segunda-feira, 18 de julho de 2011

As 24 Horas Ácidas e Reais.

Sábado, 00:00hs, aproximadamente. A mente acelerava com pensamentos furtivos sobre o que fazer num momento destes, onde nada faz sentido e tudo abruptamente aparece como opção ao tédio. Uma visão estonteante atinge os olhos, ocasionando um brilho flamejante aos mesmos: uma garrafa do mais puro e etilico Bourbon já fabricado. Ali, jogado num canto, como a atrair a mais atroz alma imbuída do espirito de autodestruição, que somente os mais loucos entendem. Sorvido o liquido, a noite estava por iniciar.

Sábado, 02:00hs. O nivel de embriaguez ficava severo. O alcool é perverso, eleva seu escravo a um patamar de idiotices serenas, onde tudo fica estupidamente claro demais para ser verdade. Nada parece ser um impedimento, pensa-se claramente e fala-se atabalhoadamente. Depois de um certo momento, algumas funções motoras são perdidas, pode-se, inclusive, perder-se as contenções das necessidades fisiologicas. E tudo isso pode parecer no minimo prazeiroso no momento. Num raro e momentaneo lapso de racionalidade mira-se ao espelho e se percebe tropego, disfuncional. Não era pra tanto, a medida do prazer e do sofrimento reside exatamente na dose do entorpecente, seja ele qual for. Onde estaria o prazer daquele momento? Certamente a medida já houvera ultrapassado o tolerável. Onanisticamente falando, restaura-se forçosamente o prazer na Era digital, abusando do manual. Mais claro que isso, impossível. É como uma autopunição mascarada de prazer.

Sábado, 05:00 hs e minutos incontáveis. Onde estará a realidade? Que jogo depravado se está jogando por aqui? Seria aquele pão com manteiga envelhecido por mais de 24hs um retrato fidedigno de uma realidade palpavel? Ninguém é mais real, são todos hologramas. Todos agora são projeções do que querem ser. Aqui dentro só há uma realidade, e não é tangível. É uma realidade morta, é perigosa, sem padrões definidos. Só pode ser loucura. Que aspectos perversos da solidão ainda haverão de açoitar a alma? E este barulho desgraçado de motos e caminhões? É tempo de relaxar. Onde estarão os sedativos? Surtado ou não, ser paranóico não ajuda nesta Trip infernal, estando preso num mesmo substrato. Querem realidade? A realidade está nos beijos negados, nas chances tolhidas, nos desejos abafados, nas decisões indefiniveis, na falta do básico, no encardido da roupa, no fundo da porra do copo, ainda melado pelo mais fino Bourbon. Realidade é saber que nada é definitivo e que a morte é uma saída.

Sábado, 09:00hs. Que maldição, as portas rangem sem uma força maior que as mova. Neste momento a realidade já foi para as picas, o efeito alcolico sumiu e o ranger das portas nada mais é que o vento uivante de uma manhã fétida e insossa, cuja alvorada passou batida. A mente volta ao seu estado mais irreal possivel, o surrealismo das formas que dizemos ser reais tomam seu lugar naturalmente neste mundo em que nada mais faz sentido. A solidão é uma opção importante para, ao menos, flertar com a realidade. Farsa é viver junto com alguém que te vende sonhos, mas não te possibilita reconhecer-se, deveras, como realmente é. O isolado se reconhece pois nada lhe é mascarado. A ele só lhe resta sorver dos néctares mais amargos como o mais puro fel. Quiçá a solidão seja um instrumento de definição de importancia da existencia de alguém para o mundo, e da necessidade da sua perduração num quadro social. É um instrumento, sim, da verdade mais importante: a verdade para si.

Sábado, meio dia. Seria necessária uma total higiene mental para que as sequelas de um descompromisso com o que é racional desaparecessem, e que pudesse voltar a ser um agente da realidade para os irreais. Nesta hora algumas necessidades do corpo afloram, e a vontade é de suprimi-las o quanto for possivel. Todos os porcos que vivem neste mundo saem de seus chiqueiros eventualmente, não? Por que não pastorea-los de volta a seus covis, com seus sorrisos asquerosos e personalidades audazes, de forma a ensina-los um pouco de realidade nua e crua. Um pouco de agitação não seria ruim, e ver alguns porcos guinchando de sofrimento pela total falta de comprometimento com a vida em sociedade não seria de todo ruim. Onde estarão estes suínos? Não precisa ir muito longe, há milhões deles.

Sábado, 16:00hs. O corpo sofre pela falta de tudo, e pelo excesso do nada. O tabagismo é uma opção, e dele pode-se arrancar mais algumas tiras do prazer ininterrupto, pelo puro meio de se enganar o cerebro com cerotonina narcotica. Algumas baforadas e as idéias de justiça somem com a fumaça, dando lugar a uma necessidade, quase que espasmódica, de inspiração. Sim, conseguir uma veia inspiradora qualquer que faça ebulir o sangue e dar um sentido a tanto nonsense disfarçado de desencanto. O prazer veio de novo e estava querendo guiar o cerebro como um cego ao volante de um carro. Alheio aos obstaculos, a realidade naquele momento era uma decepção, mas não tão somente isso. Era uma esperança de que o dia de amanhã será sempre mais que hoje, repetindo o clichê. Em mais um espasmo de inspiração vem a necessidade de revolucionar. A revolução é a saída dos tolos para os seus mais profundos desejos. Todo canalha quer mudar algo, de forma a mascarar suas desventuras. Que tal mudar?

Sábado, 21:00hs. Alimentado de idéias revolucionarias a mente acelera de novo, em busca de algo que sacuda o mundo dos suinos audazes. Os porcos são criaturas egoístas, chafurdam em seus próprios egos de bosta, quando são, na verdade, criaturas amestradas por uma midia manipuladora. Os porcos comem, fodem, bebem, defecam e, não satisfeitos, defecam uns nos outros. Há porcos psicopatas, porcos justiceiros, porcos déspotas e até mesmo porcos revolucionarios. O que move a lealdade dum porco? A grana. Como tornar um porco num ser humano? Prive-o da grana. Uma bela criatura se forma da privação dos seus desejos realizados pelo capital. O afloramento do bom humano se dá no momento da falta. Ali, ele é domado. Seu espirito suino fica pra trás pela pura falta de poder atribuido pelo dinheiro. A revolução tem um caminho traçado.

Domingo, 00:00hs. Foram 24hs da formação do carater de um homem, do auto conhecimento. O entorpecente, a privação, a reclusão e o divorcio com a realidade imposta por todos foram elementos de entendimento do que é estar só num mundo que não lhe quer. É uma luta injusta com o establishment, que força as mentes alternativas a se desligarem, por um momento, da realidade imposta para, enfim, encontrar a realidade que mais lhe apetece. O que é real é aquilo que se constroi, mesmo que em pensamentos. Ninguém te impõe a realidade, como se ela fosse um produto pronto para ser tomado, bastando agitar antes do consumo. O paralelismo da realidade de um é a loucura nos olhos de outros. O corpo esmorece, reconhecendo a perda da batalha revolucionaria para os suinos da segunda-feira. A privação foi grande demais, e o reino dos suinos maltrata demais seus desertores.