quarta-feira, 28 de outubro de 2009

À Minha Eterna

Muita gente morre sem conhecer um grande amor. Muita gente passa uma vida inteira amando e não sendo correspondido, o que é ainda pior. Eu faço parte do seleto grupo daqueles que acharam sua significativa metade, sua Vênus num mundo de Medusas. Carrego comigo uma verdade a qual não me esqueço jamais: O homem só ama uma vez! Duas talvez, incluindo sua mãe. Esta verdade me foi possível ainda na tenra idade. Era um adolescente arrogante quando a conheci. Não pensava nada, tudo vinha por impulso, inclusive o desejo pelo sexo oposto. Aliás, pensando bem, eu era um rapaz bem normal para a minha idade.

Aos dezessete anos pouca coisa realmente importa, seu mundo se resume aos seus pais, os amigos, a escola e aos bens de consumo. Pouco disso servirá de nada na vida, mas ajuda a adolescência passar mais rápido, pois é um período terrível das nossas vidas. Nunca procurei me apaixonar, nem era meu objetivo, mas ao conhecer minha parceira fui atingido por algo que não pude resistir. Era um olhar, um trejeito, um cheiro...porra, era alguma coisa inexplicável. A delicadeza de seus movimentos me deixavam como um lobo faminto, em posição de ataque, e seus olhos tinham um poder surreal sobre mim. As minhas impressões ao vê-la pela primeira vez foram confusas, mas meus instintos mais primitivos diziam que algo diferente estava a minha frente.

Me desfiz em palavras hiperbólicas àquela mulher, jurei mentiras, contei vantagens, declamei versos, e ela não reagia. Engraçado como a gente vai gostar logo daquela mulher que menos se impressiona com nada. Eu insisti. Entre um copo ou outro de Soda Limonada fui conhcendo-a melhor, suas origens, suas alegrias e tristezas. Havia sido um dia longo demais para se dividir tanta coisa, e eu era muito "goiaba' pra absorver tudo aquilo. Entretanto, uma maturidade me ocorreu, algo que não me era natural naquele momento da vida. Ela tinha um fruto, uma resquício precioso de uma falida relação anterior. Pensei que iria esmorecer depois de tal choque, mas curiosamente simpatizei com aquela situação, que outrora seria embaraçosa para mim. Nunca me imaginei com crianças, nem mesmo sendo pai. Mas foi nisso mesmo que me tornei dalí pra frente. Já mencionei que tinha dezessete anos?

Em poucas horas já tinhamos trocado o primeiro beijo, e minha sensação de conquista só não era maior que sua recusa aos meus ataques. Sim, eu era abusado! Não contente com beijos, quis mais. A testosterona fervia em meu cérebro, e eu não me continha sob meus jeans um tanto apertados. Ela soube me levar, e nossa primeira experiência foi natural, como manda o figurino. Não haveria porque ser algo de momento, e o planejamento fez a coisa ficar muito mais interessante. Percebi, após estes primeiros passos que esta mulher era perfeita para mim, seu corpo era um encaixe perfeito para minha bruta forma. Sua delicadeza era deliciosamente paradoxal à minha robustez natural. Ela não era a minha primeira mulher, mas fiquei com a impressão de ser a última.

Anos se passaram, e eu cultivei esta mulher. Milhares de percalços surgiram, alguns frutos da minha incapacidade de ser um homem sem graça, tipo perfeito para relacionamentos duradouros. A minha impetuosidade e falta de racionalidade por vezes colocaram-me em perigo, e merecidamente poderia estar sem este valioso bem em minha vida. Por outro lado, ela tem defeitos de formação, difíceis de serem corrigidos na fase adulta, mas fáceis de conviver. Durante nossa trajetória eu me senti atraído, desinteressado, alegre, triste, deseperançoso, esperançoso, fiel e infiel. Fui, por vezes, um fantoche do meu tesão. Mas jamais direi ser incompleto. Amei e fui amado, quero ser sempre assim, queria ser menos eu, queria dar a esta Vênus a incondicionalidade de um amor eterno, reconhecer seu valor e seu caráter. Se nasci e fui para os braços de minha mãe, quero morrer, enfim, nos braços desta outra mulher, a que me fez passar por este mundo sabendo que não morrerei sem ter sido amado.

As palavras jamais definirão uma trajetória como esta, mas a escrita imortalizará a estória de um casal, mais um casal entre bilhões, que pode até tomar caminhos distintos, mas que deixará um legado que o amor ainda tem lugar no mundo atual, e eu amo.

3 comentários:

  1. Bravo, Luciano!

    Os Brutos também amam!

    :-)

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  2. Haviam séculos que um 'desconhecido' não tomava meu tempo e, principalmente, minha atenção, desta maneira.
    Parabéns.

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  3. Um estupro na minha frieza. Sensacional!

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