quarta-feira, 21 de maio de 2014

Associe-se à Sociedade!

Da sociedade atual só acumulo desencanto. O que esperávamos que nos tornássemos após uma década inteira de excessos e de informação vasta? Ver que a ciência da escassez não mais lida com ela, e despeja seus dogmas no excessivo poder de compra da população, nos faz crer em prosperidade, mas também em derrocada de principios pelo simples desejo de ter, e não de ser.

Ver a escassez é como uma reeducação do que é mais inerente à humanidade atual, e perceber que o restante de uma população grande neste mundo sofre com ela. A falta do superfluo atiça o sentimento de igualdade, que por sua vez regula a sociedade num parâmetro de comportamento servil, de fato, mas condizente com o sentido de comunidade. Acredito que o excesso tem nos liderado para o egoísmo desenfreado, além de nos tornar egolatras compulsivos, buscando recompensas a cada ato raro de altruísmo displicente . Até mesmo a humana arte de conceber, reproduzir, está ameaçada por esta crescente cultura do "Eu" moderna.

A ideia de que as pessoas possam deixar de pensar no próximo parece absurda, mas está pautada num estilo de vida centralizador, que mata as emoções humanas em detrimento de um comportamento superficial perante as urgências da maioria. Existe a morte do sentimento de humildade, da parte de um todo que destrói o conceito universal de que somos nada mais ou menos que pó num universo vasto e disperso em coisas jamais alcançáveis pelo homem comum. Estas noções tem começado cada vez mais cedo nas cabeças mais jovens com a vã cultura da pequena celebridade que atinge a atenção da maioria. Sim, estou falando de redes sociais.

Ver os jovens trabalhando suas imagens, tais quais as celebridades o fazem, criando pequenas ilhas de isolamento é passível de fobias mesmo. A maior das maldades com um jovem é priva-lo do contato social e dos xistes juvenis que ajudam as mentes mais jovens a evoluirem. A urgencia da postagem tira qualquer ambição de se ter coisas particulares, até mesmo problemas pessoais, já que todos sabem dos males de todos. A intenção de ruminar suas questões em familia, ou só, é fator importante para as resoluções das mesmas, e o simples fato de um particular expor seus anseios a um coletivo faz daquele problema alvo de deboche alheio. É como um isolamento em publico, como estar cercado de pessoas e ao mesmo tempo solitário.

A imagem que um passa se torna menos importante que seus credos e intenções, num mundo tão hostil. Na verdade, esta hostilidade em nível mundial encontra base no egoísmo das pessoas, e seus anseios cada dia mais inatingíveis. A vida em sociedade está morrendo, à medida que nos encontramos cada dia mais escravos de nossos desejos e da atenção de todos a nossos passos mais ordinários. Será, prevejo, uma era prolífica para os psicologos e profissionais da mente humana. Perceberemos, em breve, que tudo aquilo que projetamos ser não passa de um truque de nossas mentes escravas do ego e a partir daí entraremos numa espiral de destruição de nossa autoconfiança, tornando-a inábil para as coisas mais simples da vida, tal como ter uma vida social, ter um filho, uma família...

A destruição da capacidade de assumir compromissos vem de uma insegurança mordaz, calcada na falta de preocupação com o próximo. Esta noção de que o mundo é uma grande prostituta e nós os clientes é fator preponderante para a derrocada da sociedade atual. Perdemos a mão com a internet, com os calabouços do consumo irresponsável, do crédito infinito e da nossa necessidade de estarmos sempre no centro das atenções. Ter visto a escassez, e como ela afeta a vida em sociedade me fez refletir. Ver que a busca incessante por uma "vida boa" passa por querer, antes de tudo, o bem do próximo. A felicidade, na atual sociedade ocidental-cristã, passa muito pelo desejo de acumular capital, de estar acima dos outros, de ser um sucesso profissional, ter dentes brancos, sorriso boçal e interminável, patrocinado por observar seu ganho, por meios éticos ou não. Neste ponto vemos até um adendo na corrupção humana. Sim, o excesso corrompe!

Seria necessário que a humanidade voltasse a sentir falta daquilo que hoje é abundante para que nós entendêssemos a lama na qual estamos nos afundando. Contudo, é fato que de toda esta imersão no culto ao ter gerará algum tipo de reflexão futura, espero assim, já que a humanidade percebe que os preceitos de caridade, amor ao próximo, amor incondicional e altruísmo deram lugar a um sentimento nojento de auto promoção, auto amor exagerado, auto confiança excessiva e falsa, ambição desenfreada e falta de companheirismo. Tudo isso perdemos com esta cultura nefasta da utilização de ferramentas que em tese estão disponiveis para nossa evolução, muito embora as utilizemos para disfarçarmos nossa infelicidade latente.