quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Memórias, "Doces" Memórias.

Por um momento achei tivesse ouvido uma voz corriqueira e amada, por outro houvera pensado sentir a presença desta ao meu lado, sentia seu aroma como se fosse presente, inebriando meu olfato com o mais doce perfume inerte em álcool 92°. Um simples momento de puro êxtase mental deitado numa rede rasgada e desgastada pelo tempo. Aonde estava? Pouco importa. O que interessava era onde estava meu pensamento, e ele repousava serenamente sobre suas mais doces lembranças e cálidas memórias livres.

Uma brisa sorrateira me beija o rosto um tanto suado e esturricado pelo escaldante sol das duas da tarde naquele sábado soturno. Esta brisa traz o cheiro do jasmim que um dia senti naquele breve momento de exagero por entre suas pernas, onde me adaptei à fragrância do seu sexo... mais memórias tórridas me atingem, sorrateiramente, como uma criança que me abraça envolventemente com seus delgados braços. As páginas daquele surrado Hemingway nas minhas mãos não passavam, estava inerte numa leitura sem tesão. É complicado não ter prazer em ler "O Velho e O Mar", e ver seu autor se esgueirando pelas vielas de Havana em busca de sua musa cor-de-bronze, tão natural das terras caribenhas, entre uma e outra parada para um refrescante Mojito. É, aquela página parou, assim como eu naquele momento.

Fechei o livro, a brisa cessou. Estava quente, e minha imaginação estava falhando, contudo balancei minha rede e entrei num embalo quase que materno, rebuscando ainda coisas que me fizessem lembrar de ti. Ainda tenra era minha memória do marejamento nos seus olhos a cada xiste proferido pela minha irônica boca, maldita boca, um convite a ser calada sempre. Tenra era, também, a curta lembrança que tinha de suas mãos suando a cada avanço imbecil da minha parte em sua nuca e orelhas, com o breve e vão intuito de tão somente aumentar seus batimentos cardíacos, sadicamente. Ora, jamais mandei em seu coração, por que haveria de o conseguir naquele momento? Ri descontroladamente na minha rede.

Eram memórias duras, limpei meu sorriso logo que realizei a dureza dum querer eterno, dum desejo destruidor que te dilacera as entranhas de impotência pura. Que calor absurdo! Penso no mal que devemos estar fazendo para este planeta, para que um sol destes queime minha pele daquela forma. Penso que mal posso ter eu feito para que meu momento de ócio, meu dolce fare niente, se torne uma viagem perturbadora aos meandros das minhas mais atrozes memórias. Seria obra de um exagerado patológico, que tende a transformar cada pequeno evento de sua vida em um romance épico? Em tempo, a minha Ilíada está longe de terminar, adiciono capítulos a ela diariamente. Pode ser, mas a virtude da minha inquietude está em exatamente estabelecer que, se ainda houver a mais fina ripa de madeira para queimar, este fogo ficará aceso por tempo indeterminado. Serei sim, escravo das minhas memórias, mesmo que curtas, serei sim adornado com as mais variadas definições depreciativas a mim mesmo. Tolo e vão, é que penso de mim naquele momento.

Por um momento ouvi algo, seria lembrança, ou seria real? Assim como na chegada dos cavaleiros do apocalipse, ouço um ecoar celeste retumbante...era um prenúncio de chuva. Chuva, sim, após tanto calor, um pouco de frescor. Deverei sentir o cheiro das plantas e do solo ao serem molhados pela deliciosa chuva especial que só nos ocorre após uma jornada tão quente. Me estiquei na rede, e esperei pelos pingos. Quero senti-los em meu rosto suado, para que o mesmo se misture e disfarce as minhas correntes lágrimas.

Um comentário:

  1. excelente Luciano...você deveria começar a pensar na hipótese de reunir isso num grande tomo.
    abraço

    ResponderExcluir