quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A Falácia do Perdão

Tenho asco de conceitos religiosos. Muitos deles já estão batidos na louca sociedade atual, e precisam urgentemente ser renovados para que a religião não se torne ultrapassada na sua prática pela humanidade. Mas não é de religião que quero falar aqui, e sim da sua verdade universal mais propagada pelas nossas imundas bocas: O perdão. Ser um exercício divino não o exime de ser uma tortura. O perdão está inversamente ligado ao orgulho, um dos nossos traços mais marcantes. A igreja Católica o venera, o impõe e os fiéis fingem que o praticam. Sim, estou falando que são todos mentirosos aqueles que dizem que perdoam, e fazem como no famoso dito popular: "vamos por uma pedra em cima disso tudo?". Balela. O povo é cínico pra burro, citando Nelson Rodrigues.

O perdão está além das nossas capacidades limitadas de ser-humano pós primata. Costumo pensar que a religião está aí para nos ensinar algo que nunca seremos ou colocaremos em prática. Ainda assim existem indivíduos que acreditam completamente que perdoaram seus desafetos, e vão conseguir conviver, enfim, com um sentimento de bem-estar consigo próprio e com Deus. Acreditem no quiser, eu não acredito na raça humana. No fim, a pessoa que "perdoa" jamais deixará o perdoado esquecer seus erros, jamais deixará de lembrá-lo que um dia o "creditou" de uma possível segunda chance. Até nesse momento, o orgulho de quem perdoa está em ação.

A característica mais marcante de quem perdoa é o seu ego descabido. É como um antigo Imperador romano, acima do bem e do mal, que tem a vida de um reles qualquer em suas mãos. O ato de levantar o dedo para perdoar e abaixá-lo para condenar é um ato de puro ego, onde o mesmo, ao perdoar, se sente absolvido pelo perdoado. Sim, o ato do perdão é um ato egoísta. Ora, chegamos a duas conclusões interessantes: Quem perdoa mente e quem perdoa pensa em sí próprio. Não se esqueçam, estamos falando de um conceito religioso.

Como podem mortais como eu e você perdoarmos alguém se temos defeitos mais terríveis que qualquer mal que possamos ter feito um ao outro? Isso é capcioso porque lida com um grande paradoxo. O perdão está para a índole humana assim como a escrita está para um cão. Não temos pureza o suficiente para relevarmos erros alheios porque estamos repletos de erros próprios. Não conheço e acredito que não conhecerei ninguém iluminado o suficiente para sair por aí perdoando os erros da humanidade. O ato de cinismo ao dizer eu te perdoo é tão latente que me faz analisar alternativas mais condizentes ao nosso patamar de evolução. Ao invés de dizer eu te perdoo, você pode dizer: - Sou tão ruim ou pior do que você, não sou ninguém para te perdoar, mas sei que nunca mais quero olhar nessa sua cara. Isso sim é justo! Ser real, verdadeiro, e dizer aquilo que sente. Agora, falar simplesmente eu te perdoo é mentir, pura e simplesmente, para você próprio e para a outra pessoa.

O perdão é uma das grandes mentiras perpetuadas pelo ser-humano de tempos em tempos para justificar os seus erros. É muito mais fácil tentar não errar, e se for errar, estar preparado para as consequências. Quem perdoa mente, e quem aceita o perdão sabe disso.

2 comentários:

  1. Luciano... grata surpresa ter esbarrado com você na comunidade do Velho Bukowski! Dei uma volta pelo seu blog e confesso que me deliciei com os temas abordados, assim como com sua escrita direta e poética... exercício muito difícil. Amei o "Falácias", não pensaria em termo melhor para o título. Gostaria apenas, se me permite, de fazer uma ou duas observações. "O Povo é cínico pra burro". Concordo que o desencanto causa essa tendência primária, que eu mesma por várias vezes já me policiei bastante para não me deixar levar... Mas eu posso lhe afirmar meu caro. Esse povo não é cínico, esse povo é apenas desprovido de sentimento para com qualquer coisa que não seja os seus umbigos. Outra situação que me chamou a atenção foi quando você afirmou que o ato de pedir perdão e o ato de perdoar de uma forma tão apropriada e no final se perde totalmente quando confessa que tudo isso não passa de conceitos religiosos... E quanto as pessoas como eu... que não tenho religião definida. Aonde está o meu perdão? Quem vai me perdoar? E pra quem eu estou mentindo?

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  2. Peço perdão pela abordagem um tanto superficial e enviesada da minha parte sobre este conceito, mas só a sua leitura já me completa ao ponto de me fazer concordar contigo.

    abraços cordiais!

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