sábado, 19 de março de 2011

A Beleza Infertil Nas Artes

Me espanta a quantidade de atrizes belíssimas e sensuais na televisão. Há algum tempo percebo o quanto é importante ter estes apelos para se conseguir um papel de ponta, e até mesmo de coadjuvante, na televisão ou no cinema. No caso particular do Brasil a coisa ferve. Recentemente tivemos o lançamento de um filme, autobiográfico, baseado na vida de uma "ex" garota de programa. Nada mais justo como também inútil, por assim dizer. É fato que a protagonista do filme em questão é também a mesma da novela mais assistida do país, onde a mesma também interpreta um papel de uma mulher de moral discutível.

Seria exagero meu, ou podemos concluir que para ser um artista respeitado, nos dias de hoje, temos que abusar de nossa sensualidadeao extremo? Deve ser exagero, estive colecionando algumas memórias e pude perceber alguns paralelos. O cinema americano está recheado de atrizes e atores que sempre apelaram excessivamente à sensualidade como meio de grudar o espectador na tela. Sexo vende, é o mote de muitos dos idealizadores destas produções. Exemplos do passado não faltam. O mais emblemático de todos, em minha opinião, é a atriz Marilyn Monroe. Quem conhece a carreira da moça pode constatar o quanto a mesma sofreu para ter seu talento reconhecido como téspia - eu acho que ela não tinha - mas que fora rechaçado em detrimento da sua infantil, mas marcante beleza. Era flagrante a escolha dos estúdios de cinema por papéis sensuais e de pouca profundidade para Marilyn. De fato, a mesma morreu judiando da própria beleza que, psicologicamente falando, tem papel devastador naquele que deseja ser reconhecido pelas suas qualidades mais intangíveis. O suícidio de Marilyn pode e deve ser um alerta.

Definitivamente, nós, os homens, temos predileção pela beleza infértil. Este conceito pessoal me remete ao fato que a beleza exterior deveria ser o elemento mais mundano e sem relevância quando analisamos os atrativos gerais de uma mulher. Chamo de beleza infértil aquela que está muito ao alcance dos olhos e muito longe dos sentidos desenvolvidos. Tudo isto explica o porquê de "comprarmos" produtos audiovisuais que contenham mais e mais belezas inférteis. Os E.U.A são pontuais no oferecimento constante deste conceito em seus filmes, e no endeusamento de astros que vulgarmente chamamos de beauty whores, na tradução livre, prostituidos pela beleza. A imagem dos atores é vendida como carro chefe das produções, ainda mais quando as mesmas são vendidas a um publico mais jovem e mais ávido por sensualidade constante.

Que alerta podemos fazer, como citado no caso de Marilyn Monroe? A beleza tem prazo de validade. Pode parecer obvio, e realmente é. As artes cinematográficas têm como base a profundidade da estória a ser contada, da diversidade psicologica dos personagens e das atitudes dos mesmos. Para o ator existe o mérito de nos fazer acreditar na estória, nos envolver com sua mística e seus repentes de genialidade artistica. A capacidade do improviso, a colocação em cena, a impostação da voz etc. Todos estes itens estão a frente da beleza nua e crua. Exemplos: Al Pacino e Robert De Niro, para homens e Meryl Streep e Vanessa Redgrave para as mulheres (nunca foram sensuais, ou belos, mas esbanjavam talento). O ator que buscar estes padrões certamente terá vida longa nas telas, e sua beleza, ou feiura, serão sempre secundárias aos olhos do grande publico. O que serão das tão sensuais e deliciosas atrizes daqui a trinta, quarenta anos? Seriam as mesmas vedetes modernas, beauty whores, prostituindo suas belezas em troca de fenomenos ereteis disfarçados de aplausos de homens que não apreciam a boa arte? À medida que a escolha das grandes produções sejam de pessoas somente sensuais e belas, a longevidade dos protagonistas será sempre curta. Nos perguntaremos daqui a uns anos: Onde estará a Débora Secco, onde estará a Juliana Paes, onde estará a ex BBB gostosa? Assim como hoje perguntamos: Onde está a Sonia Braga, onde está a Norma Bengel, onde está a Vera Fischer? Todas elas beberam na fonte do aplauso fácil e cairam no ostracismo a medida que suas carnes caíram murchas após a idade.

O talento é eterno, a beleza não.

quarta-feira, 9 de março de 2011