quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A Crise Dos Trinta

É comum ouvirmos sempre os mesmos clichês sobre a vida: "É uma dádiva", "É cíclica" ou "Começa aos quarenta". Em todos os momentos somos reconfortados com frases que tentam nos lembrar que a vida é demais, é ótima, e tudo passa sem maiores percalços. Besteira é acreditar nisso. Cada fase do ser adulto tem uma maldita crise, tem um novo questionamento que nos leva a outro questionamento que só terminará quando finalmente estivermos senis ou mortos.

Quando tu nasces todos ao teu redor te adoram. Pelo menos deveria ser assim. Todos querem te segurar, te sentir, o amor do mundo te pertence. O afeto do leite materno e o laço com tua primeira mulher, tua mãe, te faz conhecer tua primeira forma de amor, ainda que muito primitiva. Com o tempo, tu aprendes novas técnicas sentimentais, teu choro é tua defesa. Tua fala ainda é torpe, a mulher que tu amas vive ao teu redor, por ti, e te supre de tudo.

Na infância tu expandes tua existência. Crias as primeiras amizades, desenvolves tua fala, teu toque, tuas preferências. De repente tua mãe te liberta e tu passas a experimentar sensações pela primeira vez, e essa será uma constante em tua vida: A experimentação e prática. Com a puberdade, tu te interessas pelo que te era escondido. Prestas atenção no sexo oposto, em suas virtudes e defeitos. Por alguma razão instintiva, tu descobres teu sexo de maneira natural. Tua fala amadurece, tua voz modifica, e teu cérebro parece falhar demais em situações onde tu deverias agir naturalmente. Em plena adolescência, tu te deprimes, tens vergonha de tudo, pudores descabidos. Todos são teus críticos. Roupas, gírias, atos, consumo...tudo pode ser julgado. Te tornas chato pra cacete!

Aí te tornas um projeto de adulto. A década de vinte revela teus defeitos e virtudes. Tua relação materna parece ser cada dia mais distante, e tuas necessidades são outras que não o amor pura e simplesmente. Queres independência, demonstrar maturidade forçada e ter o respeito de todos. No fim, dá tudo um tanto errado. Tu te relacionas com o sexo oposto mas quer continuar tendo individualidade. Teus amigos e tu mesmo só encontram-se para alcolizarem-se e despirem-se da pressão de ser homem no mundo atual. Tu tens um filho. Tu te juntas a uma mulher. A década de trinta chega, e com ela chega o questionamento. Seria o único? Ainda haverá muitos. Mas este é especial, por ser o primeiro.

Adulto, tu tens vida profissional, pessoal, sentimental e paternal. Uma porção de pequenas responsabilidades explodem em tua vida, e te deprimem. Mais uma vez, só uma coisa parece te libertar. O amor. Na chegada aos trinta, tu queres a figura materna de volta. Queres a segurança de ter um peito para drenar o leite da tranquilidade. Tu te assusta com a relação e suas responsabilidades, queres fugir, fingir ter "liberdade", voltar a crer que sua vida ainda é uma escolha dentre várias opções. Há vários escapes, e tu bebes. Tua fala volta ser torpe, assim como teus atos. Tua parceira não é tua mãe e jamais proverá a segurança de outrora. Tu estás só no mundo e tens que seguir em frente. Tens uma outra vida que depende de ti para continuar e só esta crise pode te ensinar que esta mesma vida passará pelos teus mesmos questionamentos. A resposta para tua crise é viver para que teu descendente não passe por esse momento sem a tua preciosa experiência para guiá-lo.
Que venha a década de quarenta!

Um comentário:

  1. Pois é, meu amigo Luciano... e tem mais: quem disse que ia ser fácil?

    Beijos,
    Gnomo

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