sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Sobre o Carnaval e a Humanidade


No bloco da saudade já desfilei, cantando versinhos, balançando os braços e,  olhando meu suor farto, declinei da festa. Pensei na humanidade.

Dos foliões de edredon, ao pândegos das ruas, o que nos resta para filosofar nesta festa tão sui generis, tão cheia de exotismo, contudo questionada? A alegria tênue, que permeia entre o descontrole da dança e o embarque dolorido em um mundo alcoólico faz com que pensemos na necessidade humana unica de curtir até o mais espremido espaço, dentre tantos, ocupados por pessoas, igualmente alegres, que exacerbam o limite do corpo, colocando sobre seus ombros adornos e fantasias abrasivos, pesados, duros, só pelo momento, pelo escarnio, deboche, sensualidade e mídia.

O Carma intenso das dores quase nos remetem a meditação plena, onde o transe, neste caso, advém das batidas intensas  dos tambores e bumbos, que marcam os ritmos e fazem o sangue destes foliões ebulirem em ato continuo, até que suas forças se esvaziem num corpo fétido, caído, ébrio e escaldado do calor intenso desta parte do trópico. Que engraçado perceber o quanto queremos estar próximos uns dos outros neste momento.

A humanidade é tão fria. Olhamos ao nosso lado e interações não mais existem. Olhares são mal interpretados, abraços são vistos com grande reserva, especialmente se vindos do mesmo sexo. O toque humano nos falta, e se ocorrem, vem acompanhados de grande relutância. A solidão escalda a sociedade moderna, assim como o sol do meio dia escalda aqueles foliões suados em um bloco qualquer. E a alegria? É fabricada? Será que não agimos fora da curva porque já vivemos em reclusão atualmente? É como se tivéssemos que explodir a cada feriado, a cada lapso de tempo que passamos longe de nossas entediantes mesas de trabalho.

O carnaval não é tudo isso, não. E nunca foi. Hoje, então, nem se fala, pois dos costumes de outrora, da curtição tranquila e dos bailes infinitos dos clubes sociais só nos restam as migalhas. O feriado virou business, para os artistas celebrados e para os não tão celebrados assim. Um midiático show de mulheres testosterógenas, homens estranhos, patrocinadores de eventos e trios elétricos repletos de babaquices para quem deseja ser privado de seus sentidos. Para os meros mortais virou uma desculpa para bebedeiras, comilanças, liberação de agressividade, demonstração de desrespeito e muita, mas muita desilusão. Sim, desilusão! O carnaval é o opiáceo do folião e o cativa pela promessa de um período de intensas experiências, mas o destrói como resultado delas. O resultado são picos de alegria e fossas abissais de depressão, numa montanha russa de experiencias profundas que somente atiçam o que há de pior na humanidade de hoje: o imediatismo das sensações.

Eu olho para o carnaval com olhos de saudade, porém críticos. É uma visão de sintomas graves, como a ver um drogado dizer que está bem, que está sóbrio. Uma miríade de coisas passam pela mente, ao ver o carnaval pelo Brasil, na tela da tevê, como diz o bordão. Muitas delas, são de pura indiferença, de desapego por um período festivo que tanto foi uma expressão das camadas mais esquecidas da sociedade, e que hoje é um showcase para ricos e milionários exporem seus abdomens negativos, ou seus fantasiosos dedos ao ar, a marcar os ritmos rompantes. Era uma festa do povo, hoje é um espelho da decadência humana, e do elitismo prosaico, ordinário, marcado por gente que jamais viveu o carnaval em sua essência, somente suga, sorve a mesma.

...é que o folião nunca tem razão, ele apenas aproveita a ocasião...

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