quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A Cilada da Balada

Há tempos não postava por simplesmente não querer postar. Definitivamente não tenho tido nada muito importante a dizer, mesmo porque a vida tem se tornado algo demasiado estatico e estagnado. Coisas da idade, que vem chegando juntamente com uma certa tiriça, um desapego a certos eventos e encontros. Os excessos são trocados por coisas mais equilibradas, atividades mais serenas, que ajudam a relaxar, ao invés de nos tornar mais estressados, sem percebermos.

Mas não é sobre a idade que quero discorrer. Isso já fiz demais. Quero filosofar sobre as formas de diversão, do termo em latim divertere, que significa distrair, abstrair-se da realidade por um dado momento. Eu entendo que todos tenham a sua propria formula de distração divertida, por assim dizer. Contudo, há uma que me chama muito a atenção, pois junta duas coisas interessantes: a diversão e a paquera. Está no instinto humano o flerte. É normal buscarmos o parceiro em situações de prazer, como em sair para dançar.

A dança é uma forma de se expressar sensualmente. De alguma forma, a pessoa que está dançando quer passar um viés de sensualidade, seja para seu parceiro, ou para alguém que estiver ao redor, ou assistindo. Sempre saí com amigos, namorada etc... para danceterias, e é um tipo de diversão que me agrada. No entanto, cabem algumas conclusões sobre este tipo de distração, bem peculiar nos dias de hoje. Afinal de contas, as casas noturnas deste tipo se proliferam, e ganharam status de "club", ou "joint", ou qualquer outro nome destes que beiram o absurdo do anglicismo.

Pra começar, quando se escolhe um estabelecimento de ponta - ninguém quer ir num local onde ninguém vá - você se depara com uma fila que não anda. É impressionante, mas a imagem que a casa noturna passa é que eles não te querem lá, a não ser que voce seja uma mulher solteira e bonita, o que te faz muito desejável aos olhos dos administradores do local. Não se esqueçam que, estabelecimentos como este, vivem de imagem. Passando pela fila, depois de uma hora ou mais, temos que aguentar a cara feia dos "leões de chácara" que promovem a segurança destes antros. Todos eles engravatados em seus ternos a la Men in Black, com um ponto eletronico nos ouvidos, eles te olham sempre como se voce fosse um potencial risco para a casa. Voce pode estar vestido com a melhor roupa do mundo, chegar de carro importado, mas se voce é homem, solteiro e feio, se prepare para levar olhares nervosos de seguranças loucos pra te por numa gravata, e te botar na rua.

Mas tudo bem, pra não dizer que não falei das flores, tudo tem seu lado positivo. Ao andentrar finalmente o recinto, a visão é estarrecedora. Mulheres muito bem maquiadas, com seus vestidinhos curtos e sapatos altos. Tudo combinando, até mesmo os cabelos alisados, com luzes. Os perfumes são variados, mas inebriantes, tanto quanto as variadas bebidas alcolicas que elas carregam em suas mãos delicadas. Por vezes penso se alguém estaria disposto a encarar uma diversão destas sem se intoxicar de alguma forma. É só um pensamento... .

Olhar estes exemplares de jovialidade, todas descoladas, com personalidades marcantes, dado o bom nivel socioeconomico atual e a liberação feminina latente do século XXI, é um deleite para os olhos. Entretanto, de flores eu já falei, devo prosseguir com a marcha funebre em forma de diversão. Lembram-se quando disse que, por vezes, os donos do estabelecimento parecem não te querer por lá? Pois bem, é possivel ter mais uma prova disso quando precisamos beber alguma coisa. Voce pede sua bebida, e o barman te ignora. Você estica sua comanda, pede a bebida de novo o cara te ignora. Quando finalmente, ele te vê, aparece uma moça estonteante, e ele, com esperanças de algo com ela, a serve primeiro. Dá vontade de se rebelar, mas não se esqueça: seguranças.

Voce espera o cara ter a boa vontade de te servir, quando de repente, encosta no balcão um "brother" do barman. Aí a coisa vira experiencia surreal. Eles papeiam, o amigo veste uma camiseta polo agarradinha, tipo mauriçola de academia, aquele que quer mostrar que anda de carro importado, mas não deixa o verdadeiro carro com nenhum vallet, nem em frente a balada, se é que voces me entendem. Neste meio tempo, o barman já serviu toda a sua horda de mulheres gostosas e brothers, e só sobrou você. Quando você decide o que quer beber, ele diz não ter. Que seja uma cerveja, então. A mais cretina das bebidas, à mais cretina das diversões.

Encerrado o episodio da bebida, ou melhor, ele se repetirá por toda a noite, vamos dançar um pouco. Me lembro que, quando era adolescente, a fumaça nestes ambientes era sufocante. Naquele tempo, o cigarro era livre em locais fechados. Quem não fumava, era visto como bobo. Imaginem o nivel de desconforto. Enfim, todo o ambiente destes locais é feito para disfarçar a realidade de você. Quanto mais eles te privarem dos seus sentidos, mais eles te venderão bebidas e mais voce pensará estar se divertindo. As luzes estroboscopicas, a musica repetitiva industrial...até mesmo a temperatura - beirando o Saara - são feitos pra que voce consuma mais. Repetindo, se estivesse sobrio, provavelmente não duraria naquele local por nem uma hora.

A privação de sentidos dura até o momento onde um homem decide que é hora de flertar. Engraçado, mas ir a um evento destes, do tipo dançante, é complicado para os homens. É muita testosterona no ar, com as beldades, já citadas acima, balançando seus corpos, ajudadas pelo efeito de pouca luz, que esconde muitas imperfeições. Não há como não ver homens pendurados aos ouvidos da moças - a musica é muito alta, não é local pra conversas - cuspindo, falando alto, pelo efeito da bebida, tentando dizer algo que possa despertar o interesse da moça - que não seja a sua aparencia - em menos de um minuto. É como uma prova dos 100 m rasos da conquista. Quem falar menos merda em menor tempo consegue, ao menos, um beijo de premio.

A aparencia é algo a se filosofar. Claramente, a paquera, nestes locais, é toda baseada no conceito de aparencia. Fica dificil ser atraente ao parceiro de outra forma. Se voce vai chegar gaguejando, bebado, suado e com a roupinha errada - tem que ser uma polo agarradinha, numerada e com brasão - vai fatalmente entrar na fila do não. Aliás, o "não" é a palavra mais dita no local. Tem que ser muito perseverante pra se dar bem por ali. As mulheres ainda podem se maquiar, usar cintas, saltos altos, vestidos curtos...os homens, no entanto, não contam com nada disso. Se for feio, tá na "roça", vulgarmente falando. O jeito é malhar e fechar a boca.

Depois deste programão, lá pelos confins da madrugada, voce olha ao redor, naquele fim de festa, e dá aquela desolação. Não só pelo valor da comanda, que poderia te comprar muito mais que uma dança, umas cervejas e alguns nãos (pra manjar esta tem que ter a mente poluida), mas também pela visão horrenda de gente embriagada, meninas gritando, e rapazes se estranhando a cada esbarrão. Quando tem um quiprocó, o segurança, projetinho de animal de UFC ou MMA, usa de toda a sua delicadeza para praticamente matar os autores da confusão, antes de expulsa-los pra se matarem na rua. A imprensa não cansa de noticiar fatos destes.

Por fim, voce resolve encerrar a noite, paga sua comanda inchada, sai de lá surdo, tonto, sem voz e com a sensação que pagou pra ser maltratado. É algo meio masoquista, numa geração de sadicos. Faz a gente pensar... Enfim, fazemos a equação da empreitada, e chego a triste conclusão que não me diverti. Os conceitos de diversão, distração, seja lá como chame, são muito diferentes, de pessoa pra pessoa. A vida, no entanto, nos ensina que isto tudo cansa, e não diverte, por isso citei a idade. Ela nos mostra que a diversão passa muito pela qualidade das coisas, das companhias. Dançar é ótimo, faz bem ao corpo e ao espirito, mas é uma questão de ambiente. Num local fétido, escuro, com musica alta, excesso de gente, calor escaldante, banheiro lotado e com atendimento de quinta, a dança certamente não é prazeirosa. Beira o ridiculo. Realmente, tenho estado estagnado, mas a minha mente não para. É possivel flertar em outros lugares, com muito mais atrativos que não seja a flagrante beleza, superficial e pouco util nas relações humanas. Se fosse indicar alguma coisa pra te divertir, fuja de casas noturnas do tipo citado no texto. Vá fazer uma massagem, sei lá. É divertido ser esfregado, beslicado e apertado com oleos e essencias. Vão por mim, é bem divertido!

Nenhum comentário:

Postar um comentário