventualmente, não? Por que não pastorea-los de volta a seus covis, com seus sorrisos asquerosos e personalidades audazes, de forma a ensina-los um pouco de realidade nua e crua. Um pouco de agitação não seria ruim, e ver alguns porcos guinchando de sofrimento pela total falta de comprometimento com a vida em sociedade não seria de todo ruim. Onde estarão estes suínos? Não precisa ir muito longe, há milhões deles.

Sábado, 16:00hs. O corpo sofre pela falta de tudo, e pelo excesso do nada. O tabagismo é uma opção, e dele pode-se arrancar mais algumas tiras do prazer ininterrupto, pelo puro meio de se enganar o cerebro com cerotonina narcotica. Algumas baforadas e as idéias de justiça somem com a fumaça, dando lugar a uma necessidade, quase que espasmódica, de inspiração. Sim, conseguir uma veia inspiradora qualquer que faça ebulir o sangue e dar um sentido a tanto nonsense disfarçado de desencanto. O prazer veio de novo e estava querendo guiar o cerebro como um cego ao volante de um carro. Alheio aos obstaculos, a realidade naquele momento era uma decepção, mas não tão somente isso. Era uma esperança de que o dia de amanhã será sempre mais que hoje, repetindo o clichê. Em mais um espasmo de inspiração vem a necessidade de revolucionar. A revolução é a saída dos tolos para os seus mais profundos desejos. Todo canalha quer mudar algo, de forma a mascarar suas desventuras. Que tal mudar?

Sábado, 21:00hs. Alimentado de idéias revolucionarias a mente acelera de novo, em busca de algo que sacuda o mundo dos suinos audazes. Os porcos são criaturas egoístas, chafurdam em seus próprios egos de bosta, quando são, na verdade, criaturas amestradas por uma midia manipuladora. Os porcos comem, fodem, bebem, defecam e, não satisfeitos, defecam uns nos outros. Há porcos psicopatas, porcos justiceiros, porcos déspotas e até mesmo porcos revolucionarios. O que move a lealdade dum porco? A grana. Como tornar um porco num ser humano? Prive-o da grana. Uma bela criatura se forma da privação dos seus desejos realizados pelo capital. O afloramento do bom humano se dá no momento da falta. Ali, ele é domado. Seu espirito suino fica pra trás pela pura falta de poder atribuido pelo dinheiro. A revolução tem um caminho traçado.

Domingo, 00:00hs. Foram 24hs da formação do carater de um homem, do auto conhecimento. O entorpecente, a privação, a reclusão e o divorcio com a realidade imposta por todos foram elementos de entendimento do que é estar só num mundo que não lhe quer. É uma luta injusta com o establishment, que força as mentes alternativas a se desligarem, por um momento, da realidade imposta para, enfim, encontrar a realidade que mais lhe apetece. O que é real é aquilo que se constroi, mesmo que em pensamentos. Ninguém te impõe a realidade, como se ela fosse um produto pronto para ser tomado, bastando agitar antes do consumo. O paralelismo da realidade de um é a loucura nos olhos de outros. O corpo esmorece, reconhecendo a perda da batalha revolucionaria para os suinos da segunda-feira. A privação foi grande demais, e o reino dos suinos maltrata demais seus desertores.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

A Minha Nota Do Subsolo

Dostoievski descrevia o subsolo como um estado da alma onde nossos pensamentos mais sombrios se revelam. Seres introvertidos e observadores vivem no seu subsolo até que alguém os resgatem para a vida entre os comuns. Muitos não saem de lá nunca. O subsolo me atrai, lá recupero a segurança em muitos aspectos da vida, observo meus semelhantes e constituo uma forma de ver a vida muito mais abrangente do que somente as aparencias querem me dizer.

Estado da alma, não? É verdade. Por vezes o subsolo me atinge como se houvesse sido abduzido, puxado como que forçosamente para os cantos mais abissais da minha consciencia. O que fazemos lá? Expulsamos as superficialidades, absorvemos o auto conhecimento, olhamos o outro e pensamos se o mesmo nos salvará deste poço. Não, ninguém aqui está deprimido no subsolo, ninguém vai morrer por estar lá. É mais que um simples desprazer psicológico. É um momento onde as palavras simplesmente são substituidas por pensamentos, fala-se menos e reflete-se mais. O subsolo é algo notavelmente confortável e nos permite grandes conclusões.

Aqui do subsolo vos escrevo, estou chafurdando nas minhas próprias idéias fixas sobre a sociedade, e delas espero abstrair o máximo de entendimento sobre a mesma, reconhecendo também o meu papel neste interim. Vejam só aquele cidadão, num carro estilo offroad, ou aventureiro, como queiram. Eu acredito que o carro, com o passar dos anos, virou um meio de expressar quem somos, e este cidadão quer expressar algo...o que o subsolo me ajuda a concluir? Ele mora numa cidade asfaltada, sem estradas de terra. O carro está limpo e sem traços de lama. O máximo que viu de sujeira foi a poeira do ar. Ele está vestido socialmente, talvez seja bancário e sua pele é branca como cera, denotando passar grandes períodos sem tomar sol, ou fazer as ditas aventuras propostas pelo veículo, que o permitiriam ter um bronzeado muito melhor. Pelo adesivo na traseira, ele tem apenas um filho e uma esposa, não necessitando do vasto espaço do automovel. Aliás, por que o adesivo na traseira? O que mais ele quer passar ao mundo exterior? Que é um homem de família? Que é melhor do que eu por isso? Ou talvez seja só um exibicionista, assim como uma larga parte da sociedade de hoje, assolada por informações excessivas em redes sociais? Deve ser de tudo um pouco, mas voltemos ao propósito do carro, para quê este cidadão precisa de um veiculo offroad? O subsolo me diz que este homem quer mesmo é mostrar algo, por meio do bem de consumo, que ele não é. Provavelmente, o individuo que realmente precise deste meio de transporte não tenha a capacidade financeira para te-lo, talvez por passar muito tempo em suas aventuras, ou trabalhos braçais. Logo, o nosso amigo "bancário" quer praticar o bom e velho escapismo: - Se não sou, ao menos vou expor à sociedade que pareço ser. Sempre sonhei em ser durão, hardcore, radical, mas no fim, não passo de um pai de família com mania de grandeza. Faz sentido.

O subsolo é assim mesmo, nos dá a verdade por meio da ironia. Esclarece escarniando. No entanto me sinto feliz por estar aqui, muito embora seja algo muito solitário. Outra coisa me vem a mente, e penso: - E aquela moça sufocantemente bela que acaba de adentrar meu campo de visão? Cabelos alisados à perfeição, óculos escuros importados que cobrem quase a totalidade de seu rosto, mas não escondem um belo nariz, fabricado pelo mais conceituado cirurgião. Pele alva, mas coberta por uma maquiagem bem feita, até um tanto forte. Cheiro marcante, amadeirado, com notas de pinho. Corpo esguio, alto, ornado por belas roupas, talvez de alta costura, pernas de fora proporcionalissimas, clarinhas. Mãos e pés bem cuidados, um traço marcante de ter evitado trabalho manual e pesado durante sua curta vida. O que ela quer transmitir com isso? Obviamente o subsolo é imprescindivel na qualificação daqueles que não pertencem a ele. É obvio, também, que esta moça jamais vai observar as coisas daqui, pois ela é notavelmente um ser da superficie. É superficial, não? Ao menos parece ser. Algo me diz que ela tem posses, ou ao menos quer parecer ter. Se for a segunda opção deve estar endividada até o pescoço. Entretanto, se for mesmo rica, deve ser bastante dificil e hostil. Olhem o esforço que ela faz para não olhar os seres ao seu redor. Parece uma contradição, mas ela não quer olhar os outros, mas quer que os outros a olhem. Se não fosse desta forma, porque se vestiria tão bem, e cuidaria tão bem de sua aparencia? Sim, ela deve ser dificil, no minimo arrogante. Deve estar num estágio de consciencia em que se não for notada, cairá em frangalhos. Precisa disso, se alimenta disso! Não parece nada sexual, mas no fim, é somente por isso que pode se fazer ser notada. Às mulheres, no entanto, ela que causar inveja, quer diminui-las. Definitivamente ela é um belo exemplar, mas não se enganem. Por dentro existe um ser humano, sim, existe uma criatura insegura, louca pra se destacar de alguma forma. O exibicionismo exagerado a impulsiona e os olhares de quem quer que seja são seu combustivel. Deve ser fragil, facil de desmontar, como um castelo de cartas. Deve ser sensual, mas não sexual. Trava-se facil para o sexo, por criar uma barreira imaginaria à frente dela, expondo tanta imagem para tão pouco conteudo. Eu imagino a dificuldade que deve ser viver dentro dela, esperando o reconhecimento a cada olhar, em cada esquina. Que ser humano superficial! Por isso gosto do subsolo.

Aqui as estórias fluem como rios venenosos a verter para o imaginário sem fim, pois no subsolo somos livres pra pensar da forma que desejarmos. Não interessa quem o ou quê, sempre há espaço para, inclusive, ir mais além. A zona de conforto que o subsolo provê só não é tão boa quando o mesmo se vira contra você. Daqui de dentro passei a me conhecer melhor e a tirar conclusões que jamais tiraria estando na superficie, vivendo com os outros "seres de atitude". Aqui abaixamos a bola, popularmente falando, nos policiamos e vemos que somos falíveis, detestaveis e deploraveis em alguns aspectos. Olhe só aquele exemplar, belos filhos, boa vida, mas com grave problema: ele não se gosta. Sim, já ouviram falar daquele homem/mulher que pode ter tudo na vida, mas não tem aquilo que ele mais deseja: um retrato perfeito de si próprio? É aí que o subsolo fica perigoso, exatamente quando criticamos os superficiais e pensamos quanto a nós mesmo. Ora, eu mesmo disse que o subsolo nos serve de observatório, para que possamos nos tornar melhores, sem jamais ir para superficie sem razão. É isto mesmo, mas a autocritica é o limite disso. Pois bem, segue a vida daquele homem, preso no subsolo, mas incauto à realidade. Ele não tem autorespeito e se odeia mais a cada dia que passa. Ele cobra muito de si, exige muito pouco dos outros, e se ve preso numa miseria sem fim. Ele tem todos os instrumentos para deslanchar numa perfeição de vida, mas se atrasa em seus pensamentos mais indignos. Muitos pensam dele ser um canalha, um arrogante, um párea. Mas ele é um homem com tanto a dividir com o mundo, alguém que as pessoas podem confiar, um cara de principios. Infelizmente ele não consegue, ou não pode demonstrar isso ao mundo, e o mesmo se esconde no subsolo, onde o isolamento da consciencia o consola. Aqui, no subsolo, jaz um sem rumo, um homem com alma subterranea, habitando um porão sombrio, mas com ganas de flertar com a superficialidade. Neste subsolo em particular tem um maldito espelho, e por ele acabo por ficar preso, aqui, distante. É, o subsolo é perigoso demais quando passamos a esmiuçar nossa própria e profana personalidade. Voltemos aos outros.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Diz a Ela Que...

O que mais um tolo necessita do que uma forma de difundir suas tolices? Um poema com interlocução.


Diz a ela que me enojei,
diga que me enganei,
fui afoito e intempestivo,
que me dei por vencido.

Diz a ela que tentei,
que me expus, me magoei,
diga que estou ótimo,
mas que não haverá um próximo.

Diz a ela "foi só uma aventura",
que foram rompidos os laços de ternura,
diga que clamo por distância,
para me afastar de sua arrogância.

Diz a ela que prefiro romper,
uma ilusão não há de crescer,
diga-a que é promíscua,
diga-a que é oca, inócua.

Diz a ela o que é sentimento,
que nem tudo é momento,
que ninguém é descartável,
que a sua indole é desagradável.

Diz a ela que a desprezo,
que não mais a tenho apreço,
que sua embalagem pode ser atraente,
mas seu interior abriga uma alma doente.

Diz a ela que a vida a ensinará,
que seu sexo não mais a servirá,
os anos de ouro não são eternos,
só nós sobram os amores ternos.

Diz a ela que o tolo morreu,
que ninguém assim venceu,
fica somente o ensinamento,
para um idiota que ficou atento.

Diz a ela que não há rancor,
apenas um leve torpor,
causado pelo golpe furtivo,
quando dado de supresa é mais doído.

Diz a ela que outros virão,
que sua "bela carcaça" os atrairão,
diga que serás um mero brinquedo,
que por ela não guardarão segredo.

Diz a ela que é fadada a solidão,
ao agir como uma medusa sem coração,
diga que o futuro para ela é nefasto,
satisfeito assim me afasto.

Diz a ela que há muitas assim,
que se locupletam, usam e fim,
mas as coisas são ciclicas,
amanhã tudo se complica.

Diz a ela que a mim resta só o lamento,
mas que estou mais atento,
que amanhã pode ser ela,
a vida recompensa a quem espera.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Uma Descrição Pessoal, Segundo Eu.

Já que não agradei ao descrever quem considerava especial, resolvi me auto descrever. Sem lirismo ou enrolações, somente uma descrição pura e simples e em poucas linhas. Antes eu do que qualquer um...(a)

Ao acordar, gosto de me higienizar, ao dormir prefiro assistir algo desinteressante para que o sono venha galopante. Nas refeições sou ritualista, para mim cada momento em frente a um prato de comida é como uma devoção à mais sagrada das benesses: ter o que comer. Já disse, sou filho de Baco e como tal elevo a comida e a bebida a um altar dos prazeres divinos. Nada monástico, eu admito. Mas desde quando falei que tinha veia religiosa ou coisa que o valha? Sou um mero mortal, um pecador perdido nesta humanidade suja. Um camundongo no subterraneo cercado por outros camundongos, se alimentando dos restos uns dos outros. Ninguém é especial. Está vendo como me autocritico? Sim, sou o meu maior critico. Me cobro porque sei que falho. Sou falível, acreditam? É, eu falho...

Sou filho de Baco, eu repito. Meu corpo não tolera o vinho e eu brigo com ele, enfiando este néctar goela abaixo. Não há nada comparavel ao desejo por um bom vinho. A cada garrafa aberta, é como uma descoberta. Nada mais é que uva fermentada e envelhecida em tonéis, mas cada um tem um tom, um cheiro, um sabor. Ah, eu jurei que não ia falar de mulheres neste texto, e nem mesmo fazer metáforas entre mulheres e bebidas. Isto é tão cliche! Digamos assim, quando quero beber, bebo mesmo. Já me encontro em certa falencia hepatica. Eu sei, eu sei, eu conheço os sinais. Problemas na digestão, inchaço abdominal...é, o figado pede socorro e eu peço mais uma garrafa. Meu sangue é muito grosso para tomar vinho nesta terra cabralesca tropical, citando Hunter Thompson. A cada taça meu corpo sua em bicas, desesperado pelo clima úmido/caliente destas terras que dizem serem abençoadas. Nascedouros de mosquitos e doenças, eu digo!

Meu físico é nababesco. É uma mistura horrenda de musculos errados e gordura inaceitavel. Se eu fosse uma pintura surreal de Dalí, seria um muso perfeito, todo desregrado, com ombros grandes e pernas inchadas, além de abdomem proeminente, pescoço fino, nariz grosso e cabelos ralos...uma bagunça surrealista, só que uma merda em termos práticos. Sou pesado demais, mesmo quando mais magro, minha estrutura ossea é muito pesada, suo em excesso, preciso sempre me refrigerar, mas não tenho odor ruim. Deve ser uma das unicas coisas boas que herdei deste meu podre sangue ítalolusitano. Ainda assim, dou minhas corridas, nadadas e até que não sou fraquinho.

Sempre leio quando estou só. É muito bom estar sozinho e em companhia de um livro. Não dispenso a boa musica também. Sou daqueles radicais que acha que a evolução do cenario musical congelou em 1979, e daí em diante foi uma queda vertiginosa. Nada muda este meu pensamento, e por isto fico com os classicos. Não gosto de ir ao cinema, há muitos filmes idiotas atualmente. Vou raramente à praia, pois não gosto de me ridicularizar, pondo meu torax grande demais à mostra. Não gosto de sol em excesso, também não gosto de muita chuva. Sou um entusiasta do inverno, como pode-se deduzir pelo texto. Voltando à cultura, adoro teatro, acho espontaneo demais para se tentar enganar o espectador. Tenho raiva de televisão, mas é uma ótima cura pra insonia. Adoro exercicios fisicos, talvez por ser fisicamente desproporcional, sei lá, só sei que gosto. Sou um investidor agressivo, e desejo grandes rendimentos. Gosto de carros antigos e novos, e tudo que envolve o mundo automobilistico. Sou um cozinheiro meia boca, mas acho cozinhar algo extremamente relaxante...desde que alguém lave a louça.

Já disse que não vou falar de mulheres! Já bati muito e já apanhei. Adoro banheiros limpos e bem cuidados, gosto de roupas casuais, sem muita frescura e confortaveis...mais uma vez, fisico desproporcional! Torço pro São Paulo F.C, graças a Deus, e escovo os dentes duas vezes por dia. Como algumas frutas, mas como vegetais por querer ter saúde, tão somente. Adoro carnes, de qualquer animal, mas me encantei pelo cordeiro. Odeio doces e massas, não me dou bem com açucares.

Pra concluir, acredito que levo jeito pra sociopata, pois odeio concentração de pessoas, o que me mantem afastado de shows em geral, jogos de futebol, shopping centers e boates apertadas. E também não entendo tanta gente fingindo ser feliz no mundo real e virtual. Acho um porre as pessoas, ainda mais aquelas que se autoproclamam poços de alegria forçada. Engodo! Somos todos criaturas miseraveis, com conforto demais e ideologias de menos. Sou isso aí, mais autentico, impossível. Viram, não falei de mulheres, apesar de adora-las. Mas tem umas que...só Deus salva.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Tua Descrição, Segundo Eu.

Texto Sublimado. O Autor se reserva ao direito de somente homenagear a quem merece.

atenciosamente,

Luciano.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Ensaios Sobre o Arrebatador Amor De Uma Só Transa (parte2) - Revisitado

Sem muitas esperanças, Paul retorna a sua casa e tem planos imediatos de mudança em sua vida, seu momento é revolucionário, sua vida urge por novas experiências, novas razões para seguir em frente, mesmo que seja sem sua fiel companheira de muitos anos. A pressão para que pudesse dizer algo determinante para isso deixava-lhe suando em bicas, e sua mente estava borbulhante com as lembranças daquela tarde com Anna. As dúvidas persistiam: "E se esta moça me fizer sofrer? Da minha companheira tenho a fidelidade, o respeito, o carinho e o mais importante: os filhos. O que posso esperar desta moça?" Sua cabeça estava a mil, ele precisava reve-la, se certificar que aquilo não houvera sido somente um momento de fraqueza, ou somente uma arrebatadora transa.

Em seu carro, Paul rumina os pedaços de frases e palavras ditas por Anna, e tenta de alguma forma se esperançar de ter aquele amor correspondido. Seria uma tragédia ser negado por aquela beldade, num inverno tão rigoroso, num momento tão célebre, onde o coração clama por palavras que o façam transbordar a cada batida por minuto. -Maldita paixão, pensa ele, já está me tomando a alma! Já não consegue trabalhar, concatenar idéias, atitudes, Paul está dopado, sedado pela simples sensação de querer, ao mesmo tempo que sente tenso, suspenso numa intensa preocupação de ser negado. No Rádio daquele Lincoln Zephyr 1946 o locutor anuncia uma suave melodia de Charlie Parker, o Bird. Era tudo que Paul precisava, e ele rumou até a republica onde Anna morava, precisava ter certeza do quê houvera sido aquela tarde.

A temperatura estava congelante naquele inverno de Chigaco, -20°c com ventos cortantes e uivantes, mas Paul seguira em frente e bate à porta de Anna. Quem atende é seu noivo, surpreso por ver aquele homem tomado de neve em sua cabeça e corpo, ele clama por sua identidade:

- O que deseja, senhor?

Paul, sem saber quem era aquele rapaz, mas sagazmente imaginado quem o mesmo era, rebate:

- Nada, acho que bati na casa errada. Perdão!

- Sem problemas, Senhor!

Ele se demora a fechar a porta tempo o suficiente para que Paul aviste Anna ao fundo, lendo um livro, sem notar muito a movimentação na porta. Por fim, o rapaz fecha a porta e Paul lá continua, aguardando que a mesma lhe dirigisse um olhar que fosse. Ao menos ela precisava saber que ele estava ali, que ele queria ve-la, mas que a interrupção de seu noivo tivera sido providencial para que Paul voltasse para seu carro ainda mais cheio de duvidas sobre o que fazer. Era preciso por os pensamentos em ordem, redescobrir o Norte, e ser frio aos acontecimentos que viriam a seguir.

Ao voltar pra casa, Paul decide presentear sua esposa. Era uma compensação por ter sido tolo ao ponto de acreditar que uma moça tão jovem iria se enamorar por ele. Não foi possivel, sua esposa estava sofrendo mais um de seus surtos psicóticos e podia jurar que Paul estava acompanhado de outra mulher. Ele já estava acostumado com isso, só que desta vez ela poderia ter razão. Em pensamento, ele realmente estava. Usou de toda sua conversa para acalma-la, deu seus remédios, e a mesma voltou a si, aceitando seu pequeno mimo: um relógio de cômoda com caixa de música embutida. Ela ficara fascinada com o presente, e os dois decidiram jantar fora, deixando as crianças com os vizinhos. Aquele homem que começara sua epopéia extraconjugal pulando de bar em bar, indo a inferninhos de jazz durante a noite em busca de algo intangível, estava, de novo, rebuscando o amor de sua antiga paixão. Mas era tudo um xiste de sua imaginação, ele ainda tinha Anna em sua mente, e não havia nada que ele pudesse fazer.

Paul deixa sua esposa em casa e segue para o primeiro bar ainda aberto às 10 horas da noite. Era o Midnight Boom Boom, um jazz club frequentado por homens e mulheres negros. Naquele tempo, o norte dos E.U.A não era segregado, mas os negros procuravam manter suas origens em lugares próprios. Paul adentra mesmo assim, ele precisava de um jazz fervilhante, algo que lhe fizesse espantar alguns fantasmas de sua mente, e mesmo com o olhares atravessados dos frequentadores, ele pediu seu usual bourbon com gelo. Assim fora o restante da noite, e Paul bebia vada vez mais. Seus cabelos, antes bem penteados, já se desgrenhavam com o exagerado calor do local, e com o ritmo desenfreado daqueles jazistas no palco. É quando ele decide ir ao banheiro, e é abordado por três rapazes do bar.

- O senhor não percebeu que seu tipo não é bem vindo aqui? Diz um dos rapazes.

- Que tipo? Tipo melancólico? Sorri Paul no alto de sua ironia etilica.

- Gente branca não se mistura conosco, e nós não queremos nos misturar com eles.

- Paul contemporiza: Relaxa gente, somos todos iguais. Esta babaquice é coisa de sulista. Querem um cigarro...?

Paul não tem tempo de se defender, e os rapazes o agridem severamente, deixando-o desfalecido sobre o urinol. Seus olhos estão inchados, assim como seus lábios. Alguns dentes tiveram-se perdido e o sangue fluia de sua boca. Os empregados do bar, pressentindo a confusão que aquilo iria dar com as autoridades, jogam Paul no beco atrás da espelunca, e chamam uma ambulância anonimamente. No dia seguinte, Paul está de volta à sua casa, onde sua esposa chora copiosamente por ter dormido só naquela noite, e ainda mais por ver Paul daquela forma. Ele não diz nada e se arruma para ir ao trabalho. Não era momento de dizer nada, era somente hora de digerir a vergonha, suprimir a dignidade, deixar que seus trinta e tantos anos caiam sobre sua cabeça, e se alinhar com sua idade e maturidade. É hora de crescer.

Passaram-se semanas até que tudo se acalmasse na casa de Paul e ele estivera ainda mais concentrado na administração da mesma, dando mais atenção aos filhos, cuidando da manutenção do bem estar de todos da família, papel de qualquer homem numa relação. Anna ainda é um pensamento constante em sua mente, e ele sempre o conduz à dimuição de seu desejo, ao lembrar da cena do noivo na casa dela. Aquilo tivera sido preponderante para tentar esquece-la. No entanto, Paul precisa dizer algumas coisas a ela. Não seria justo deixa-la sem saber que a ama e que estivera lá aquele dia em que seu noivo o antendera. No dia em que se reviram, Anna contou que trabalhava num restaurante/café para sustentar seus estudos e Paul lembrou do nome do local. -Seria certo aparecer por lá, clamando por explicações, podendo prejudicar a moça em seu local de trabalho? Ponderou ele. Ainda assim ele foi, mas seria um cliente no local, e assim poderia, vez por outra, falar algo que pudesse ser importante a ela, com mais discrição.

Ao chegar no Bingo Restaurant and Cafe, Paul já avista Anna no balcão e lhe dá um aceno ainda na entrada. Anna o vê, e dá um sorriso discreto, mas se apressa em pegar sua comanda para lhe tirar o pedido. Paul observa o cardápio e logo chega Anna, dizendo sarcasticamente:

-Olá Senhor, o que deseja?

Paul não resiste, e perde a linha:

-Anna, vim aqui por você!

-Por que não me procurou antes? Já fazem meses que você não deu sinal de vida, diz Anna.

-Eu tentei, mas você sabe, sou casado, tenho filhos, estive com muita coisa na cabeça ultimamente...aquele dia foi demais pra mim.

-Eu compreendo, mas prefiro que você não me procure mais.

Paul muda seu semblante, e perde ainda mais a linha:

Ora, por que? O que te fiz?

-Não faça cena, eu trabalho aqui! Se quiser conversar, venha aqui às quatro da tarde. É minha hora de ir embora, e aí poderemos esclarecer algumas coisas.

Paul balançou positivamente a cabeça e pediu um café com um saduíche de atum, no que foi prontamente servido e dali se foi, aguardando ansiosamente pelo vespertino período para que pudesse expor sua face mais terna. Enfim, declarar-se.

continua...

sábado, 19 de março de 2011

A Beleza Infertil Nas Artes

Me espanta a quantidade de atrizes belíssimas e sensuais na televisão. Há algum tempo percebo o quanto é importante ter estes apelos para se conseguir um papel de ponta, e até mesmo de coadjuvante, na televisão ou no cinema. No caso particular do Brasil a coisa ferve. Recentemente tivemos o lançamento de um filme, autobiográfico, baseado na vida de uma "ex" garota de programa. Nada mais justo como também inútil, por assim dizer. É fato que a protagonista do filme em questão é também a mesma da novela mais assistida do país, onde a mesma também interpreta um papel de uma mulher de moral discutível.

Seria exagero meu, ou podemos concluir que para ser um artista respeitado, nos dias de hoje, temos que abusar de nossa sensualidadeao extremo? Deve ser exagero, estive colecionando algumas memórias e pude perceber alguns paralelos. O cinema americano está recheado de atrizes e atores que sempre apelaram excessivamente à sensualidade como meio de grudar o espectador na tela. Sexo vende, é o mote de muitos dos idealizadores destas produções. Exemplos do passado não faltam. O mais emblemático de todos, em minha opinião, é a atriz Marilyn Monroe. Quem conhece a carreira da moça pode constatar o quanto a mesma sofreu para ter seu talento reconhecido como téspia - eu acho que ela não tinha - mas que fora rechaçado em detrimento da sua infantil, mas marcante beleza. Era flagrante a escolha dos estúdios de cinema por papéis sensuais e de pouca profundidade para Marilyn. De fato, a mesma morreu judiando da própria beleza que, psicologicamente falando, tem papel devastador naquele que deseja ser reconhecido pelas suas qualidades mais intangíveis. O suícidio de Marilyn pode e deve ser um alerta.

Definitivamente, nós, os homens, temos predileção pela beleza infértil. Este conceito pessoal me remete ao fato que a beleza exterior deveria ser o elemento mais mundano e sem relevância quando analisamos os atrativos gerais de uma mulher. Chamo de beleza infértil aquela que está muito ao alcance dos olhos e muito longe dos sentidos desenvolvidos. Tudo isto explica o porquê de "comprarmos" produtos audiovisuais que contenham mais e mais belezas inférteis. Os E.U.A são pontuais no oferecimento constante deste conceito em seus filmes, e no endeusamento de astros que vulgarmente chamamos de beauty whores, na tradução livre, prostituidos pela beleza. A imagem dos atores é vendida como carro chefe das produções, ainda mais quando as mesmas são vendidas a um publico mais jovem e mais ávido por sensualidade constante.

Que alerta podemos fazer, como citado no caso de Marilyn Monroe? A beleza tem prazo de validade. Pode parecer obvio, e realmente é. As artes cinematográficas têm como base a profundidade da estória a ser contada, da diversidade psicologica dos personagens e das atitudes dos mesmos. Para o ator existe o mérito de nos fazer acreditar na estória, nos envolver com sua mística e seus repentes de genialidade artistica. A capacidade do improviso, a colocação em cena, a impostação da voz etc. Todos estes itens estão a frente da beleza nua e crua. Exemplos: Al Pacino e Robert De Niro, para homens e Meryl Streep e Vanessa Redgrave para as mulheres (nunca foram sensuais, ou belos, mas esbanjavam talento). O ator que buscar estes padrões certamente terá vida longa nas telas, e sua beleza, ou feiura, serão sempre secundárias aos olhos do grande publico. O que serão das tão sensuais e deliciosas atrizes daqui a trinta, quarenta anos? Seriam as mesmas vedetes modernas, beauty whores, prostituindo suas belezas em troca de fenomenos ereteis disfarçados de aplausos de homens que não apreciam a boa arte? À medida que a escolha das grandes produções sejam de pessoas somente sensuais e belas, a longevidade dos protagonistas será sempre curta. Nos perguntaremos daqui a uns anos: Onde estará a Débora Secco, onde estará a Juliana Paes, onde estará a ex BBB gostosa? Assim como hoje perguntamos: Onde está a Sonia Braga, onde está a Norma Bengel, onde está a Vera Fischer? Todas elas beberam na fonte do aplauso fácil e cairam no ostracismo a medida que suas carnes caíram murchas após a idade.

O talento é eterno, a beleza não.

quarta-feira, 9 de março de 2011

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O Homem Que Amava As Mulheres

O trecho abaixo foi retirado do filme O Homem Que Amava As Mulheres (L´Homme Que Aimait Les Femmes) de François Truffaut, 1977, que assisti recentemente. Em tese, sintetiza meu apreço e desejo pela figura feminina em suas mais belas nuances. Me sinto à vontade para dizer que, em nenhuma hipótese, sou ou serei um Casanova, apesar de admira-lo muito. Tampouco me importo sobre algumas opiniões que venham a surgir sobre o meu caráter após citar este filme (fato é que poucos o viram ou ainda o verão), por isso danem-se os hipócritas, prefiro morrer sozinho do que restringir meus pensamentos e opiniões por causa de quem seja. Adaptei o texto de Truffaut, narrado pela personagem principal do filme, Bértrand, para a nossa realidade do hemisfério sul, onde o inverno ocorre no meio de ano e não no início do mesmo. Por fim, a quem desejar saber a razão por eu estar citando um filme cult como este, eu adianto somente que não vou ao cinema, somente assisto aos clássicos. Gosto de um filme que me faça pensar, ou melhor, imaginar a realidade, do que entregar, "de bandeja", a fantasia:

"Para mim não existe nada mais bonito de se ver do que uma mulher andando, desde que com um vestido ou saia que mexa no ritmo de seus passos. Algumas mulheres andam como se tivessem um objetivo; um encontro talvez. Outras apenas passeiam com ar despreocupado. Algumas são tão belas vistas por trás que hesito em ultrapassá-las, temendo ficar decepcionado. Porém, nunca me desaponto. Quando elas não me agradam de frente, me sinto aliviado de certa maneira; pois, infelizmente, não posso ter todas elas.

Milhares delas andam pelas ruas diariamente. Mas quem são todas essas mulheres? Para onde vão? Dirigem-se a algum encontro? Se o coração delas está livre, então seus corpos devem ser pegos, e creio que não tenho o direito de deixar passar essa chance. A verdade é que elas desejam a mesma coisa que eu: elas querem amor. Todo mundo quer amor. Todos os tipos de amor: amor físico, amor sentimental ou simplesmente a ternura desinteressada de alguém que escolheu outro alguém para a vida toda, e não tem olhos para mais ninguém. Não me encontro nessa situação; olho para todas.

As pernas das mulheres são compassos que percorrem o globo terrestre em todos os sentidos, dando-lhes equilíbrio e harmonia.

Como alguns animais, as mulheres praticam a hibernação. Durante dois meses elas desaparecem. Não são vistas. E então, no primeiro raio de sol do verão, como se tivessem combinado ou recebido uma ordem de mobilização, elas aparecem às dezenas nas ruas, com roupas leves e saltos altos. E a vida recomeça.

Uma bela perna é maravilhosa, mas não sou inimigo dos tornozelos grossos. Posso até dizer que me atraem: são a promessa de um alargamento mais harmonioso subindo ao longo da perna. As pernas das mulheres são compassos que percorrem o globo terrestre em todos os sentidos, dando-lhes equilíbrio e harmonia.

Recentemente percebi que no inverno sou atraído por quadris grandes. Entretanto, no verão, gosto dos menorzinhos (citação do blogueiro, a original se refere a seios). Duas pequenas peras andando de braços dados. Mas o que têm todas essas mulheres? O que têm a mais do que todas as outras que conheço? Bem, justamente, o que têm a mais é isso: elas ainda me são desconhecidas."



Merci, Monsieur Truffaut! Trés Belle!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Ti Piace La Pace?

Vamos dar um tempo nos textinhos sentimentalóides e falar de coisas mais adequadas ao Blog. Minha musa está em outra Egotrip e eu estou "numas" de mandar bala em textos mais adequados à minha personalidade irônica, e de certa forma, patética em alguns aspectos. Acredito que este texto traz alguma utilidade publica, por que não? As pessoas vivem sendo enganadas, ou melhor, tiradas como estúpidas perante diversos conceitos que explodem vez por outra nos meios de comunicação. Alguns conceitos chegam a ditar comportamentos, romper paradigmas e dar diretrizes a pessoas...digamos...despreparadas (estou light nas ofensas hoje).

Todos gostam de paz, não? Aquela paz muito difundida pelo movimento hippie da década de 1960, cujos predecessores, os beatniks, eu admiro muito, pessoalmente. Paz é realmente uma utopia, é algo reconfortante, é simbólica, quase iconoclástica, ou ao menos é o que a contra cultura quis nos dizer. Paz é balela! O mundo nunca estará em paz, e o conceito de paz mundial é risível, coisa de quem é inocente demais, ou talvez alienado demais às questões humanas, sociológicas, encravadas no nosso comportamento pelos milhares anos de nossa existência.

A paz, na prática, é intangível porque é antagônica sob o ponto de vista da nossa espécie. Aliás, de quase todas as espécies. Os conflitos existem para estabelecer-se a paz, pois sem os mesmos a paz não existiria nem em nossos vocabulários. Somos guerreiros, antes de tudo. Nossa civilização somente existe por causa das guerras passadas, as conquistas. A motivação para a conquista de novos mundos, a descoberta de novas tecnologias e bem estar como um todo só veio por causa da vontade em dominar e derrotar o outro. Sem o motivo da rivalidade, a motivação para que a humanidade crescesse iria vir de onde? Da religião? Certamente não, sempre foi o objetivo do catolicismo, por exemplo, ver seus fiéis pobres, ignorantes e sem aspirações, de modo a nunca perderem a fé em sua força magnânima invisível, mas onipresente.

Ora, se a guerra nos faz bem, por que a abominamos? Simples, a busca incessante pela dominação e poder, pode nos levar, enfim, a não existir mais. Até mesmo a guerra tem equilíbrio, ela só persiste quando não nos afeta quanto a perpetuação de nossa espécie. Por isso, o conceito de guerra nuclear é coisa de ficção científica. A única coisa que evitou que duas grandes potências nucleares do século XX, os EUA e a USSR, se destruíssem mutuamente num conflito mundial foi exatamente a idéia que aquele seria o único e último ataque da história da humanidade. Neste caso, o limite para os envolvidos não era somente as baixas humanas, e as ecatombes econômicas a seguir, mas sim o próprio conceito de autoextinção, este sim, um freio natural para qualquer conflito.

É fato que, durante o período da Guerra Fria, experimentamos uma "paz" interessante, onde guerras em escala mundial como a I e a II não ocorreram. Seria loucura, mas a teoria é que duas potências antagônicas que podem se destruir, umas as outras, são um grande impulso para a paz mundial. O simples fato de uma poder monitorar e destruir a outra já são brochantes o suficiente para que as duas tentem iniciar um conflito. Funcionou naquele período, mas só naquele período. Vêem como o conceito de paz, pela paz, é ridículo? Simplesmente não existe.

Depois da queda da USSR e a manutenção dos EUA como única potência, os conflitos bombaram, literalmente, no mundo. Um único poder nuclear comandou no inicio do século XXI todas as ações militares que se têm conhecimento neste período, abaulando o Oriente Médio e dividindo-o entre amigos dos EUA e inimigos dos EUA. Claro que o terrorismo tem papel preponderante em tudo isso, mas é fato que o terrorismo árabe nada mais é que uma reposta à intervenção constante dos EUA no mundo em geral, quase sempre desastrosa. A paz, que tanto os americanos apregoam, não passa de instrumento de propaganda de dominação politico-economica no mundo, e é altamente lucrativa. Ao vender-se o conceito de paz, todos compram um único conceito da mesma, num mundo que, apesar de globalizado, tem diferenças marcantes neste quesito. A paz para um árabe não é mesma que para um americano. Logo, a imposição de conceitos, gera conflitos. Adeus paz.

Contudo, este século demonstra mais uma solução para a paz momentânea, e tudo passa pela idéia que a economia americana está em ruinas após dois governos desastrosos. A emergente China vem ensinando ao mundo como ser grande e nunca conflitar interesses com outros grandes. Como? Comércio. Sim, a solução estava no passado! O comércio entre as nações sempre foi a melhor maneira de se manter a paz entre elas. Nenhum país entra em conflito com o outro que lhe provê lucros, ou produtos essenciais para seu crescimento. A China está se tornando a maior compradora e a maior vendedora do mundo, ela sustenta diversas economias no mundo, inclusive a americana. Ou seja, quem irá querer guerrear com eles? A não ser que o país seja dirigido por um ditador altamente estúpido e tacanho, que não perceba os benefícios da "paz comercial". Para quê ver um país destruído se ele tem, por exemplo, reservas de um insumo muito bom na nossa produção? Invadi-lo? Não me trará benefícios, preciso que eles estejam bem economicamente para que nós também estejamos. Assim se tem um conceito de paz mais límpido.

É, não era aquela teoria hippie do paz e amor, com seus conceitos tortos de paz forçada pela pura vontade de estar em paz (drogado), vivendo em comunas auto suficientes, andando nu etc... Pessoas assim ignoraram o simples fato de sermos humanos, animais racionais, por assim dizer, que têm interesses. Sejam as nações, vizinhas, seja nossa própria vizinhança, sempre haverá diferenças nos interesses entre elas, sempre haverá conflitos. A idéia é que troquemos os antiquados métodos bélicos pelo transporte de mercadorias, dando vazão ao livre comercio sem fronteiras. Quando todos os países estiverem inseridos no quadro comercial mundial, aí sim, experimentaremos anos de paz, fomentada pelo desenvolvimento e pela inserção das nações nos patamares economicos adequados às suas culturas. A paz mundial não é imposta por grupos pacifistas, é alcançada ao entendermos que o mundo é imenso e as culturas são diversas. Ao respeitá-las e querermos vê-las prosperar, nós também prosperaremos. É o livre comércio como maior instrumento de paz mundial. Pensem nisso.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Um Ode à Uma Musa Carnal

Naquele exato momento em que beijava seus lábios íntimos, sentia suas magnificas pernas a apertar minhas orelhas e meu coração, já corrompido pelos encantos da sua vertiginosa forma insinuante, palpitava a cada absorção de seus fluídos perfeitos, sorvidos pela minha afável e doce boca. Minhas papilas gustativas explodiam em extase a cada linha de sabor almiscarado, e eu era, naquele momento, o menor dos homens e o maior dos homens.

Tão forte fora a eternidade de nossas cálidas noites, que marcas rançosas foram deixadas abertas, como feridas gangrenadas, nosso desapego comparava-se aos membros perdidos das tais feridas. Foi a mutilação da lapa de carne vívida e vermelha que alicerçava nossa breve e doce união. A idéia que certas coisas simplesmente não devem ser, ou não podem ser, martela meus sentidos e me dá a certeza que a negação é viável, mas não eterna. Das coisas que aprendi contigo, a que mais indelével me foi é a certeza que somos incompatíveis como óleo e água. Separados somos fortes, divididos persistimos e juntos nos destruímos.

Divino era aquele sorriso grotesco, mas sublime, que emanava de tua face lívida, embossada...tu já riste alguma vez em sua vida? Sentia um misto de ódio e asco ao querer desfazer a tua inconteste confiança que me abalava a mesma, meus nervos se punham à flor da pele, queria te esmurrar o rosto até que te jorrasse sangue em cântaros. Não pude. Houvera sido demasiado fanático por teus deslizes emocionais, que tanto era melhor manter meus pensamentos de violência podre presos em minha imaginação. Nada mais. Me punha a socar concreto quando tu me viravas as costas, expondo cicatrizes jamais fechadas em meus punhos duros e calejados. Comedimento não fora meu forte naqueles dias.

Engraçado era quando te fazia chorar. Ali me restava somente uma satisfação quase dantesca de ver seus olhos marejados e tua personalidade em frangalhos perante a mim. De repente, eu era um pouco teu dono, eu me apropriava das tuas pálpebras e me gabava. Cada palavra que saía da minha boca era como uma metralhadora verbal, disparando 30 mil verbetes por hora, todos afiados e quentes, a rasgar a tua macia e alva pele, a qual me dava surtos eréteis quando te via nua em pelo. Sim, eu era sádico, nós nos sodomizavamos um ao outro sempre que possível, como meio de descobrir quem iria puxar a carroça, e quem iria ser levado por ela. Jogos de amor, jogos da mente.

Ah, a alvice da tua cútis...um convite ao prazer. O vermelhinho de seus calcanhares, sempre esfoladinhos pelos sapatinhos inapropriados, carregando aquele infame band-aid que mal se mantinha ali, agarrado. Eu a curava, eu a currava quando a via tão superficial, tão horizontal, tão doída, eu te passava as mãos pelos calcanhares na breve ilusão de conseguir invadir seu corpo. Te currava, sim, sempre conseguia após te esfregar os calcanhares, lembra? Que pelezinha tão alva, tão livida, era uma visão angelical, era definitivamente, contraditoriamente delicioso ver seu rosto vermelho e suado depois daquelas horas de fornicação non-stop. Aquilo me fazia lembrar sempre que estavas viva, eu estava vivo, vivíamos carnalmente.

Tu eras maldita em minha boca, eu era canalha na tua. A grande repulsa mútua que nos estranhava também nos mantinha juntos. Porra, era uma tremenda besteira! Desdenhávamos daqueles casais perfeitos, que se derretiam em elogios mútuos, vazios, com o simples objetivo de curtir com nossa cara, lembras? Nos faziam rir descaradamente. E as deliciosas discussões sobre o país e sobre nós e sobre a vida e sobre a morte e sobre nada? E aquelas comidinhas temperadas com estupidez e insensatez que provávamos semanas a fio, num misto de alimentação e perversão sexual deslavada? Alías todos sabem que eu tenho uma relação lasciva e depravada com a comida. É um traço dos malditos filhos de Baco, a luxúria e a boa mesa. Tu me escarnavas sobre o quão tolo era meu prazer em comer e beber. - Bebo e como, sua vaca, bebo e como. Assim como ando e cago para seus comentários vulgares sobre meu comportamento e desvios de personalidade, eu dizia.

Devia ter te matado por ter me dado tanto por melancolizar, ao menos na minha mente tu já morreste. Não choro em tua lápide, não escrevi nada em prol do teu epitáfio, não te homenageei em vida e não o farei em morte. Tu estás morta, ao menos para mim. Mas tu me fazes uma falta tremenda. A nossa contradição perdura, os nossos opostos querem, pelo magnetismo científico e natural, se atraírem de novo. Talvez possa morrer para mim mesmo, para que possa te encontrar, espiritualmente, no inferno da minha mente, onde nossas estórias perdurarão para sempre. Um suicídio mental...quem sabe?

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Fobias e Obsevações dos Excessos

Me considero um observador lunático, quase um voyeur, mas sem a conotação sexual que o nome carrega. Por vezes, em locais públicos, tendo a me recolher a alguns pensamentos julgadorezinhos de alguns tipos que passam em minha frente. Devo dizer, de antemão, que é uma prática ridícula, até posso concordar, mas altamente engraçada e um alimento pra minha personalidade meio "bobo da corte", que a posteriori me causa risos descontrolados em momentos de introspecção plena.

Não gosto muito de aglomerações de pessoas, pois sinto-me como num aquário repleto de espécies distintas, predatórias ou não, e isso é muito desesperador. Sempre fujo destas situações, mas quando me encontro assim passo para um estado de observador, aí me sinto como um homem num zoológico, apontando e fitando as diferentes figuras. De repente não sou mais o peixe dentro do aquário, sou somente um espectador do show de horrores que a humanidade está se tornando.

O que vocês querem é saber minhas impressões, não? Aquele escárnio que promovo a cada postagem neste Blog, um alimento para leitores loucos por algo que choque logo de cara. Vamos lá, eu odeio ir ao Shopping Center, mas sou obrigado a ir por diversas razões, que pouco importam. Já de cara, temos um ecossistema muito inerente a este tipo de estabelecimento, repleto de figuras indeléveis. Vemos aquelas moças, entre 13 e 17 anos, que se desenvolveram cedo (fenomeno bem atual, este), e colocam suas roupas demasiadamente provocantes para que alguns homens feitos tenham crises de consciência, especialmente aqueles que são pais. Não, não quero olhar, dizem eles, vamos olhar as vitrines, mas....como pode? Como pode? Estas moças são jovens demais, mas ainda assim meus olhos não se desviam. É um tormento! O mais engraçado é que elas sabem disso, mas nem imaginam o efeito que este vestuário causa nas mentes mais...digamos...livres, compreendem? Naquele microcosmos elas se sentem seguras pra isso, mas será que estão mesmo? Enfim...

Olho para o outro lado, para as vitrines, cafés, sei lá, me deparo com rapazes agindo de forma feminesca, com roupas coladas e coloridas. Eles também são bem jovens, e se acariciam como um homem a uma mulher, mas todos são homens, com seus MP3zinhos no ouvido, e celularzinho da maçã meio comida nas mãos. Ora, seu tolo, são meninos homossexuais! Eles também encontram no shopping a sua paz para agir como preferem. É um sinal dos novos tempos, como já descrito aqui anteriormente, ou seja, hoje este comportamento é mais comum e aceito, apesar dos atos infundados de violência por aí.

Depois de uns sorrisinhos irônicos de minha parte, vou tomar um chopp. Um pouco de álcool aumentará meu poder de observação, me dando quase uma visão de raio-x. Sorrio mais um pouco, e penso: Seria ótimo ter visão de raio-x, ainda mais dentro da área de provadores femininos! Babaquices a parte, o chopp me cai bem, e eu continuo a observar.

Passando para os pequenos detalhes, percebo as similaridades comportamentais de alguns seres, por exemplo: Homens com problema de calvície raspam seus cabelos, para disfarça-la melhor. Desta forma conseguem até um visual mais agressivo, muito dinfundido pelo ator Vin Diesel em seus filmes "a la zé ruela". Acredito ser o objetivo dos mesmos evitar demonstrar às fêmeas que, apesar da carequice, eles não perderam sua masculinidade. Tanto que alguns até fazem tatuagem, colocam blusas regatas, malham etc. Tudo isso pra tirar a atenção da careca. Este fenômeno se repete também com os homens negros, ou seja, eles raspam todo o cabelo. Nunca mais vi um homem negro com cabelo, é cada dia mais raro. Interessantíssimo. Tem também as mulheres que, por terem pouco tamanho nos quadris, investem num salto mais alto, mas alto mesmo, além de calças bem apertadas, para tentar disfarçar esta nuance de seus corpos. Interessante também é a quantidade de mulheres de cabelos lisos e loiros neste país; quero dizer; somos uma nação de pessoas, em sua maioria, morenas e com cabelos ondulados. De repente o Brasil virou a Escandinávia, e as loiras de cabelos liso bombam, até mesmo entre os machos. Homens que curtem uma mulher de cabelos cacheados (eu) estão em extinção. Elas, claro, fazem, em si, as coisas que mais atraem os machos. Homens e mulheres de óculos escuros dentro de um local fechado, mulheres com roupas sensuais demais, homens com calças jeans femininas, pessoas comendo fast food como porcos comem lavagem, adolescentes falando alto demais, crianças desgarradas chorando, pessoas mexendo em seus ultracelulares, falando com sei lá quem a todo o momento, mulheres comprando sapatos que nunca usarão, homens comprando, mulheres comprando, vendedoras gostosas empurrando mercadoria, excesso de mulheres de cabelos alisados...foi demais.

Meus olhos "explodiram". Era muita informação para uma pessoa só, e eu observei demais. Há variedades demais de seres humanos, há pessoas demais nesta terra. Vou fechar os olhos um pouco, processar as informações. Aquela fobia de excesso de pessoas está voltando, preciso tomar mais um chopp. O suor escorre da minha cabeça, minha mãos também suam. Devo satisfazer mais uma leva de leitores com minhas vazias e obtusas observações sobre o mundo? Talvez o observador esteja se tornando o observado, quem sabe? Mas esta já é outra fobia...