sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A Minha Verdade Sobre o Amor. E a Sua?

O amor é um produto vendido no varejo, na categoria de supérfluos, que não tem garantia e nem é aceita a devolução por defeito. A frase é hilária, e não digo isto porque a criei agora, sentado em frente ao micro, rindo de mim mesmo. Digo isto porque vejo tanta gente sofrendo de amor, que me senti quase na obrigação de compará-lo a um ato comercial. Bukowski dizia que amor era um cão dos diabos. Como romancista maldito e Beatnik, esta definição era essencialmente sua, e dava contornos infernais a este sentimento pouco explicável. Chico Buarque, no entanto, dizia do amor um verso: O amor jamais foi um sonho. Do amor já provei. É um veneno medonho. Não poderia ser mais ácida esta definição.

Mas qual é o sentido de tudo isto? Por quê devemos ou queremos amar, apesar de tanto sermos machucados por este sentimento especial? É algo surreal, mas tem a ver com o masoquismo puro. Não estou falando do amor familiar, do amor pelo seu cãozinho, ou por um bem material. Estou falando do amor advindo da paixão, o amor de filme, aquele vendido para nós já há uns cem anos. O masoquismo é latente ao se sentir amor. É abdicar do orgulho em troca da recíproca do sentimento, que quase nunca vem em proporções iguais. Sempre ocorre de um amar mais o outro que o contrário. O indivíduo se desdobra em carinhos, afetos, ações e gestos pelo outro esperando algo em troca, e quando isto não ocorre vem a desilusão. O masoquista não desiste, e parte para a busca incessante pela aceitação do outro, que começa, da sua parte, a tomar contornos de sádico. Sim, para todo o masoquista existe um sádico, e vice-versa. Quando estas duas nuances da raça humana se encontram, aí a chama queima incessantemente. Ocorre o pertinente encontro dos opostos, aqueles que se atraem. Então, num amor perfeito, temos um sádico e um masoquista juntos? Sim, mas há outras conclusões, pois somos complexos demais para nos encaixarmos numa só forma de amor.

O amor é Ego. Quando esperamos algo em troca de alguém, queremos na verdade fazer algo para nós mesmos. Estamos somente pensando em nosso bem estar. É como uma decisão política que trará bons frutos no futuro. Você abdica de tudo aquilo que te faz feliz, da sua individualidade, personalidade e até mesmo pessoas queridas, para apostar numa vida a dois. Isso é entrega? É altruísmo? Não, puro egoísmo. Se a outra pessoa não faz o mesmo por você, a coisa toda desanda. Em ambos os casos existem exceções, mas estou falando da maioria. Se alguém tem algo a questionar sobre isto, dizendo que o amor é lindo e que eu sou amargo, pergunto: Por quê há tantas mais canções, poemas e literatura em geral de amores desfeitos que de amores bem-sucedidos? É claro que há muito mais desilusão em se amar que felicidade propriamente dita. Por isso o masoquismo-egocêntrico e o sadismo são componentes fortíssimos numa relação a dois.

Muitos destes sentimentos e atos altruístas nossos estão ligados ao nosso próprio egoísmo. Pouco disso é realmente um sacerdócio da nossa parte, e merece alguma forma de Ode. Perdão, amor, caridade e igualdade são coisas fabricadas pela sociedade para que o praticante destas "artes' se sinta melhor sobre ele próprio. Quem nunca deu um prato de comida a um desvalido e saiu com aquele sorriso de quem ganhou uma vaga no "céu" depois daquilo? Isso é puro egoísmo e cinismo. É a mesma prática do amor descrita acima, e do perdão, abordada em outro texto. Você só o faz porque espera algo de melhor em troca. É como uma poupança, onde se abre mão do consumo de hoje, para se consumir amanhã. Qual é a diferença? Nenhuma, somente trocam-se os períodos. Por quê eu te perdoo? Para que você não me deseje mal. Por quê te amo? Para que você me ame também. Por quê te ajudo? Para ficar "bem na foto" com o homem lá de cima, ou para você me ajudar também um dia. Por quê te trato como um igual? Porque quero que você me trate como um igual também. Percebem a recíproca? Pois quase nunca ela é verdadeira. No fim, você estende a sua mão, e quase sempre, na maioria das vezes, te cospem nela.

Sádicos, masoquistas, egoístas e pseudoreligiosos: Amar é propagar um mito, uma falácia de que todos amam a todos. Mentira. Amamos somente a nós mesmos, e reforçamos isto no nosso semelhante. Amamos o que nos é conveniente. Amor é comercio, é vendido. Quem compra, sempre se arrepende. Amor na verdade é sexo, é tesão pelo parceiro, é a conjuminação de fatores que te levam a sentir uma atração sem limites pela outra pessoa, independentemente se ela sente a mesma coisa, mas não é abrir mão de tudo. É que muita gente foi enganada pelo mito de São Valentim, ou pelo cinema e seu amor de beijo enquadrado pela câmera, em lenta aproximação e com infinita sofreguidão. Ou por aquele beijo de novela "fake", onde um dos atores provavelmente é homossexual, mas faz o telespectador acreditar no seu amor de estúdio, no seu beijo e sexo viril. Mania chata que a gente tem de romantizar tudo. Deve ser porque sabemos que na verdade, é tudo bobagem.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O Carnaval, O Solitário e O Maluco

Ontem, como sempre fiz, ao acabarem os noticiários noturnos, desliguei a televisão e abri um livro qualquer de minha escolha para me fazer companhia pelo resto da noite. Era "O Viajante Solitário" por Jack Kerouac. Uma obra prima descrita por um homem que prezou sua liberdade até os últimos minutos de sua vida. Um vagabundo iluminado, como se autoproclamava, ele percorreu as mais insólitas viagens pelo mundo em busca de autoconhecimento e compreensão da realidade em que vivia. Isso foi nas décadas de 1940 e 1950. O mundo era diferente, as coisas eram diferentes. Descobertas assim são mais difíceis hoje porque nos preocupamos demais em nos socializarmos a qualquer custo, e esquecemos a grande virtude do estar só, do silêncio absoluto, do contato com seu Deus, seja qual for, e sua resposta mais divina: O mesmo e famigerado silêncio. Eu tenho pena dos homens de hoje, eu não os odeio, e não os amo. Apenas tenho pena. São incapazes de por a cabeça sob a relva e observar o céu, de ouvir uma queda d´agua, de observar, tão somente, sem se entediar e ligar a porra de um celular. É uma maldita alma plugada em algum instrumento de vício.

Não se pode só falar sobre isso. Às 23 horas, terminei meu livro e me aprontei para a cama. Procurei um velho DVD para assistir (eu também sou escravo dessas coisas), optei por dar uma chance ao "congelado" televisor, ou LCD, ou seja lá como queiram chamar-Carnaval- Chegamos ao Carnaval. Havia me esquecido disso, talvez por não acompanhar com tanta assiduidade os meios de comunicação, por não ter visto a Mulata "Globeleza" requebrar-se como uma cobra eletrocutada como em outras oportunidades, ou por não ouvir alguns cretinos dizerem que irão para Salvador, sem razão alguma, para ser um "folião", ou um beijador no meio de outros cretinos, mijões, beberrões e farristas. No noticiário, claro, vemos que está chegando. Sempre há uma reportagem sobre as ruas de Olinda, os Trios Elétricos de Salvador, os blocos no Rio, Minas, São Paulo etc...Que falha tremenda a minha, não perceber a aproximação da festa mais sensual do ano. Lembrando-me daquelas vezes em sentava junto a meu pai para assisitir aquele festival de genitálias e seios expostos. Era muito bom. Pouco sabia sobre a evolução da bateria, sobre o enredo, ou se havia muitas plumas e paetês nos carros alegóricos. Eu me hipnotizava com aquelas Deusas de ébano das favelas locais, ou pseudoatrizes de merda da televisão requebrando seus maravilhosos corpos naquela tela de vinte polegadas da minha velha TV. Que ótimo, existe algo que me marcou nestes últimos quase trinta anos de carnaval: A beleza das passistas. Me faz até esquecer da grande babaquice e oportunidade de autopromoção que o carnaval se tornou nos últimos anos. Tem gente dando tudo que pode ao cirurgião plástico pra não fazer feio nas passarelas pelo Brasil. Tem que se respeitar muito essa gente. Para elas o Carnaval virou puro business, que exige investimento em troca de ensaios em revistas, entrevistas, papéis em folhetins de merda na televisão. É, pensei demais. Fui dormir.

Todavia, nem tudo é crítica. Temos um período para descansar, e se você for esperto o suficiente pode se afastar desta "Sodoma e Gomorra" moderna e estender seus pensamentos, colocando-os em dia. Afinal de contas, é um feriado, não? Ser solitário tem suas vantagens. Permitam-se o silêncio, dêem-se tempo para pensar, entenderem seu semelhante e seus defeitos, entender seus próprios defeitos. Só o silêncio dá esta oportunidade. Hoje em dia o silêncio é escasso, e toda a oportunidade de tê-lo é uma dádiva, e quem o busca não deve ser conotado de modo algum. Certa vez me disseram que levo jeito pra maluco. Não me senti ofendido, pois o maluco referido nada mais seria do que um introspectivo Ser, uma pessoa que não socializa mais por socializar. Alguém que busca refúgio em sua própria mente não pode ser um pária. Tenho amigos, tenho pessoas que de mim têm de tudo que possa dar. Afeto é a minha maior benesse a todos. A minha introspecção e paixão pelas minhas próprias idéias, préconcebidas ou não sobre o mundo, não são, em hipótese alguma, uma promessa de loucura futura, e sim de maior autoconhecimento que não será afetado pelos excessos do mundo e das pessoas de hoje.

O dia chegará em que todos nós teremos essa necessidade. Contudo, o mais cedo que isto ocorrer, melhor. Criaturas superficiais abundam na terra, e não é um Carnaval bem "pulado" que irá fazer seu resto de ano mais feliz. Na verdade ocorre o oposto, ao não se perguntar o por quê das coisas, pode-se facilmente cair na falácia da felicidade falsa, aquela que só ocorre após o homérico porre, após o sexo sem sentido, após a música alta e disforme em seus ouvidos. Ocorre o engano da mente, a supressão do Eu e a ascensão do Nós, o fim da personalidade própria e o início do ser carismático, já tratado em outro texto por aqui. É só uma escolha, nada mais. O pré-Maluco tinha de escrever isso. Bom Carnaval a todos!