quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O Carisma Exibicionista Versus A Privacidade

Às vezes me espanto como tudo na vida tem dois pesos e duas medidas. O que é monstruoso pra mim, pode ser agradável para vocês, pode-se adorar alguém e outra pessoa odiar este mesmo alguém. Enfim, nada é unanimidade nas cabeças complexas dos seres-humanos. O que dizer então de se querer agradar a todos? Seria uma utopia? Carisma é a questão a ser abordada.

O carisma é um traço marcante da nossa personalidade, e reflete o quanto nossas relações sociais são valorizadas entre nossos semelhantes. Eu observo muito as pessoas carismáticas, e chego a uma conclusão muito simples: São "vaselinas". O leitor que não compreende a gíria está intrigado, mas eu explico. "Vaselina", além de ser um derivado do petróleo para lubrificação, também é um termo utilizado para se designar pessoas que são flexíveis em todos os sentidos. Têm opinião mutável, se adaptam ao sabor das tendências, e não se prendem a um dogma, por mais absurdo ou correto que ele esteja. Não consigo me encaixar nessa pecha.

Longe de mim querer criticar o carismático. Não posso, entretanto, deixar de citar que grandes personalidades carismáticas da história se tornaram os maiores fascínoras da humanidade. Hitler, Pol-Pot, Stalin, Franco, Saddam Hussein...entre outros, são exemplos marcantes do carisma utilizado para fins de liderança suprema. Todos eles beberam na fonte da busca incessante pela aceitação popular, em prol de um objetivo maior, cada um à sua maneira. E o carismático comum? Como é? Temos hoje em dia exemplos mais marcantes de pessoas carismáticas ao nosso redor. Com a internet, essas pessoas conseguem amplificar suas atitudes populares e arrastam milhares de seguidores com elas. Sites de relacionamento denotam muito isto. As pessoas intensificam seus círculos de amigos, virtuais ou não, e cultivam um comportamento bastante marcante, que apesar de"vaselina", apela para o escancaramento das suas vidas particulares, por meio de fotos documentando cada simples evento de suas vidas. É, hoje todo mundo é meio celebridade.

É incrível, mas percebam que a pessoa mais carismática é sempre aquela que mais aparece nestes sites de relacionamento com fotos, vídeos, trechos "chupinhados" de sites de frases de efeito etc. É o tesão da classe-média atual ter o mesmo comportamento de celebridades tolas que exibem suas vidas para todos verem. Querem ser pequenas e célebres criaturas anônimas, mostrando fotos em poses provocantes, nas viagens, no churrasco do amigo, nas micaretas (habitat natural dos carismáticos), baladas, no ponto de ônibus etc. Só falta mesmo documentar o ato sexual privado de cada um. Aí sim, teremos o grande "big brother" do proletariado, com seus microcomputadores parcelados, recém inclusos digitalmente, tomando sol em seus quintais com biquinis atochados, ou sunguinhas pequeneninhas, fazendo biquinho pras suas camerazinhas digitais. Não se ofendam, o que todos querem é ser menos anônimos, e mais amados. No fim, é tudo uma busca pela aceitação, pela inclusão, num cenário de capitais e grandes cidades onde as relações são cada dia mais frias.

Ser carismático pode ser sinônimo de poder. Nosso presidente é extremamente sedutor ao povão, com seu jeitão de "seu Zé do bar vestido de paletó", ele conquista cada dia mais adeptos, até mesmo a mim. Luís Inácio "Lula" é até objeto de filme hoje em dia, protagonizado por atores de primeiro time. Quem tem mais de 30 anos sabe o caminho que este homem percorreu até chegar onde chegou. Saberia também que, há 20 anos atrás, jamais ele conseguiria ser presidente com seu discurso popular. Eu disse popular, não populista. Ele é o maior exemplo de onde o carisma pode levar, por isso muitos se enviesam para este caminho, o caminho da fácil aceitação, da aceitação a qualquer custo, da supressão da personalidade em troca do sorriso alheio e do famoso: "me adiciona aí!".

É uma nova sociedade o objeto deste texto. Um novo paradigma que direciona a uma vida de falta de privacidade explícita, e exibicionismo sem precedentes. Quem critica, diz que isso tonará nossa sociedade mais vulgar. Quem aplaude, defende que as pessoas serão mais unidas, derrubando antigas barreiras de relacionamentos que geravam preconceitos e até conflitos. Eu prefiro manter meu perfil pouco carismático, mas porque sou mais recluso, um traço marcante de minha personalidade. Jamais tentarei ser algo que não sou. Já o fiz, mas só me trouxe raiva de mim mesmo. Na verdade, quem me conhece me acha até irritante. Talvez este seja meu charme. Talvez não. Enfim, muito cuidado com o que desejam. Querer ser bem visto na "rodinha" pode ser a sua ruína, pois quem muito se expõe está arriscado a ser escrachado e até invejado. O anonimato traz alguns benefícios que só quem já o perdeu pode valorizá-los. Cultivem um pouco a privacidade, por favor! Faz bem guardar algumas coisas só para sí.

Um comentário:

  1. kkkkkkkkkkkkkkkkk

    Usou a foto do meu antigo espirito zombeteiro, o Bukowski...

    Ficou sensacional. Agora vc vai ter de pilotar o alborghetti e o buko. kkkkkkkkkkk

    Vai ser engraçado. rsssss

    Gde abraço e parabens pelo blog.

    do amigo N38.

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