terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Café e Eu.

...- Ei, autor deste blog, venha cá, vamos conversar!

- Sim, sou todo ouvidos.

- Tu não te cansas de ser tão imbecil?

- Imbecil por quê? Não gosta do que lês?

- Nem preciso ler. Pelos titulos de suas publicações, já te odeio amargamente.

- Ora, amigo hater, não podes me julgar só pelos meus titulos. Meu conteúdo deve ter algum valor.

- Não tem valor algum, tu me deprimes, me calunias sem nem mesmo me ofenderes. Tu és tudo aquilo que não preciso em minha vida, tu és petista, promiscuo, depravado e corno de si próprio.

- Agora passou de hater a brigão. Te identificas com algo, comente. Gosto de comentários contra mim, aprecio o contragosto e prefiro um bom critico veemente a uma claque ignóbia.

- Não ponho em palavras escritas minhas discordâncias com quem quer que seja. Eu te enfrento  como o câncer que tu és, que tu TENS!

- Pois me enfrentes! Queres um café?

- Claro, pois não, se não for muito incomodo.

- De forma alguma. Pois afinal, quem é este ser que me odeia tanto?


Engenheiro da vida, pois sim! É o termo que cunho para descrever quem mais haveria de ojerizar bloguinho tão rasteiro e careta como este. Engenheiro da vida...pois vale a dissertação.

Xícara número 1:

- Para começar, critico-te por seres hipócrita! O que fazes por trás deste teclado? Tu praticas o que pregas?

- Como, sou um pastor? Não prego absolutamente nada. Só exponho minha visão enviesada do mundo. Aqui estou certo acima dos fatos. Quem disse que preciso ser para dizer?

- Ah sim. Como tu tens a pachorra de se declarar ao mundo feminino em narrativas aparentemente tórridas e languidas, quando na verdade, pelo que vejo de ti, não passas de um homenzinho ordinário e comum? Que mulher veria em ti algum valor?

- Por atributos físicos sim, critica aceita. Quaisquer outros atributos intangíveis valem uma minima atenção feminina. Veja, caro hater, vivemos na sociedade atual uma relação de amor e ódio com as mulheres. Por um lado, temos a fertilidade a nortear e ebulir nossas mentes. Por outro, vemos a carne, mas vemos o comportamento. Sua mulher, está satisfeita, oh engenheiro?

- Como assim, queres passar de um autorzinho anonimo, para um autorzinho morto? Talvez alguém te valorizes estes vãos escritos após morreres...

- Não há necessidade, meu caro, de me capitalizar. Veja, pergunto porque você me parece tão defensor da boa aparência para que um possa discorrer sobre a complexidade feminina. Será que sua mulher está satisfeita com seus dotes? Sempre pode se melhorar...

- Continuo dizendo a ti, tomes cuidado para não teres tua boca quebrada. Não sou como os leitores vagabundos e desmiolados que cultivam tuas idéias desconexas!

- Eu não preciso de autorização de qualquer mulher deste mundo para me derreter em palavras calorosas por elas. Escrevo, tomo-as de assalto, faço de suas personalidades minha paleta e tela...

- Quanta pretensão, ah...

- De fato, o que você, nobre engenheiro da vida, faz pelo feminino? Planeja? Constrói, tijolo após tijolo, para depois desconstruir e fazer tudo de novo? Tem sentimento pelo que cultiva? Ou somente posse? Aceita mais um café?

Xícara de café número 2:

- Tu não me almiscaras o pensamento, socialistazinho dos teclados. Eu sei o que bem faço de minha vida! Não tentes tirar o teu da reta. Aliás, quando foi que tu fizeste diferente dos políticos que criticas? És tu um brasileiro diferente de mim, ou de 200 e tantos milhões deles?

- Não sou, não. Sou tão brasileiro quanto a imbecilidade dos meus textos permite-me ser. A diferença entre eu e você, é que você vê, mas não nota. Eu noto, escrevo, mas nada faço. Somos ambos inúteis perante a massa, não criamos, não destruímos, não pressionamos, não revolucionamos. O que fazemos? Tomamos café enquanto o país afunda, dia após dia. Se meus textos fazem pelo menos alguém pensar, já ganhei meu dia, mesmo que este já esteja, de fato, perdido.

- Um grande farsante, isso sim! E quem pensas que és ao ditar se a sociedade está em decadência ou não? Tu decais com ela, meu autor. Me fale, que traços da sua personalidade são mais incoerentes? O bom moço que tu não és, ou o cara politicamente engajado que tu nunca foste?

- Touché, você me acertou. Finalmente está tendo algum senso esta conversa. Sou decadente, admito. Sexualmente não sou santo, nem religioso sou. Não prego, já disse acima, nada de bons costumes ou bons exemplos para os jovens. Declaro-me culpado do choque constante das palavras, no entanto, que poucos querem ouvir. Veja, nobre engenheiro, você tapa o sol com a peneira. Você acorda de manhã e vislumbra seu dia, seus ganhos, e volta para sua vida cega, ensolarada, como um animal de corte que escapou do matadouro por mais um dia. Eu, meu caro, fico a espera deste dia capital no matadouro, contando os minutos para quando meu dia chegar. Se até lá eu puder espernear bastante, mesmo que este fim seja inevitável, eu o farei. No fim, todos inexoravelmente viraremos alimento desta terra. Nossa unica diferença é a resignação. A minha incoerência é proporcional à complexidade dos dias de hoje. Freud total.

- Então tu escreves o que não praticas? Estive certo este tempo todo.

- Você pratica o que diz? Diga-me, quando foi a ultima vez que deu um beijo em seu filho, e rezou por ele?

- Sempre faço isto!

- Verdade? Pois este café está bom demais, muito embora não seja um soro de veracidade. Posso te dizer? Você nem nota a existência dele. Você não beija nada, a não ser sua própria imagem de sucesso de cartilha. Seu coração é uma bolha rosada, física, árida, que pulsa pelo simples desejo de ter. Não me julgue como você julga este café, que por sinal, foi feito com pó de quinta.

- Me dá mais uma xícara!


Xícara de café numero 3:

- Talvez se você me lesse, saberia que o que sempre quis foi fazer o certo, mesmo que o certo não faça mais sentido.

- Fale por ti, medíocre! Não leio o nonsense que você escreve nem que estivesse com uma Glock em minha cabeça.

- Pois sim, ninguém te obriga. Mas se quer criticar, tenha base. Não me critique baseado nos seus preceitos pré estabelecidos (redundância) que todos que fogem da reta são medíocres ou covardes. Se eu vejo a sociedade com olhos marejados é porque sinto as pessoas em rota de colisão com seus desvarios. Faço curvas para evitar seu fim doloroso e trágico. Vivendo em retas, chegaria lá mais cedo!


- Preciso ir, este assunto não me leva a lugar algum. Já disse o que tinha em meu peito, tu és um farsante, um pessimista clássico, que usa de modos caóticos para subverter uma série de ignorantes que não pensam por conta própria. Faça um favor à sociedade, apague esta antologia de fracassos, e mude-se de país!

- Se hoje temos visões dispares, não significa que em outro mundo não podemos avizinhar ideologias.  Somos, afinal, a mesma pessoa.

- O que?

- Consegue se enxergar em alguns manuscritos aqui, ó?

- Não mesmo, bosteiro! Não me venha catequizar as idéias.

- Você é meu ideal, cara! Eu olho para você, e vejo o ideal culto, quadrado e conformado que minha alma gostaria de repousar. Pelo contrario, anuncio neste blog o indivíduo desleixado e pusilânime que sou, descompromissado com a realidade, exceto por critica-la, como se este mundo me devesse algo. Mas meu alvo é você.

- Estranho você dizer isto, pois apesar de tu me pareceres alguém que não transa a realidade e se abstém dela como um pássaro que vai de encontro a um vidro translucido, eu também te admiro o cinismo. Que lado deste corpo tu deténs?

- O lado obscuro e sombrio. E você?

- O lado mecânico, que involuntariamente faz o que é certo, mas não entende o porquê.

- Não vou deixar de escrever neste blog.

- Vou trabalhar amanhã.




domingo, 8 de fevereiro de 2015

Lamentos da Carne, da Minha Carne.

Das dores de ser um homem já provei tantas quantas a vida me permitiu, e delas compreendi que se aperfeiçoar é a unica vantagem de ter passado por aqui por um curto período de tempo, nesta terra injusta, de prazeres vãos e sofrimentos perenes. As experiencias te fazem passar ao largo dos momentos ruins e restringem seus desejos aos mais seguros e plenamente possíveis de serem realizados.

Que paliativo mais gostoso para uma vida de sofrimento temos senão a doce experiencia da paternidade? Da superficialidade dos meus atos a vida me propôs uma simples, mas desafiadora missão: a de criar duas doçuras em forma de ser humano. Presente máximo que de puro deleite não espero nenhum retorno, muito embora gratificante seja sentir o amor irradiado por dois pares de olhinhos ávidos pelo meu simples abraço, meu simples ensejo ou desvio de uma atenção em algo desimportante, para que possa olhar seus olhares desejosos do mais puro amor, que não tem interesse, não tem nome, não tem fronteira. O que eles querem é tão pouco comparado a este mundo de ilusões breves, que sentimos sempre estar em débito com eles.

Quando nasceram foram eles no brilho dos meus olhos que minha alma refletiu, cada um a seu momento, e com importância unica pontual. Ao me recostar num estado de reflexão ainda sinto presente em meus dedos o cheiro infindável da bendita Hipoglós que nos salvou das assaduras tão comuns na pátria ardente que eles nasceram. Dos choros da madrugada sem fim, das idas ao pediatra, das noites ainda por descontar o sono, dos cochilos no sofá com seus corpos mínimos em meu tórax largo e disforme, guardo a mais terna lembrança de dias melhores, dias piores. A paternidade me moldou, ainda que pela ingratidão de outra, um homem menos irascível, menos revoltado e mais sensível. O toque leve de suas pelezinhas rosadas em minhas mãos brutas eram o grande acalmador da minha alma inconstante, e me fazia tecer lágrimas de pura incredulidade em tal milagre que eles me proporcionaram. Ah, como me fazem falta...

Das fraldas sujinhas o cheiro não me abandona a memoria olfativa, e os bracinhos delgados a me pedirem eterno colo, somente para que pudessem descansar as perninhas, ainda que tivessem de aguentar o suor azedo de minha face. Pidões e inocentes, eles me cuidavam, me tratavam, me deixavam a par das minhas próprias limitações, que não são poucas. Dos dias divertidos ao lado deles minha mente flutua em desejos intensos de repetir sempre aquilo que não posso mais ter no meu cotidiano duro, e busco na lembrança gostosa o alento destes pequenos milagres a quem devo muito, mas pouco posso fazer para alenta-los dum querer eterno.

A vida me fez seguir caminho distinto d´eles, mas que eles um dia possam ler esta declaração ofegante como um testemunho de que seu pai tentou, e mesmo quando estiver em meu leito de morte, quando bem ela desejar vir, que possa deixa-los com uma sensação de que nas minhas melhores memorias eles estarão sempre. Que do outro lado desta vida, eu vos guardarei, em seus sonos infantis e inocentes de hoje, ou em suas agruras adultas do amanhã, eu estarei, em vida ou não, restando meu braço firme abaixo de suas cabeças, num onírico desejo de ainda te-los em meu colo, como quando o fiz em suas infâncias, em minha juventude passada. Onde quer que eles estejam, meu coração ainda os guarda, secretamente choroso, mas orgulhoso das duas coisas mais lindas que a vida me presenteou. Que eu não vá embora agora, e possa sentir o ralar da tua barba num beijo seu, meu filho! Que eu possa sentir o cuidado da tua alma feminina com seu velho pai, minha filha.

Pensando bem, ando com muitas saudades do cheiro de Hipoglós. Foi especial, é especial e ainda será especial em minhas narinas.