sexta-feira, 9 de abril de 2010

Gente Que Assusta


Recentemente tenho sentido algumas fobias engraçadas, longe daquelas mais corriqueiras que conhecemos como medo de avião, de lugares abertos ou fechados demais. Tenho tido fobia de pessoas. Eu explico: Já sentaram-se numa mesa de bar e entre uns goles e outros acabou ouvindo a conversa dos outros? É incrível, mas quando ouço algumas coisas proferidas por eles me arrepio, num misto de medo e asco, resultantes de uma idiotice sem limites. Conversavam dois homens, ambos de meia idade, algo como ganhos financeiros e maneiras de ficar rico rapidamente. Tenho medo de gente que fala demais em dinheiro. O pior é que estes atuais tarados pelo monetário se proliferam feitos coelhos numa gaiola nos dias de hoje. O que dizer de um ser humano que aproveita seu momento de prazer e socialização (estamos num bar, não?) para discutir saúde financeira, e somente falar em milhões, bilhões e as maneiras para se chegar lá. Isto é felicidade?

Duvido de certos aspectos do conceito de felicidade que nos impomos atualmente. Para a maioria, obviamente, ela só é alcançada sob o aspecto do dinheiro. Nada mais justo. Este país está cheio de gente que precisa dele. Estupidez é acreditar que só isso faz um ser humano feliz. A realidade é outra. Qual é a felicidade de um presidiário? Receber a carta de sua amada. Qual é a felicidade de um homem casado e livre? Ver sua amada viajar por um longo período. Conceitos diferentes para contextos diferentes. Em algum momento se citou dinheiro? Não. Por isso mesmo, tenho que dizer que também tenho medo, mas um medo terrível de gente que brada aos cinco cantos do mundo que é feliz e realizada. Me assusta essa gente que se define sem ao menos se autoconhecer. Reconhecer-se feliz é um assunto interno, é coisa da sua personalidade. Demonstrar isto recorrentemente é, no mínimo, querer esconder, no fundo, sua própria infelicidade. Encher o saco dos outros declamando sua felicidade é maquiar, diria mascarar, sua própria miséria de vida. O cérebro humano foi feito para enganar a si mesmo, sua consciência vive traindo sua subconsciência.

Morro de pavor de gente que fica propagando sua religião por aí. Já ouviram aquele ditado "Fé demais não cheira bem"? É mais ou menos assim. O sujeito se apóia na religião somente quando tem algo em sua vida que deseja apagar, seja da sua própria memória ou de outros. A religião se torna meio que um refúgio para pecadores reincidentes arrependidos e crônicos, levando-os a se tornarem chatíssimos e promíscuos nessa relação duvidosa com Deus. Tenho medo sim, não nego. Quando vejo um bitolado destes, já logo suponho ser um ser desregrado que, de alguma forma, encontrou na religião um freio para suas idiotices. De cara saio correndo destes bastiões do bom comportamento e disciplina religiosa.

Me soa como um filme B de terror ver a minha última, porém não menos interessante, categoria de pessoas assustadoras. Tenho cãimbras de medo ao ver alguém que tem certeza de tudo na vida. Até um filósofo de porta de banheiro sabe que "de certo sabemos que nada é certo". A coisa anda tão assustadora, que tem gente que até planeja seus relacionamentos, seus momentos de prazer, de obrigação, de tristeza e de alegria. Planejam filhos, aposentadoria, compras, vendas, sexo...olha, deve ter gente que planeja até mesmo quando ficar doente. O acaso perdeu força pra esta geração antenada e doida pra ter certeza de tudo. Ter do lado alguém tão certo de sí próprio e de sua vida é, no mínimo, tão horripilante quanto um passeio no trem fantasma quando se tem 6 anos, sozinho. Eu tenho muitas saudade de quando ouvia de alguém que o destino se encarregaria de algo. Era muito reconfortante. Aí vem uma horda de babacas que querem ter o controle de tudo e mandam o destino pro inferno. Me apresente alguém que esteja certo de tudo, até mesmo do amor e eu correrei, sem nem mesmo olhar para trás.

Dos meus medos (solidão, pessoas e bonecas infantis), pontuo como mais latente o medo das pessoas mesmo. São criaturinhas estranhas e horripilantes. Criaturinhas gananciosas, forçosamente felizes, crentes e certas de tudo na vida. Não ficaram com medo?