quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O Voto Ignorante

  Da incompetência latino americana para entender suas mais reais necessidades, eu já sabia. Ela, de tão contumaz, já vitimiza este povo sofrido por décadas, desde as mais variadas independências, heróicas até por demais do crível, passando pelo ditatorialismo caudilhista do século XX, até os dias de hoje. O que mudou? Houve evolução? Às vésperas de mais um processo eleitoral, a maior democracia da América do Sul, o Brasil, sofre com uma crise ideológica jamais vista antes, muito embora seu povo permaneça afundado numa impertinente ignorância, contraditoriamente.

  O voto direto como meio de escolha de um governante ou representante é indiscutivelmente a forma mais correta e justa de um povo eleger seus dirigentes, e neste ponto o Brasil, desde 1988, ano de sua ultima assembleia constituinte, é tácito em impor a democracia como sua forma e estilo de governança estatal. Uma miríade de políticos controlam esta dança caótica sob a qual nossa democracia se sustenta, e muitos deles se perduram há décadas, numa frenética mudança de cargos eletivos, onde as necessidades da nação são postas em segundo plano, em detrimento de interesses escusos, obscuros, diria até. De fato, a democracia foi porta para muitas liberdades individuais e igualdades de direitos. No entanto, esta porta, de tão escancarada, foi explicitamente usada como meio de meros interesseiros, mercadores do poder, entrarem na dinâmica do Estado com um discurso pretensamente liberal mas, na verdade, focado única e exclusivamente na perpetuação de partidos e grupos no poder perenemente.

  Ora, a democracia é, como dito acima, a forma mais justa e direta de se governar um país. No entanto, creio que a América Latina não estava pronta para esta governança "do povo". É importante frisar que para que um sistema democrático evolua dentro de uma nação o sistema de votos deve ser puramente voltado para a licitude, e cabe ao votante fiscalizar seus eleitos de forma ostensiva, acompanhando seus projetos, no caso do legislativo, e promessas, no caso do executivo. Na política, nem tudo que é prometido é viável. Como, numa nação de centenas de milhares de indivíduos abaixo da linha desejável de educação, podemos esperar um acompanhamento correto das ações políticas tomadas neste país pelos governantes eleitos? Parece-me pouco provável exigir do povo brasileiro, e latino americano, quaisquer iniciativas para se desenvolver um processo democrático pleno, dadas as condições culturais que nos encontramos.

  Num país como o Brasil, o legislativo existe na esfera Federal, estadual e municipal como meio de não só criar leis, mas como meio de fiscalizar as ações do poder executivo. Câmaras de vereadores, deputados, federais ou estaduais e senado federal atuam, primordialmente, como elementos regulatórios que representam diretamente seus eleitores contra os mandos e desmandos da administração pública que, por sua vez, faz o que pode, dentro de um orçamento, para implementar melhorias à vida da população em geral. Na prática, resumidamente, deveria funcionar assim. Mas, de fato, não funciona.

  Quando elegemos vereadores, deputados e senadores, quase sempre, elegemos por um partido, por uma ideologia, por um punhado de promessas. Está errado! Devemos eleger nossos representantes no legislativo pela quantidade de projetos e a viabilidade dos mesmos, caso sejam eleitos. Projetos de leis podem e devem ser plataformas de candidatura dos postulantes às câmaras, e infelizmente poucos destes apresentam projetos reais de lei que possam melhorar a vida como um todo da população. Em pleno século XXI, votar por ideologia, seja qual for, de esquerda, de direita ou de centro, me parece ser de um atraso atroz. A ideologia não move o caráter de um político. Há canalhas em todas as vertentes da ideologia humana, e não é um nacionalista contumaz, ou um liberal de cartilha que farão as coisas mudarem. Na verdade, quem se prende demais a ideologias na esfera política e em geral deve ser visto com muito cuidado. 

  Voltando à América Latina, quantos destes ideológicos caudilhos não se perpetuaram no poder, até por meios sanguinários, por tantos anos? Muitos deles estiveram no poder até pouco tempo, sendo freados pela morte ou pela própria incapacidade de gerenciar uma nação, natural de um ditador. Portanto, deve se partir da premissa que os partidos políticos, como um todo, são meros veículos de escolha de um candidato. O que importa mesmo é saber da lisura do postulante e dos seus projetos. O que vemos é que continuamos errando na escolha dos candidatos. Sarneys, Malufs, Tiriricas, Suplicys, Serras e até mesmo nosso ex-presidente Lula são figuras carimbadas na política, de forma exaustiva, os mesmos não desaparecem, não dão espaço para novas idéias e novos políticos. A falta de renovação na politica brasileira deveria ser assunto mister entre as pessoas com o mínimo de cultura. Homens velhos com idéias velhas já não podem mais figurar no cenário político nacional. Coloquei o Tiririca no bolo pois ele é um oportunista, um elemento simbolo da imbecilidade brasileira ao votar em seus representantes. Como ele, há vários nestas eleições pretendendo uma boquinha do já suado dinheiro do contribuinte brasileiro, elegendo-se para cargos de imensa responsabilidade sem terem a minima preparação para tal.

  O que leva o brasileiro a votar tão mal? Seria a ignorância nua e crua? Seria um protesto estúpido (onde já se viu protestar jogando o voto fora?)? Seria um desejo inconsciente de destruir o país? Enfim, é possível ter certeza que muitos dos votos advindos de regiões mais carentes do país são obtidos por meios nada ortodoxos e por mais que o TSE tente coibir a compra de votos, o suborno de autoridades e as fraudes eleitorais, é muito difícil numa nação continente fiscalizar cada pequena eleição de cada pequeno município e estado da federação. Ou seja, políticos espertos se candidatam por estados mais pobres, como forma de conseguir o máximo de votos de gente com menos educação possível. Muitas vezes, os políticos que lá se elegem mal têm residencia nestes locais, o que torna a fraude ainda mais evidente. 

  Muitos eleitores não sabem, mas os legislativos do país são as moradas dos maiores casos de corrupção vistos diariamente em escândalos, atrás de escândalos noticiados em vários veículos da mídia. Ainda assim, como que um Maluf ainda aparece em rede nacional pedindo votos? E como ele os consegue? O povo do estado de São Paulo, supostamente o que tem os melhores índices econômicos e educacionais da nação, ainda vota num homem com mais escândalos políticos nas costas do que dentes na boca. O que dizer então de Anthony Garotinho no Rio de Janeiro? E pasmem!!! José Roberto Arruda, no Distrito Federal, terra de gente bem colocada e educada nos mais altos cargos públicos, com renda per capita altíssima. Como isto ainda ocorre, em pleno século XXI, pretensamente a era da informação? Pois todos agem como desinformados.

  Enfim, ainda recrimino aqueles que na forma de protesto, dizem anular seu voto ou votar em branco. Ora, tantos lutaram há tantos anos para que este momento enfim chegasse para que seu voto fosse desperdiçado? Ou melhor, utilizado por coeficientes eleitorais para elegerem-se mais canalhas de terno e gravata? É melhor justificar e não comparecer às urnas. São atitudes como esta que demonstram o quanto a América Latina estava despreparada para a democracia. Nosso sistema politico corrompido, nossas economias devastadas, nossos índices sociais vergonhosos...tudo isso tem uma raiz e ela compreende toda a nossa falha como um povo nas decisões que mais importam para nosso bem estar. O Brasil precisa muito mudar. O continente também, mas o Brasil ainda mais. O partido vigente no governo federal não fez um mau trabalho no computo geral, mas falha miseravelmente em não querer sair do poder. A renovação é necessária para que as mudanças sejam implementadas, e politicamente o Partido dos Trabalhadores já está com sua imagem desgastada. Está na hora de se reciclar, assim como tudo na vida, e mudar os conceitos do partido. Os mercados, que são tão importantes para as economias das nações de hoje, clamam por mudanças no Brasil. Estas mudanças passam por reformas de ordem politica, com redução dos partidos nanicos, tão conhecidos pelas suas contribuições aos índices de corrupção. Reformas de ordem tributária são misteres para o desengripamento das engrenagens na atividade econômica brasileira. O país está estagnado porque está afundado em burocracias e alta carga tributária. 

  Se faz necessário, também, o investimento maciço em educação. O Brasil é um país em que o povo carece de cultura, de modos e de tempo investido em capacitação profissional. Sem isto, o desemprego será muito alto no futuro, até pela falta de mão de obra qualificada. Assim, voltamos ao cerne da questão, e concluímos que um povo que vota mal é porque é mal educado, aculturado, descomprometido e sem perspectivas de melhora. No entanto, se faz necessário um esforço nacional, sob forma de protestos, por entidades de classe, centrais de trabalhadores e fiscalização do público em geral para o trabalho dos políticos como um todo. Desta forma, aqueles que não rendem serão expurgados da política, abrindo espaço para novas mentes e novos horizontes nestes país e continente tão jovens. Precisamos mudar, de fato. mas começamos a mudar da urna em diante. 




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