segunda-feira, 3 de maio de 2010

Beleza Pra Quê Te Quero?

Tem muita gente preocupada com aparência onde moro. Sei lá, deve ser uma sacanagem ou tortura se olhar no espelho e nunca estar satisfeito. Acho que a grana ajuda estes eternos insatisfeitos. Muito dinheiro e pouco cérebro é foda, reduz seu mundo a um calabouço de histerias pessoais ininterruptas. Quando não é a aparência, é o consumo desenfreado. Quando não é isso, é o vício e assim segue. Vou à academia três ou quatro vezes por semana. É complicado entrar lá com gana de pagar por um bom reflexo no espelho, e se esquecer do primordial motivo da coisa que é a saúde. Sim, eu faço atividade física porque quero ser saudável, e deixo como opção secundária a bella figura, ou melhor, deixo-a como consequência.

Sou um observador, e lá tenho um "zoológico" completo para a minha miríade de exemplares humanos, os quais retrato tanto pela escrita. Tudo começa no vestiário masculino. Sou "homem-fóbico", realmente. Não sou muito fã da figura masculina, e me incomoda muito ter que socializar meu espaço com uma dezena de homo-sapiens nus, mas o que se pode fazer? Nesta esfera nota-se um odor acre, caracteristico de nós, seres testosteronizados. Mas esperem, a maioria dos bonitões gastam tubos de desodorante antes da atividade física. Não precisa ser físico nuclear pra entender que isto é um desperdício e uma ofensa ao trato respiratório de qualquer um. É uma total ignorância, vistoo que tudo irá feder de novo. Enfim, estou numa academia, não? Sigamos com a troca da vestimenta de trabalho por algo para suar.
Complemento do parágrafo: Que Deus me faça uma mosca, e me deixe entrar algumas vezes no vestiário feminino, sentir os aromas, ver as curvas...ah, eu te serei eternamente grato!

Taras a parte, faço o meu papel. Talvez por ser tímido e introspectivo posso ser confudido como arrogante. Não sou. Ponho meu IPod (sou um burguês, não?) e parto para a guerra. Logo percebo que sou um dos únicos que malham quietos. É verdade, ali temos um esquadrão social, ou de socialites, seja qual for, que fazem de tudo por lá, menos exercícios. Sinto uma tensão sexual no ar, gente se seduzindo, numa mistura heterogênea de músculos e grandes rabos, que entre uns goles e outros no suplemento protéico, marcam seus encontros carnais na maior cara de pau. É uma degustação sem fim, eu penso. Uma distribuição de amostras grátis, onde os olhares e trejeitos comandam a sacangem que potencialmente rolará. Porra, boiei nessa! Exercicios são secundários, o povo está ali mesmo é pra dar e comer.

O inocentão aqui está preocupado em viver muito. Eu tenho um apetite voraz, como bem e de tudo, regado a um bom beberico num néctar etílico. Se não fossem os pesos, as corridinhas, alem de boas nadadas, estaria gordo e morto. Mas percebo que como espécie extinta, sou meio que um exemplar exótico naquela biosfera. Fico lá suando feito um porco (porco sua?), esbaforido, cansado e sedento, e os bonitões passando a vara em tudo que se move? Bem, sempre fui meio tolo mesmo. Não se pode esquecer que por lá estão os maiores exemplos de preocupação com a forma física e beleza de toda a variedade humana: Os homossexuais. Sim, academias são habitat naturais deles, como quiserem chamar, algo como baitolas, pederastas, bichonas, veados etc. Aí a coisa fica estranha mesmo, pois qualquer sinal de dois caras, emperequitados e cheirosos, batendo papo, um medindo os atributos do outro, passa a ser, para mim, um casal em formação, que em breve se desfará depois que um ou outro deflorarem seus retos eruptos.

Academias são cercadas de espelhos, por onde quer que você ande, seu reflexo o acompanhará. É como um testemunho constante de quão horrendo seu corpo está e como você precisa melhorar. A vida financeira da empresa depende disso, da sua feiúra. Claro, a sua persistência é a alma do negócio. Dane-se a sua pressão arterial controlada, danem-se as melhoras nas atividades do dia a dia, você quer ficar bonito e atrair o sexo oposto. É nesse filão que a academia lucra. Lá, também, após a melhora do seu aspecto, o sexo oposto, ou não, se aproxima de você e sua felicidade se completa. Estou bonito, fodo muito e minha teia social está completa. Uma pena não terem criado ainda o espelho da alma. Aquele espelho que olha o seu interior, os seus medos, inseguranças e sonhos. Engraçado, de repente a exposição física perde a graça quando as nossas internalidades são expostas, numa academia. Será que alguém pergunta? Quem é aquele cara meio grande, desajeitado, com roupas cafonas, que malha ali quietinho, de fones no ouvido, e vai embora? Será que ele tem alguma coisa a esconder, ou não? Será que é gay, hetero, louco, deprimido, alegre ou somente estranho mesmo? Acho que não. Eu sei que observo. Não só a mim, mas aos outros e a busca incessante pelo belo, o fetiche pela beleza e as mazelas que isso causa à nosssa sociedade atual. Essa idéia de que posso ser um miserável desprezível, mas belo, e ser um colírio para a sociedade é uma puta sacanagem. Discordo de Dostoiévski, a beleza não salvará o mundo, só mascarará a podridão por baixo das coisas e das pessoas.

Malho pela endorfina, malho pela saúde, malho para ver o futuro. Qualquer motivo além disso é, no mínimo, a homologação de um processo de bestialização do ser humano já iniciado pela religião a centenas de anos atrás e hoje ajudado pela mídia e sua supervalorização da beleza desenfreada e sem limites.

Um comentário:

  1. Luciano,

    Eu concordo com você, mas se eu fosse você, eu não ficaria preocupado com essa indústria da beleza, pois eles estão se enganando a si próprios.É uma forma de mostrar a sociedade algo que eles não são.Parabéns pelo seu lado observador!!

    bjs,

    Marli

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