segunda-feira, 31 de maio de 2010

Sobre A Vaidade Feminina

Minha avó, já falecida, sempre dizia querer ter nascido homem. Era a voz de uma mulher que havia vivido num período difícil, num local estranho à felicidade feminina. Há setenta e tantos anos atrás, não havia muito do que se regozijar ao se descobrir fêmea. Pulando décadas no tempo, para não perder o objetivo do texto, a mulherada conquistou tudo, a torto e direito, e hoje é notável o orgulho que elas ostentam na sociedade, ao se demonstrarem altivas em muitas situações onde, antigamente, se esconderiam ou se absteriam de dar a cara pra "bater".

O objeto desta missiva é a vaidade feminina. Roupas, cabelos, unhas, sapatos, perfumes, lingeries, maquiagem, cintas etc. Para algumas mulheres pode ser motivo de riso, mas para a maioria são itens importantes para que, ao menos, possam por pés para fora de casa. Sou um mero trabalhador do centro da minha cidade, e lá trabalham muitas, mas muitas mulheres. Muitos homens podem somente admirar dotes, ou protuberâncias, mas alguns, como eu, olham além. Observo e me antento ao fato de muitas virem ao trabalho de salto alto. Eu não sou nenhum conhecedor de moda, na verdade a ignoro veementemente, entretanto não posso deixar de sentir pena por aquelas doces criaturas. São distâncias grandes a serem percorridas à pé para se andar por aí de salto. Será que compensa ter dores lancinantes nas articulações e coluna para se andar sempre "empinada"? É complicado dizer, mas acredito haver situações mais condizentes com o uso desta peça de vestuário tais como festas, saídas a restaurantes, teatros, cinema e até mesmo para dançar. Mas ao trabalho não se deveria usar algo mais confortável?

É fato que as mulheres do passado também foram escravas desta vaidade. Há séculos as mulheres, de alguma forma, sofrem para exibir o que têm de melhor, e os homens sofrem para não passar do limite sociável com as mesmas. No século XVIII era comum as moças da alta sociedade usarem cintas apertadíssimas para moldar suas cinturas. Sabe-se que esta prática era tão nociva, que em casos agudos realocava os orgãos da porção inferior do tronco, e os esmagava para a região intestinal, causando desconforto e dores terríveis. Perucas também eram parte da indumentária do período, mais pelo fato de os cabelos das pessoas à época não terem a mesma saúde das pessoas de hoje, ou seja, eram cabelos falhos e mau cheirosos. Ainda neste período surgiu a figura do Marquês de Sade, que submetia suas mulheres a uma miríade de torturas e pequenas atrocidades em prol da sua sexualidade, dentre elas o uso de roupas e acessórios que causavam dor para elas, e prazer para ambos. Freud explica! Ou não.

Com o tempo, novas torturas para melhorar a aparência surgiram, e nos remetem aos dias de hoje novamente. Além do salto, quero pontuar algumas outras peças do vestuário, que atiçam os machos, mas que devem ser terríveis para quem usa. Quero pontuar sobre o aperto das calças. Vivemos num país onde, felizmente para mim, as mulheres têm proporções "Boterísticas", não que sejam gordas e sim portentosas. Diferentemente do físico das francesas, por exemplo, que esbanjam magreza excessiva, as brasileiras são sensualmente generosas nos quadris e coxas. Eu pergunto, é possível que uma mulher consiga conforto em suas partes íntimas e liberdade de movimentos usando um jeans apertadíssimo, ou melhor, dois números abaixo do correto, para ela, além de estar de salto? Pois bem, o centro da minha cidade está abarrotado de mulheres em calças apertadas e saltos altos. Será que elas trabalham felizes e confortavelmente? Duvido muito. O pior é que para usar uma calça tão apertada, precisam usar calcinhas menores ainda, pois é uma gafe modística que as mesmas fiquem marcando na calça como "calçolas" da vovó. Ou seja, é o sonho de qualquer Ginecologista, e um alento à indústria farmacêutica que produz antifungicidas íntimos. Não se esqueçam que nosso país é quente demais, quase equatorial. É só juntar um fato no outro, e concordarão com a idéia.

A ditadura da beleza, no Brasil, é algo irrascível, ainda mais numa cidade litorânea como a nossa, onde os atributos de beleza são de longe mais valorizados que coisas mais importantes num ser humano. É natural. Entretanto, não se deve jamais se perder a ótica crítica mediante a uma situação onde se perecebe o sofrimento humano em prol de algo vazio, inócuo. A pergunta que não quer calar é: esta mulher vaidosa quer seduzir? Ou melhor, seduzir quem? Na minha modesta opinião, ninguém. É muita inocência do homem acreditar que aquela mulher está ali, linda, cheirosa, curvilínea para o deleite do seus olhos. Não está. Experimente assediar uma estranha na rua baseado nas roupinhas dela. É mão na cara, com certeza. Na verdade, é como uma competição, ela está assim para "peitar", literalmente, a mulherada em geral. Ela quer se destacar perante as suas "concorrentes". Até mesmo a atenção masculina é objeto de disputa, e aquela mulher que é mais assediada, por assim dizer, é normalmente a mais odiada pelas outras. A ciência explica. Mulheres, apesar de não terem mais hormônios masculinos que os homens, obviamente, são mais chegadas num conflito pacífico, daqueles que não rola disputa física (por vezes pode ocorrer, sim), mas a coisa toda ocorre nas entrelinhas, nos detalhes, onde homens preocupados demais com o sexo tendem a ignorar. Até mesmo porque nós somos um gênero mais unido, respeitamos mais nosso semelhante congênere. Elas gostam de guerras silenciosas, mas acredito serem mais cruéis em seus jogos.

É, portanto, algo natural que mulheres de um país como o nosso, rodeado por beleza corporal tão latente, exibam este atributo, a beleza, como seu maior instrumento de destaque dentre suas rivais. A indústria sabe disso e trabalha por elas, quase nada neste meio é feito para homens. O Brasil goza de uma clima perfeito para que as mulheres usem as roupas que desejarem, e que não se escondam atrás de casacos e guarda chuvas, como tanto pude presenciar em países da Europa, frios e nublados. Neste interim, as fêmeas se degladeiam como podem. Sofrem, é verdade, mas para nosso deleite, expõe aquilo que deveriam esconder, aquilo que têm de mais íntimo. Sofrem em momentos que deveriam prezar a concentração, a boa produtividade. Se deprimem, quando não atingem seu ideal de Vênus, comem para suprir esta lacuna. Se deprimem, novamente, por estarem fora de forma. Veem as atrizes da televisão, igualmente exageradamente belas, não se acham tão belas assim e se deprimem de novo. Descontam em mais chocolates, fazem academia, mostram mais as curvas, elevam mais o salto, põem uma cinta mais apertada, exageram na maquilagem, dizem não querer filhos, eles engordam (MEU DEUS!). Ganham calos nos pés, vão no podólogo, ganham rugas, usam botox, fazem Lipoaspiração, usam biquinis menores, ficam assadas nas pernas, se depilam, usam creme antiacne, antirugas, antihomens, antitudo. Viram bissexuais, ouvem Ana Carolina, Simone, ficam amigas de um homem gay, eles as derrubam - não sabem? - Eles sonham que os machos virem putos tornando as mulheres mais feias. Voltam a ficar hetero, caem na balada, transam com um estranho, voltam pra casa, se resignam e envelhecem sem traço qualquer de dignidade. É a conta da vaidade que o tempo cobra...

E não é que minha avó tinha razão? Ainda bem que nasci homem! Só me preocupo se meu time vai ganhar ou se meu carro tem arranhões.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Uma Madrugada, Um Carro, Um Solitário

Acho que foi num sábado à noite, meio friento, blasé, que me encontrava chateado com algumas coisas, estava enfastiado com a estupidez alheia, ou a minha própria, sei lá. Resolvi pegar um carro de estimação (sou entusiasta destes troços de quatro rodas), muito querido, de valor sentimental incontável, e rodar com o mesmo, sem muita direção e objetivos reais. A cidade onde moro é muito peculiar, tem tipos interessantíssimos, mas nesta noite em particular, queria os ignorar. Queria só queimar aquela gasolina velha naquele tanque de mais de dezoito anos, queria somente fazer os injetores trabalharem em alto fluxo, frear forte e sentir as pastilhas em chamas, com seu cheiro de amianto borbulhante. Era uma oportunidade única, senão rara. Minha cidade estava vazia, é outono, não há mais aqueles oniscientes turistas, e seus passeios aleatórios na avenida da praia a menos de trinta quilômetros por hora, observando a beleza impar de nossos jardins à beira mar, ou tentando pegar uma última olhada numa bunda estonteante caminhando, ornada com um belo vestido ou shorts curtos, antes de pegarem estrada de volta para as suas vidinhas escrotas. As avenidas estavam livres, era um convite a uma pilotagem consciente, a um festival de esticadas naquele elástico clássico seis cilindros em linha, e paradas obrigatórias em semáforos desnecessários.

Esperei o motor esquentar. Seus tuchos são mecânicos e exigem esmero nas primeiras acelerações. Como um médico, calculei cirurgicamente a tocada, e dosei nas rotações por minuto, até que o barulho metálico das guias de válvulas cessassem. Passaram-se as esquinas, estava frio, deixei os vidros a meia altura. Não liguei o rádio, não há claves musicais que substituam aquele borbulhar dinossáurico somente ouvido em unidades de força como esta. Estava em extase. Era a minha droga, o meu estado repentino de paz equacionava-se em ecos de sons advindos do escape, que refletiam nas esquinas e paredes das estranhas construções desta cidade. Num certo momento senti que ela estava pronta, e resolvi buscar o estridente som aviônico vindos de um coletor em plena exaustão dos gases, com seis ou sete mil rotações por minuto a cada estouro de marcha a frente. O coração palpitava, parecia que aquela era a primeira vez. Não era. Era somente...especial, como todas as outras vezes. Era só mais uma carga de adrenalina liberada em doses cavalares pelas minhas suprarenais, e assimilada pelo corpo, como se a minha frente não houvesse mais nada, senão a redenção. Reduzi, com vontade, pois a responsabilidade me chama.

Resolvi entrar em cruzeiro e a última engrenagem duma caixa de marchas automática, pero no mucho, em comparação com as maravilhas de hoje, me fizeram assumir aquele estado zen no volante, que só motoristas experientes conhecem. Você está alerta, mas relaxado, seu corpo esmorece nos assentos de couro, a suspensão moleja ondularmente pelas "maravilhosas" e "bem cuidadas" vias daqui. Sinto os amortecedores baterem seu curso total, um som seco e oco chega aos meus ouvidos, e me decepciono com as ruas, com o país, com os caminhões. Enfim, me solidarizo com meu amigo de aço, peço desculpas pelo mau jeito, e me desalinho com os buracos. Um grupo de garotos, recém saídos de alguma boate, ou bar, para do meu lado. O som está alto, ouvem algo como Hardcore ou Ska nacional, acho que Charlie Brown Jr, senão me falha a memória, já em frangalhos. Estão num desses carros bem modernos, decorados, japoneses, silenciosos, rápidos e fáceis de manejar. Não me importo com as provocações, sinto na verdade um grande alívio, afinal de contas, por que foram escolher logo meu veículo? Respeito é a resposta. -Não vou correr com vocês, caras, não aqui - com um sorriso irônico. Me perguntam os incautos: -que carro é esse, grande? Não respondo, arranco com vigor e deixo que a máquina dê seu cartão de visitas naturalmente, se apresente aos meninos. Eles ficam pra trás e eu volto à minha experiência.

Em algum momento deste passeio me lembro de algumas coisas na vida. Por alguns minutos penso num objetivo, num lugar para ir. Será que lá encontrarei a resposta desta saida, aparentemente, sem utilidade? Não, lá não encontrarei ninguém, somente um espelho da minha própria insistência inescrupulosa, é melhor vagar mesmo. Paro num posto destes com loja de conveniências, meu companheiro também precisa se abastecer. Dou a ele as octanas que precisa, e vou também tomar algo. Tempos modernos e bom senso me dizem para evitar o que os outros ao meu redor tomam naquele local. Peço um café para viagem, sem açucar, sem leite, para bebericar mesmo. Vejo as pessoas bem alteradas por lá, transformam o posto num bar, numa boate, num centro de entretenimento a céu aberto. Moças bonitas, jovens, deliciosas. Rapazes com roupas coloridas, bonés reluzentes e falando alto. Alguns ouvem música alta, seus carros são incrementados, atolados de acessórios sem muita utilidade. São jovens, querem se divertir e têm pouco dinheiro. Um brinde a eles, eu penso. Respeito muito quem sabe curtir, mesmo não gozando de grana no bolso. Ricos são chatos pra c...

Meu café há tempos gelou, me vejo um tanto longe de casa. Nem olho o odometro, mas sei que rodei bastante. Acho que vai amanhecer logo. Não mais quero correr, ou andar devagar. Meu amigo de aço se tornou uma companhia enfadonha, ligo o rádio, ponho um CD. Pink Floyd, Dark Side Of The Moon. Nossa, já ouvi este álbum de trás para frente, e ainda assim o mesmo é capaz de me fazer transpirar, pensar, viajar sem sair do lugar. É uma ótima idéia, continuemos o passeio. Acho que estamos indo muito bem, minha cabeça se sente melhor, mais propensa ao sono pacífico e onírico. Aquela inquietude está passando e eu abro o porta luvas em busca de uma bala, ou drops que esteja por ali, jogado. Encontro um puro, um cubano, um delgadito, que há tempos estava guardado, não me lembrava mais. -Sabes bem? Esta madrugada está se tornando uma das melhores da minha vida, pensei. Acendi o bastardo, há meses não punha um na boca. Podia ser mais completa? Claro, poderia sim...eu adoraria que fosse...mas estava bom daquele jeito. Eu estava sendo eu, estava feliz sendo só, estando só, numa coisa minha que só eu valorizo, olhando pessoas, paisagens, apreciando o momento. Era a reflexão, mais um episódio do autoconhecimento, era a homologação de um cara legal, num carro legal (é legal mesmo - COOL), fazendo coisas legais para ele. A música, a gasolina, o charuto, o café, os bêbados, os meninos, as mulheres, Charlie Brown (risos), Pink Floyd, tudo isso, porra. Já estava na esquina de casa, sorri, desliguei a máquina. Ouvi os estalos de metal esfriando, estava realizado por aquele dia e seu desfecho. Acho que vou trocar o óleo, ou as velas sei lá...amanhã penso nisso.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Aonde Errei, Hein?

Estou assombrado! Fazia muito tempo que estava resignado a uma situação de puro cotidiano, expectativas medianas, num marasmo gostoso, onde nada excita, nada nos trava e tudo parece normal, até demais. Me enganei. Mais uma vez - que ótimo! - resolvo complicar algo fácil demais de se levar, de se tolerar e até rísivel de alguma forma. Não é engraçado quando somos confrontados com alguns desafios, que de tão improváveis, queremos assumi-los como algo mister na vida? Fui desafiado a, de novo, provar do amargo gosto do amor sem recíproca.

É uma idiotice sem fim querer ser amado por alguém, esperar reconhecimento, valorização, é coisa de incalto. Já passei desta fase, preciso criar alguns calos sentimentais e evitar cair em tolices. Fica complicado para a autoconfiança de qualquer um ser sempre negado na hora em que mais se entrega. Tenho que parar, preciso cortar os vícios, especialmente a intransigência e a cabeça dura, essa sim, não condiz com a minha personalidade. Não sou teimoso, sempre digo. Sou insistente, é diferente. Se algo me parece improvável, ou melhor, longe da realidade, prefiro me afastar gradativamente.

Contudo, o que se fazer quando você se afasta e o objeto do seu vício, soslaiamente, reaparece sem motivo algum, dando indícios de desejos ocultos? Caio de novo na esparrela de lhe dar meu valoroso minuto de atenção? De desperdiçar minhas doces palavras e bons fluidos com gente que está mais preocupada e em se autovalorizar, e para tal, desvalorizar outros? Não, é burrice demais. Insistir em ser diminuído está mais ligado até mesmo ao masoquismo, coisa já citada por aqui. Não estou nem para sádico e nem para masoquista. Sou só mais uma criaturinha buscando ser feliz, e nada mais. Não me proponho a cair em jogos adolescentes de amor, numa busca incessante de quem tem a "mão' numa relação perversa e sem sentido.

Estou em outra. Não que me felicite viver um marasmo, uma mesmice. Quero excitação, quero movimento, descobertas e razões mil para viver, assim como qualquer um. Mas não posso ser um tolo a ficar tentando descobrir charadinhas jogadas a esmo por aí, com o intuito de perceber se sou amado ou não. Não, não serei o peixe que irá fisgar sua isca. O rio está cheio de iguarias igualmente deliciosas, que me podem saciar a fome da mesma forma que você me satisfez. Você é só mais uma pessoa, quer controlar aquilo que não tem sob controle. Quer distante, e ao mesmo tempo perto alguém que te faça sentir maior do que realmente é. Você é nada mais que um protótipo de ser humano ainda, precisa se decepcionar muito para que possa chegar a um alto nível pessoal, valorizar os sentimentos dos outros e respeitá-los. Evolua!

Quanto a mim, quero de novo me apaixonar pela vida. Quero reencontrá-la, pois com o tempo percebo que a mesma está em contagem regressiva para mim. Quero viver alegrias, e tenho as ferramentas para isso. Amargura e melancolia não fazem parte da minha personalidade, nunca fui falsamente alegre e nem genuinamente triste. Dou forças a quem divide da mesma idéia que eu, e felicito quem consegue por tudo isso em prática. Eu vou tentando aqui, como no dito popular, "dando murros em ponta de faca", e um dia, talvez acerte, de alguma forma, uma superfície macia, que me dê a paz que necessito para ser feliz. Estou evoluindo demais, e quero levar alguém comigo nesse processo.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

O Quadro Atual

Certos aspectos na minha vida são surreais. Citando Sócrates -o filósofo, não o jogador- demorei muito tempo para entender que nada sei, alvejando minha pobre auto estima com questões e mais questões do que, para mim, seriam chaves para a definição correta de felicidade. Tenho certas realizações pessoais intangíveis, mesmo sendo ainda muito jovem, que jamais perderei. Longe de serem algo material, as coisas que me realizam são inabaláveis, incontestes, são frutos ou não da minha fértil imaginação. Passo horas, e mais horas pensando no presente. Isso mesmo, passei a perder paulatinamente, com o tempo, preocoupações estúpidas com o passado e com o futuro. Isso é uma puta realização, viver o presente como ninguém.

Ferramentas não me faltam. Recebi boa educação, fui bem instruído, conheço coisas, pessoas, o mundo... não estou aqui em vão. Passa-me agora um outro traço de alegria na minha e na vida de qualquer um: tem gente que gosta de mim. Isso não é maravilhoso? Tem coisa mais destrutiva na vida do que ser odiado, ou melhor, desgradável aos outros? Sou bem quisto. Tem gente que senta comigo por horas, e ouve minhas mais ridículas anedotas, tem gente que lê o que escrevo por aqui, tem gente que me deseja vivo, saudável e feliz. Tem gente que eu admiro. Sim, não são só autores, músicos, desportistas mas também pessoas me fazem ficar admirado. Muitos podem ver isso como humildade, mas eu entendo ser uma virtude de se auto reconhecer menos, por vezes, e analisar a outra pessoa livre de egos e invejas. É uma virtuosidade monstruosa saber reconhecer aqueles menos célebres, mas tremedamente importantes em sua vida. Sou grato por isso.

Nessa eterna ignorância assumida, que só vem com tempo, surgem outros questionamentos, ainda mais dolorosos mas presentes. O coração, eufemisticamente falando, é completo? Não. Estou explorando os limites do meu coração ao extremo, e nesta fase da vida estou submetendo o mesmo a testes que podem me tornar uma pedra insensível ou um romântico incurável. A fina tênue linha que me separa da felicidade amorosa eterna e da decepção latente, me faz sentir como um equilibrista, bêbado, sem o seu famoso guarda chuvinhas colorido, em cima de um monociclo. Deu pra ter uma idéia? É a pura aposta no incerto, naquilo que poucos teriam os "cojones" de por seu ego e auto estima à prova. Mas isso, para mim, é uma realização. É uma prova que, nesta fase da vida, ainda posso me desafiar, e deste desafio colher frutos e empreender uma vida mais plena.

Não há exatamente limites para onde devemos ir quando buscamos a completude moral vital para que possamos viver plenamente, e que nosso espírito descanse na mais santa paz após uma vida movimentada, e com um belo epitáfio para escrever em nossas tumbas. Da minha parte posso dizer que, no primeiro quarto de século da minha vida, alcancei mais do que planejava, menos do que queria e me encontro num patamar de necessidades atuais que ultrapassam o limite da normalidade e chatice. Elas repousam celebremente nos meus mais urgentes desejos, que me vêm forçando a descer de todos os pedestais existentes em minha personalidade, para me tornar o mais mundano e tocável possível. Quanto mais ordinário e normal me tornar, maior a probabilidade de alcançar a plenitude dos meus mais urgentes desejos e saciá-los como os mesmos merecem.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Escrever é Seduzir...

Texto-contribuição de um seguidor do blog, colega de escrita, que partilha das mesmas idéias que eu. Prefere o anonimato, mas sua escrita já é o suficiente.)

A Palavra é fêmea! E, como todas as fêmeas, deseja ser conduzida. Caprichosa, algumas vezes dúbia, temperamental, delicada, traiçoeira... A Palavra é mais do que somente um conjunto de morfemas, semantemas, fonemas, etc. A Palavra é mulher!

Seduzir a Palavra não é tarefa fácil, não é ofício para amadores, requer treino, requer prática.

Seduzida, a Palavra é fiel e espelha o Homem que a envolve. Mas, quando não se consegue mantê-la leal, a dissimulada corrompe o nosso próprio pensamento, nos atraiçoa sorrateira, faz da nossa idéia um vácuo embaralhado. A Palavra incendeia mentes, delimita fronteiras, desfaz limites, recompõe o passado, prediz o futuro.A Palavra é o nada que é tudo! A Palavra cria e implode Universos!

Porém, qualquer Sedutor neófito sabe que para seduzir uma Mulher é necessário se deixar seduzir por ela, até certo ponto e no momento certo. Não há nenhum Sedutor experiente que não saiba que a Mulher é feita de poesia e ilusões. E poesia e ilusões são as iscas que as atraem.

Somente na Mulher e na Palavra, o antídoto tem a mesma composição do veneno.

Caetano (nota do Blog: Um pela-saco, mas com profundidade), resumiu em poucas linhas a essência do feminino:

“A verdade é o seu dom de iludir
Como pode querer que a mulher
Vá viver sem mentir...”


A Palavra é Mulher e como toda mulher só se deixa fluir pelo embalo dos sonhos e do lirismo que os acompanha. Não há palavra sem ritmo, não existe ritmo sem som, não há canto se não houver letra, não existiria a Mulher se antes não houvesse a Poesia.A Mulher é música e o Homem o instrumento que faz soar sua melodia.O orgasmo é o silêncio da alma!

Enquanto pensa que está nos falando sobre o sexo, o que você faz é exaltar a mulher que se entregou aos seus caprichos. Quando se fez o Mundo, veio o Homem, depois a Mulher, com ela veio a Palavra e da Palavra a Poesia que a define.

Da Mulher e da Palavra, surgiu a Sedução, a única ponte que leva ao orgasmo e ao Silêncio, um continente obscuro onde Homens e Mulheres transformam-se num único corpo por alguns segundos. Para falar do seu encontro, seduza as palavras da mesma forma que seduziu a mulher que esteve com você. Não tema a poesia porque para dimensionar uma mulher é inevitável que o lírico surja.

Sobre o orgasmo, não procure vocábulos e nem malabarismos sintáticos para nos fazer entender o momento, quando for a hora de expressá-lo num relato, use apenas uma palavra:

Silêncio...

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Beleza Pra Quê Te Quero?

Tem muita gente preocupada com aparência onde moro. Sei lá, deve ser uma sacanagem ou tortura se olhar no espelho e nunca estar satisfeito. Acho que a grana ajuda estes eternos insatisfeitos. Muito dinheiro e pouco cérebro é foda, reduz seu mundo a um calabouço de histerias pessoais ininterruptas. Quando não é a aparência, é o consumo desenfreado. Quando não é isso, é o vício e assim segue. Vou à academia três ou quatro vezes por semana. É complicado entrar lá com gana de pagar por um bom reflexo no espelho, e se esquecer do primordial motivo da coisa que é a saúde. Sim, eu faço atividade física porque quero ser saudável, e deixo como opção secundária a bella figura, ou melhor, deixo-a como consequência.

Sou um observador, e lá tenho um "zoológico" completo para a minha miríade de exemplares humanos, os quais retrato tanto pela escrita. Tudo começa no vestiário masculino. Sou "homem-fóbico", realmente. Não sou muito fã da figura masculina, e me incomoda muito ter que socializar meu espaço com uma dezena de homo-sapiens nus, mas o que se pode fazer? Nesta esfera nota-se um odor acre, caracteristico de nós, seres testosteronizados. Mas esperem, a maioria dos bonitões gastam tubos de desodorante antes da atividade física. Não precisa ser físico nuclear pra entender que isto é um desperdício e uma ofensa ao trato respiratório de qualquer um. É uma total ignorância, vistoo que tudo irá feder de novo. Enfim, estou numa academia, não? Sigamos com a troca da vestimenta de trabalho por algo para suar.
Complemento do parágrafo: Que Deus me faça uma mosca, e me deixe entrar algumas vezes no vestiário feminino, sentir os aromas, ver as curvas...ah, eu te serei eternamente grato!

Taras a parte, faço o meu papel. Talvez por ser tímido e introspectivo posso ser confudido como arrogante. Não sou. Ponho meu IPod (sou um burguês, não?) e parto para a guerra. Logo percebo que sou um dos únicos que malham quietos. É verdade, ali temos um esquadrão social, ou de socialites, seja qual for, que fazem de tudo por lá, menos exercícios. Sinto uma tensão sexual no ar, gente se seduzindo, numa mistura heterogênea de músculos e grandes rabos, que entre uns goles e outros no suplemento protéico, marcam seus encontros carnais na maior cara de pau. É uma degustação sem fim, eu penso. Uma distribuição de amostras grátis, onde os olhares e trejeitos comandam a sacangem que potencialmente rolará. Porra, boiei nessa! Exercicios são secundários, o povo está ali mesmo é pra dar e comer.

O inocentão aqui está preocupado em viver muito. Eu tenho um apetite voraz, como bem e de tudo, regado a um bom beberico num néctar etílico. Se não fossem os pesos, as corridinhas, alem de boas nadadas, estaria gordo e morto. Mas percebo que como espécie extinta, sou meio que um exemplar exótico naquela biosfera. Fico lá suando feito um porco (porco sua?), esbaforido, cansado e sedento, e os bonitões passando a vara em tudo que se move? Bem, sempre fui meio tolo mesmo. Não se pode esquecer que por lá estão os maiores exemplos de preocupação com a forma física e beleza de toda a variedade humana: Os homossexuais. Sim, academias são habitat naturais deles, como quiserem chamar, algo como baitolas, pederastas, bichonas, veados etc. Aí a coisa fica estranha mesmo, pois qualquer sinal de dois caras, emperequitados e cheirosos, batendo papo, um medindo os atributos do outro, passa a ser, para mim, um casal em formação, que em breve se desfará depois que um ou outro deflorarem seus retos eruptos.

Academias são cercadas de espelhos, por onde quer que você ande, seu reflexo o acompanhará. É como um testemunho constante de quão horrendo seu corpo está e como você precisa melhorar. A vida financeira da empresa depende disso, da sua feiúra. Claro, a sua persistência é a alma do negócio. Dane-se a sua pressão arterial controlada, danem-se as melhoras nas atividades do dia a dia, você quer ficar bonito e atrair o sexo oposto. É nesse filão que a academia lucra. Lá, também, após a melhora do seu aspecto, o sexo oposto, ou não, se aproxima de você e sua felicidade se completa. Estou bonito, fodo muito e minha teia social está completa. Uma pena não terem criado ainda o espelho da alma. Aquele espelho que olha o seu interior, os seus medos, inseguranças e sonhos. Engraçado, de repente a exposição física perde a graça quando as nossas internalidades são expostas, numa academia. Será que alguém pergunta? Quem é aquele cara meio grande, desajeitado, com roupas cafonas, que malha ali quietinho, de fones no ouvido, e vai embora? Será que ele tem alguma coisa a esconder, ou não? Será que é gay, hetero, louco, deprimido, alegre ou somente estranho mesmo? Acho que não. Eu sei que observo. Não só a mim, mas aos outros e a busca incessante pelo belo, o fetiche pela beleza e as mazelas que isso causa à nosssa sociedade atual. Essa idéia de que posso ser um miserável desprezível, mas belo, e ser um colírio para a sociedade é uma puta sacanagem. Discordo de Dostoiévski, a beleza não salvará o mundo, só mascarará a podridão por baixo das coisas e das pessoas.

Malho pela endorfina, malho pela saúde, malho para ver o futuro. Qualquer motivo além disso é, no mínimo, a homologação de um processo de bestialização do ser humano já iniciado pela religião a centenas de anos atrás e hoje ajudado pela mídia e sua supervalorização da beleza desenfreada e sem limites.