terça-feira, 30 de agosto de 2011

Sangue, Alcool, Lutas e Despudores

Na presente situação em que estou, sempre que posso e desejo sair, frequento bares. A noite é um reduto para mim e um átrio de observação das mais estranhas criaturas que a habitam. Fico feliz em sair com amigos de longa data, me inebriar um pouco, dividir experiências, conversar sobre tudo, enfim, socializar-me. Numa destas noites, a qual eu estava particularmente amargo, resolvi encontrar meus distintos para jogar conversa fora, e num bar destes escolhidos ao acaso, ficamos bebericando e contando nossas amenidades.

A sensação de estar em um lugar, com pessoas queridas, não pode ser melhor, mas eu clamo por observar as pessoas ao meu redor. Algumas imagens, de cara, já me bombardeiam as pupilas e se dispõem a serem comentadas com o máximo de cuidado. Ao chegar ao local, me deparo com uma mesa imensa e repleta de adolescentes, entre 15 e 19 anos, aproximadamente. Até aí, tudo bem, eu sempre acho legal estar perto de gente jovem. O frescor das idéias, a beleza das moças, ainda na mais tenra idade, o furor dos rapazes ao quererem pra si toda a atenção, quase que num surto de infantilidade sadia, bradando e agindo como os tais. Eu me divirto com eles, e gosto de tê-los por perto. Mas algo me incomodava. A juventude é o laboratório da nossa personalidade, e ali estavam os pequenos camundongos desta grande experiência que é a vida. Seus copos enchiam mais que seus espiritos inflavam. Estranhamente, algumas moças estavam bebendo como se nada mais fosse importante naquela reunião gaudia. Bebiam, sem controle, deseperadamente, como se fosse o último drinque de suas vidas.

Fato é que, o estabelecimento, já estava incorrendo no maior dos erros, ao vender bebida pra tanta gente menor de idade naquela mesa. Apesar das curvas das moças, não preciso ver os documentos delas para adivinhar que as mesmas ainda não romperam os dezoito anos. Eu nunca fui santo, e sei que exagerei na minha adolescencia. Mas também sei que os estabelecimentos sempre negaram veementemente me vender bebida na minha época. Era frustrante, mas me livrou de muitas babaquices. Hoje, no entanto, percebo que os bares já nem tentam proibir. Liberam mesmo sem pedir identificação. Uma pena.

Uma moça em particular bebeu muito além da conta. Ela era um pouco obesa, mas bonita, jovem, e acompanhada de uma rapaz mais velho. Ela entornava caipirinhas em seu sistema digestivo como se aquelas fossem sua água num deserto. Não demorou muito, e ela perdeu o controle de suas ações, derrubando copos, cadeiras e empurrando pessoas, dado o seu tamanho. O salto imenso que a mesma vestia, também não ajudava. Por fim, após alguns minutos, o vomito foi inevitável, e uma noite que tinha tudo pra ser ótima se transformará num pesadelo, ao passo que seu acompanhante, num elan de odio e compaixão, a retira com tudo do recinto e a leva não sei pra onde. Como pai, aquilo me atingiu.

A noite estava indo bem, nós conversávamos bastante, as palavras fluiam e nossa cervejinha molhava nossos paladares, já responsáveis pelos anos de aprendizado com os maleficios da bebida, especialmente fora de casa. O grupo na mesa ao lado ainda persistia, apesar do alto teor alcolico de todos e do barulho, que aumentava a medida que eles iam tomando mais alcool. Chegaram doses de tequila, cervejas, energéticos, vodkas etc...Era um coquetel de deixar até o mais profissional bebado dos bebados com vergonha. Chega um bolo fumegante, vejo que é aniversário de alguém na mesa. A aniversariante é uma moça, bem mignon, loira, com não mais que 16 anos. Ela têm tatuagens nas pernas, o vestido é bem pequeno, tem piercing no nariz. Deveras, um fruto de um casal de pais bem liberal, ou não. Eles dão os parabéns a ela, entoam a famosa música e distribuem o bolo. A moça, já tropega, começa a distribuir beijinhos entre os convidados daquela mesa. Ela chega na parte de suas amigas e começa a beija-las na boca, e os rapazes fotografam com seus celulares brilhantes. A coisa começa a ficar mais estranha ainda, e ela parece ter curtido a brincadeira, pedindo fotos a cada beijo que dava em suas amigas, também embriagadas. O recato, naquele momento, que toda a moça deveria ter, já havia sumido.

Nós, que estavamos na mesa ao lado, interrompemos nosso papo com aquela visão, afinal de contas, somos homens. Naquele momento, eles se sentiram poderosos, e acharam ótimo nos ter calado com tal show gratuito. Havia um misto de reprovação e curiosidade nos nossos olhares, ja empertigados pelos recentes trinta anos de vida. Aquilo virou assunto em nossa pequena mesa, e nos questionávamos a motivação da moça para proporcionar tal atitude de exibicionismo assim, sem sentido. Aquele projeto de Paris Hilton, lascivamente agindo como uma socialite bebada, nos prendeu a atenção e nos travou o assunto.

De repente, todos começaram a gritar, como num estádio de futebol. O bar inteiro olhava para o televisor. Eu, que estava de costas, de inicio, não dei muita atenção. Ainda tentava digerir aquelas coisas que houvera visto, mas fui logo alertado pelos amigos. É o UFC! Sim, UFC, agora no Brasil! Não vou bancar o idiota e dizer que não sei do que estas letras se tratam, e o que elas representam numa nação como a nossa. Um homem espancando outro até que um dos dois caia inconsciente, num ringue em forma de octógono, com grades, um juíz (pasmem, para quê?), e um publico sendento por sangue. Comecei a pensar que, na Roma Antiga, o negócio das lutas que iam até a morte era lucrativo. Envolvia escravos, homens páreas, e girava um mercado de riquezas inimagináveis para todos os envolvidos. Os politicos usavam estas lutas para entreter um publico enfastiado, louco por violencia insana que fizesse sua adrenalina fluir. Azar dos lutadores, que se não lutassem, morriam da mesma forma. Isto foi a mais de 2000 anos atrás. Olhei o UFC na televisão, o sangue no chão do octógono, o público gritando enfurecido clamando pela destruição do adversário, olhei os patrocinadores do evento, os tais lutadores. Achei aquilo bem a cara do brasileiro, que convive tanto com a violencia no dia a dia. Ali ele extravasa o desejo de ver alguém ser espancado. Não é tão diferente das noites e noites deste país, onde jovens saem para se divertir e acabam espancados, estuprados ou mortos. Há claramente uma identificação master deles com a luta sem ética, a luta ensanguentada, a beberreira desregrada, o homossexualismo exibicionista e o desejo de chocar. É um retrato claro de uma juventude criada sem limites: Uma luta sem limites, uma farra sem limites, uma morte sem limites. Assim Roma ruiu. Assim, nos caminhamos para a ruína.