terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A Longevidade dos Canalhas

Seguindo um raciocínio muito simples, mas focado em experiências pessoais, nos filmes, na vida, nas músicas e nos relacionamentos, me esforço para compreender mais alguns mitos que temos sobre a vida e a morte. Penso, também, numa forma de criar textos que me incinerem a alma, por mais que a mesma já esteja, de fato, carbonizada, e possam suprir o objetivo clássico deste blog que é estuprar suas mentes com as mais absurdas teorias que pude bolar nestes poucos anos de vida.

É muito simples: todo canalha vive muito. Observando a canalhice como um todo, conceituado-a como algo inexorável ao homem, assim como sua morte, a canalhice parece dar vida eterna pra certos indivíduos. Já pararam pra pensar que viver demais é um porre? Sim, é um tremedo saco ter que viver sempre fazendo a mesma coisa, suprindo necessidades fisiológicas básicas, procurando parceiros, desfazendo e fazendo amizades, relacionamentos, pagando contas eternas (enquanto viver, haverá contas!)e obtendo prazeres fugazes, tão rápidos quanto sua própria existência. Perdões mil pela ironia, mas quando vejo um velho de mais de noventa anos andando por aí, cheio de vida, penso logo: - Lá vai mais um canalha que está pagando os pecados dele vivendo demais nesta terra! Viver muito é um castigo e não uma dádiva. Este canalha aprontou demais a vida toda, foi infiel, traidor, não produziu nada de importante na vida, é um medíocre. Engraçado, quando um medíocre morre, sempre outro toma seu lugar. Medíocres são descartáveis e substituíveis ao sabor da mediocridade humana, que os põem numa posição de destaque. O fato de ter vivido muito e ter que carregar o fardo de perder suas capacidades motoras, ser um pararraios de doenças e mazelas, um escravo do cotidiano maçante por tantos anos, o torna um eterno desgraçado pela vitalidade que o cerca. Ele não a merece. Pensei certo: - Vá em frente, canalha, muitos anos de vida te esperam!

Gênios morrem cedo. Pessoas boas infelizmente se vão mais cedo. É como se Deus (para quem acredita) os quisesse o quanto antes pelas suas especialiades e qualidades. São tantos os exemplos, mas quando vejo uma pessoa padecer num momento inoportuno de sua vida, penso logo na importância daquele ser para a humanidade. É um contrasenso, um paradoxo. Se ele vivesse mais, nos traria grandes benefícios, mas se tornaria um canalha com o tempo. Se ele vivesse pouco, será lembrado sempre pelos seus feitos, pelas suas benesses, será um anjo em nossas podres bocas. Nós, os podres que remanescemos, sobrevivemos ao "lixo tóxico" sobre o qual vivemos. Vejo pessoas que morrem cedo como um mal necesário, algo que nos faz refletir na inutilidade e pequenês da nossa própria existência. O gênio é insubstituível. Ao contrário do medíocre, ele morre cedo e cheio de coisas por terminar. É como uma obra de arte que nunca é terminada, mas no entanto é sublime. Gênios descobertos tardiamente também deixam o mundo rapidamente. Não conseguem dar continuidade à sua genialidade por anos a fio. Quando vejo uma divindade humana em destaque sinto que por mais que ela venha a fazer pelo mundo, não será o suficiente. Ela morrerá cedo demais, mesmo que seja aos cem anos.

Canalhas abundam, anjos rareiam. Medíocres de multiplicam, gênios padecem. É a dinâmica da humanidade, é a pura idéia de que a vida é sim descartável, e que a raça humana é um grande estorvo para o universo como um todo. Já pararam pra pensar que somos a praga deste planeta? Esgotamos recursos e estupramos esta Terra como se não houvesse amanhã. Aliás, não haverá mesmo. No entanto, o que me importa? Sou mais um canalha mesmo, viverei muito ainda para ver meus iguais destruindo a tudo e a todos enquanto os iluminados vão ficando pelo caminho, padecendo pela nossa cretinice e mediocridade. Como todos os canalhas, ficamos tempo demais vivos.