segunda-feira, 31 de maio de 2010

Sobre A Vaidade Feminina

Minha avó, já falecida, sempre dizia querer ter nascido homem. Era a voz de uma mulher que havia vivido num período difícil, num local estranho à felicidade feminina. Há setenta e tantos anos atrás, não havia muito do que se regozijar ao se descobrir fêmea. Pulando décadas no tempo, para não perder o objetivo do texto, a mulherada conquistou tudo, a torto e direito, e hoje é notável o orgulho que elas ostentam na sociedade, ao se demonstrarem altivas em muitas situações onde, antigamente, se esconderiam ou se absteriam de dar a cara pra "bater".

O objeto desta missiva é a vaidade feminina. Roupas, cabelos, unhas, sapatos, perfumes, lingeries, maquiagem, cintas etc. Para algumas mulheres pode ser motivo de riso, mas para a maioria são itens importantes para que, ao menos, possam por pés para fora de casa. Sou um mero trabalhador do centro da minha cidade, e lá trabalham muitas, mas muitas mulheres. Muitos homens podem somente admirar dotes, ou protuberâncias, mas alguns, como eu, olham além. Observo e me antento ao fato de muitas virem ao trabalho de salto alto. Eu não sou nenhum conhecedor de moda, na verdade a ignoro veementemente, entretanto não posso deixar de sentir pena por aquelas doces criaturas. São distâncias grandes a serem percorridas à pé para se andar por aí de salto. Será que compensa ter dores lancinantes nas articulações e coluna para se andar sempre "empinada"? É complicado dizer, mas acredito haver situações mais condizentes com o uso desta peça de vestuário tais como festas, saídas a restaurantes, teatros, cinema e até mesmo para dançar. Mas ao trabalho não se deveria usar algo mais confortável?

É fato que as mulheres do passado também foram escravas desta vaidade. Há séculos as mulheres, de alguma forma, sofrem para exibir o que têm de melhor, e os homens sofrem para não passar do limite sociável com as mesmas. No século XVIII era comum as moças da alta sociedade usarem cintas apertadíssimas para moldar suas cinturas. Sabe-se que esta prática era tão nociva, que em casos agudos realocava os orgãos da porção inferior do tronco, e os esmagava para a região intestinal, causando desconforto e dores terríveis. Perucas também eram parte da indumentária do período, mais pelo fato de os cabelos das pessoas à época não terem a mesma saúde das pessoas de hoje, ou seja, eram cabelos falhos e mau cheirosos. Ainda neste período surgiu a figura do Marquês de Sade, que submetia suas mulheres a uma miríade de torturas e pequenas atrocidades em prol da sua sexualidade, dentre elas o uso de roupas e acessórios que causavam dor para elas, e prazer para ambos. Freud explica! Ou não.

Com o tempo, novas torturas para melhorar a aparência surgiram, e nos remetem aos dias de hoje novamente. Além do salto, quero pontuar algumas outras peças do vestuário, que atiçam os machos, mas que devem ser terríveis para quem usa. Quero pontuar sobre o aperto das calças. Vivemos num país onde, felizmente para mim, as mulheres têm proporções "Boterísticas", não que sejam gordas e sim portentosas. Diferentemente do físico das francesas, por exemplo, que esbanjam magreza excessiva, as brasileiras são sensualmente generosas nos quadris e coxas. Eu pergunto, é possível que uma mulher consiga conforto em suas partes íntimas e liberdade de movimentos usando um jeans apertadíssimo, ou melhor, dois números abaixo do correto, para ela, além de estar de salto? Pois bem, o centro da minha cidade está abarrotado de mulheres em calças apertadas e saltos altos. Será que elas trabalham felizes e confortavelmente? Duvido muito. O pior é que para usar uma calça tão apertada, precisam usar calcinhas menores ainda, pois é uma gafe modística que as mesmas fiquem marcando na calça como "calçolas" da vovó. Ou seja, é o sonho de qualquer Ginecologista, e um alento à indústria farmacêutica que produz antifungicidas íntimos. Não se esqueçam que nosso país é quente demais, quase equatorial. É só juntar um fato no outro, e concordarão com a idéia.

A ditadura da beleza, no Brasil, é algo irrascível, ainda mais numa cidade litorânea como a nossa, onde os atributos de beleza são de longe mais valorizados que coisas mais importantes num ser humano. É natural. Entretanto, não se deve jamais se perder a ótica crítica mediante a uma situação onde se perecebe o sofrimento humano em prol de algo vazio, inócuo. A pergunta que não quer calar é: esta mulher vaidosa quer seduzir? Ou melhor, seduzir quem? Na minha modesta opinião, ninguém. É muita inocência do homem acreditar que aquela mulher está ali, linda, cheirosa, curvilínea para o deleite do seus olhos. Não está. Experimente assediar uma estranha na rua baseado nas roupinhas dela. É mão na cara, com certeza. Na verdade, é como uma competição, ela está assim para "peitar", literalmente, a mulherada em geral. Ela quer se destacar perante as suas "concorrentes". Até mesmo a atenção masculina é objeto de disputa, e aquela mulher que é mais assediada, por assim dizer, é normalmente a mais odiada pelas outras. A ciência explica. Mulheres, apesar de não terem mais hormônios masculinos que os homens, obviamente, são mais chegadas num conflito pacífico, daqueles que não rola disputa física (por vezes pode ocorrer, sim), mas a coisa toda ocorre nas entrelinhas, nos detalhes, onde homens preocupados demais com o sexo tendem a ignorar. Até mesmo porque nós somos um gênero mais unido, respeitamos mais nosso semelhante congênere. Elas gostam de guerras silenciosas, mas acredito serem mais cruéis em seus jogos.

É, portanto, algo natural que mulheres de um país como o nosso, rodeado por beleza corporal tão latente, exibam este atributo, a beleza, como seu maior instrumento de destaque dentre suas rivais. A indústria sabe disso e trabalha por elas, quase nada neste meio é feito para homens. O Brasil goza de uma clima perfeito para que as mulheres usem as roupas que desejarem, e que não se escondam atrás de casacos e guarda chuvas, como tanto pude presenciar em países da Europa, frios e nublados. Neste interim, as fêmeas se degladeiam como podem. Sofrem, é verdade, mas para nosso deleite, expõe aquilo que deveriam esconder, aquilo que têm de mais íntimo. Sofrem em momentos que deveriam prezar a concentração, a boa produtividade. Se deprimem, quando não atingem seu ideal de Vênus, comem para suprir esta lacuna. Se deprimem, novamente, por estarem fora de forma. Veem as atrizes da televisão, igualmente exageradamente belas, não se acham tão belas assim e se deprimem de novo. Descontam em mais chocolates, fazem academia, mostram mais as curvas, elevam mais o salto, põem uma cinta mais apertada, exageram na maquilagem, dizem não querer filhos, eles engordam (MEU DEUS!). Ganham calos nos pés, vão no podólogo, ganham rugas, usam botox, fazem Lipoaspiração, usam biquinis menores, ficam assadas nas pernas, se depilam, usam creme antiacne, antirugas, antihomens, antitudo. Viram bissexuais, ouvem Ana Carolina, Simone, ficam amigas de um homem gay, eles as derrubam - não sabem? - Eles sonham que os machos virem putos tornando as mulheres mais feias. Voltam a ficar hetero, caem na balada, transam com um estranho, voltam pra casa, se resignam e envelhecem sem traço qualquer de dignidade. É a conta da vaidade que o tempo cobra...

E não é que minha avó tinha razão? Ainda bem que nasci homem! Só me preocupo se meu time vai ganhar ou se meu carro tem arranhões.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo seu texto sobre as mulheres, eu também acredito que a vaidade seja o nosso maior defeito!!

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